A MORTE DE MARK LINKOUS, DO SPARKLEHORSE

É triste, muito triste. Triste demais. A morte de alguém que aprendemos a admirar, mesmo sem conhecer, por causa de sua obra, sempre choca. Ainda mais quando se trata de um suicídio.

Mark Linkous era o cabeça principal do Sparklehorse.  Não haverá mais Sparklehorse, portanto.

Em nota, a família deu a notícia:  “É com grande tristeza que dividimos a notícia que nosso querido amigo e membro da família, Mark Linkous, tirou sua vida hoje (ontem). Estamos agradecidos pelos momentos conosco e levaremos Mark sempre em nossos corações. Que sua jornada seja em paz, feliz e livre. Há um céu e uma estrela pra você”.

Em 1996, num show em Londres, Mark já havia tentado algo, embora naquela ocasião todos achassem ter sido um acidente. Ele havia tomado um coquetel de antidepressivos.

O último disco do Sparklehorse foi “Dreamt For Lights Years In The Belly Of A Mountain”, de 2006. Mas Linkous era um cara ativo. Colaborou após disso com PJ Harvey, Tom Waits e muitos outros. Nesse ano, saiu o álbum gravado ano passado (um trabalho de quase três anos), em parceria com o Danger Mouse, “Dark Night Of The Soul”.

É triste e chocante. Não vai mais haver Sparklehorse…

Ficamos, pois, com a música. Veja a performance dele na Current, com “Saturday”, em 2007, e depois o clipe feito por um fã para “It’s A Wonderful Life”, título agora mais irônico pra uma das melhores músicas da banda:

Acredita-se que ele tivesse quarenta e poucos anos. Não se sabe ao certo.

A Singer Of Songs (ou Lieve Scheerlinck) escreveu belas palavras sobre Mark Linkous, que traduzo aqui:

“Era verão, uma pouco usual tarde quente para uma pequena aldeia na Bélgica. Uma abelha zumbia contra o vidro da janela. O cortador de grama do vizinho cantarolando em algum lugar distante. E o cheiro do sol na pele. Deitei na cama, ainda suado. Eu havia corrido à cidade de bicicleta, comprado o álbum, voltado correndo pra casa casa de novo e pro meu quarto. E então ouvi, pela primeira vez. ‘The only things I really need, is water, a gun and rabbits…’. ‘Saint Mary’ foi a música. Sparklehorse, a banda. Mark Linkous, o homem. E o vizinho parou de roçada. A abelha encontrou o seu caminho para fora. Respirei fundo e senti o sol.

“Ainda era de madrugada quando o telefone tocou. Era um amigo (…): ‘feche as janelas, fale aos amigos e familiares para deixá-lo sozinho. Procure ficar em silêncio. Mark Linkous tomou sua vida… Maldição.’

“Anos mais tarde. Em Barcelona já. Mais velhos. Sentar em uma noite quente como a maioria daqui. Rachaduras nos instrumentos. Pesadas melodias. O novo álbum é como um velho amigo, vindo para uma visita depois de muitos anos de ausência. Uma palavra, um olhar, uma nota e você se sente entre os seus. ‘Your face is like watching flowers growing in fast motion’, compartilhei as palavras com alguém muito próximo. Sentamo-nos e escutamos e varremos o suor uns dos outros. E cantarolamos.

“É domingo hoje. Céu nublado e frio. E silêncio. Nosso exército perdeu um dos seus maiores heróis de guerra.

“Eu estou tão de saco cheio de despedidas. Realmente.

“Que descanse em paz…”

O Radiohead também mandou seu recado sobre a notícia. O guitarrista Colin Greenwood disse: “Fiquei muito triste quando fiquei sabendo da morte dele. Ele e sua banda saíram em turnê conosco pela Europa, no começo de ‘Ok, Computer’, e aquelas foram grandes noites (…) Seus primeiros dois discos foram muito importantes pra mim e eu carreguei sua música por toda a minha vida e a dos meus amigos também. (…) Mark escreveu a tocou uma bela obra e eu tenho muita sorte de ter convivido com ele. descanse em paz”.

Em 1998, ambas as bandas regravaram juntas o clássico do Pink Floyd, “Wish You Were Here”, “uma experiência magnífica”, lembrou Thom Yorke à época. A versão ficou, sim, grandiosa. Ouça:

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