FIREFRIEND – DEATH’N’SOUND

Yury Hermuche acaba de lançar seu terceiro livro, “Anti-Heróis E Aspirinas”, “um passeio pelo fim do mundo”, como ele mesmo define.

Mas Yury também é guitarrista da FireFriend, uma das bandas mais impressionantes em atividade no Brasil. Seu mais recente disco, “Witch Tales”, é fácil um dos trabalhos mais parrudos que o país produziu em 2013 (leia a resenha aqui).

Daí, juntou-se a fome com a vontade de comer e o FireFriend musicou o novo livro de Yury, gerando o arrebatador “Death’N’Sound”, um disco de sete músicas, tão enigmático quanto a narrativa do livro.

Produzido e gravado pela banda, o disco é realmente uma perfeita ambientação sonora pra leitura: “gravamos esse disco pra servir de trilha-sonora pro livro; a banda leu o livro, entrou no estúdio, apertou o REC e tocou essas músicas pela primeira e última vez”, diz Yury, em conversa com o Floga-se.

Sim, foi tudo de improviso, numa tacada só. Julia Grassetti (baixo), Caca Amaral (bateria), Juliana R (teclado) e Yury Hermuche (guitarra) criaram um recorte indescritível na sua discografia, com climas sonoros sublimes (que coisa excepcional é “The Forest”!), intercalados com ruídos de guitarra, avanços de bateria e baixo cortados por notas esticadas por pedais.

É um disco totalmente instrumental, sinistro, incômodo em algumas partes e um legítimo convite à leitura da obra.

“O livro fala de muitas coisas. Pela primeira vez decidi colocar também umas imagens pra ampliar a história. Achei que uma trilha-sonora seria uma combinação perfeita. No final das contas, não há motivo nenhum pra não fazer isso todo o tempo: juntar as pontas e sugerir ainda mais coisas”, diz Yury, que completa, sobre o casamento literatura-música: “tocar é insuperável, escrever é muito sério, combinar as duas coisas é perfeito”.

Sendo improvisos, “algumas das músicas vão entrar no nosso set dos shows do próximo ano, mas estamos preparando um novo disco de canções, as duas linhas se misturam perfeitamente”, revela.

A masterização é de Alan Pinho e você pode baixar de graça o disco clicando aqui. Pra comprar o livro, que é totalmente independente, feito na raça pelo autor, é só clicar aqui.

Abaixo, a lista de músicas, cujos títulos são referências a personagens e acontecimentos do livro. E logo a seguir, um trecho pra leitura. A narrativa em primeira pessoa lembra um bocado o ritmo dos filmes noir, aludindo a climas como o de “Blade Runner”, por exemplo (mais do que o cinema dos ’40).

1. Fukushima
2. Silver Girl
3. I Met God, She’s Black
4. Death’n’Sound
5. Yucca Flat
6. The Forest
7. Infrared Silence

Trecho de “Anti-Heróis E Aspirinas”:

“Volto para casa caminhando. Tentando recompor quem eu sou. Me entrego à rua, à cidade, à noite. Como foi que perdemos a cidade? Que pernas. Irresistível aquele olhar. Volto pelas mesmas ruas de sempre. De alguma forma, esses dois mundos estão intimamente conectados. O cinema. Minha casa. Se equilibram mutualmente. Ambos me cercam. Isso. Ambos me cercam, bloqueiam minha mente. São parte de uma mesma máquina. A realidade não é só a parede que parece me proteger; ela é também o endereço onde sou guardado. Não posso ver através dela. Não posso ver realmente quando estou dentro de casa, a não ser através de telas. Mas os filmes me bloqueiam. Aniquilam minha imaginação. Todas as telas.

“Eu saio do cinema frustrado, mas a aspirina faz efeito e aos poucos vou me livrando de tudo aquilo. Continuo confuso por algum tempo. Sempre fico assim após o filme. Aquilo se mistura ao mundo. Já não sei mais o que é possível. Na rua, meu coração demora a bater normalmente, mas os sons da cidade me despertam. Eu respiro fundo. Estou vivo. Vivo. Eu me chamo Yury. Gosto de andar sozinho. Encontrar a rua. E os vazios”.

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