GIMU – THE REALM OF HIGHER THINGS

gimu

Que acompanha o trabalho, sabe o que esperar de uma obra do Gilmar Monte, vulgo Gimu: paisagens sonoras densas, que variam de inquietantes a reconfortantes, de hipnóticas a alertas, e climas que remetem ao profundo íntimo do ouvinte.

Em “The Realm Of Higher Things”, quinto disco pelo selo inglês The Committee For Sonic Research, até parece que estamos no mesmo caminho. Mas quando começa “Midnight Masses” (e especialmente “Spanning The Chasm”), batidas industriais e ruídos nos mostram o quanto Gimu foi afetado por esse 2020 tenso e devastador.

Não é um período fácil proi mundo, que passa por uma prova de humanidade e tem, em grande parte, falhado miseravelmente.

Se as trilhas sonoras que Gimu compõe normalmente criam climas pra se ficar passivo, em observação, enquanto as coisas acontecem, aqui ele parece sugerir uma certa atividade, ou ação, ou reação. Um estado de alerta. O ouvinte precisa estar de prontidão pra atacar. É uma música de ataque, ou um clima de ataque.

Um Gimu que parece raivoso, elétrico. Nesse seu “reino das coisas superiores”, nada é tranquilo e apaziguador. É atrito e uma inescapável posição de provocação.

Curioso, porque em “Cante Ao Senhor, Música Na Adoração Divina” (Sing To The Lord: Music In Divine Worship, da conferências dos bispos católicos de 2007), “Deus concedeu a seu povo o dom da música. Deus habita em cada pessoa humana, no lugar onde a música tem sua origem. De fato, Deus, o dador de canções, está presente sempre que seu povo canta seus louvores. Um grito do fundo do nosso ser, a música é uma forma de Deus nos conduzir ao reino das coisas mais elevadas. Como diz Santo Agostinho, ‘Cantar é pra quem ama’. A música é, portanto, um sinal do amor de Deus por nós e do nosso amor por ele. Nesse sentido, é muito pessoal. Mas, a menos que a música soe, não é música e, sempre que soa, é acessível a outras pessoas. Por sua própria natureza, a canção tem uma dimensão individual e comunitária”.

Por “divino” entenda o que sua crença entender. É possível entender por “divino” a própria natureza (ou a “natureza das coisas”). Nesse sentido, não há muito o que louvar.

A humanidade, o ser humano como projeto, tem falhado quando mais se precisa. O clamor por uma individualidade sagrada acima do bem social é o que tem regido o mundo. Nessa pandemia, a ideia se agravou (há quem se ache no “direito” de não tomar vacina, em nome de uma pretensa liberdade individual, e, consequentemente, sair contaminando por aí). Esquecem que a individualidade extrema vale apenas pra ermitões.

Ao ver esse fracasso, parece que os deuses se irritaram – e Gimu criou a trilha sonora dessa cena.

O lançamento é de 20 de novembro de 2020, pelas mãos do The Committee For Sonic Research.

Todas a músicas foram compostas por Gimu (que também fez a capa em vermelho de sangue), com masterização de Dental Drill.

01. Stupor
02. Higher Things
03. Midnight Masses
04. Anti-Existence
05. Suspended Animation
06. Spanning The Chasm
07. The Body The Boat
08. Ageing Aches
09. If Tomorrow Finds Me Alive
10. Burnt Irises

gimu-the-realm-of-higher-things

Leia mais:

Comentários

comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.