JÚLIO FERRAZ – LAMPEJOS (EP)

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Júlio Ferraz aproveitou o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19 para escrever, produzir, gravar. Sem poder se encontrar os músicos da banda, Ferraz não conseguiu terminar as gravações do novo álbum que pretendia lançar em maio de 2020. Nesse cenário de solidão musical, surgiu “Lampejos”, o EP de quatro música que o ele lançou no derradeiro dia de abril.

“Eu não me lembro bem o dia, mas eu já estava dentro de casa quando soube que era necessário não sair, e que a partir daquele instante as coisas poderiam piorar muito mais, pois existiam inúmeras pessoas sem acreditar, inúmeras pessoas alienadas e um reforço ainda maior do presidente da nação em diminuir a gravidade do momento pra que as pessoas não deixassem de sair e, assim, não deixassem de trabalhar e de movimentar a economia, um golpe sujo que poderia aumentar rapidamente os números de infectados pela Covid-19 no país”, escreveu em tom de desabafo em uma rede social.

“E eu, que aos 32 anos já tinha a fragilidade de um organismo com sequelas de um tratamento quimioterápico que vivi em 2013, me vi ainda mais na responsabilidade de estar trancado, por minha vida e pelas demais que poderiam estar a minha volta. E assim estou, isolado junto a minha parceira. Foi então que resolvi, através de lives transmitidas pela web, abraçar todas as pessoas que acompanhavam a minha trajetória e, ao mesmo tempo, dar mais uma opção aqueles que estavam em casa, não só cantando, mas conversando sobre o assunto pra quem sabe ali trazer alguma consciência dentro do meu alcance de pessoas. A essa altura, eu já havia adiado o lançamento do meu novo disco, pois a banda não poderia se encontrar pra gravar, até ai, eu não sabia nem quais eram as possibilidades”, seguiu.

E continuou: “então, Marcelo Froes me surpreende com um convite pra um bate-papo ao vivo através do Instagram da gravadora Discobertas e, durante a transmissão, falamos sobre um EP de inéditas, isso me deu a motivação que faltava pra trabalhar algo novo, e resolvi gravar, mesmo que fazendo tudo sozinho. Acaba por ser um trabalho muito puro, muito particular e que, no futuro, marcará um momento muito singular de minha vida”.

É exatamente o que “Lampejos” é, particular. Singelo e particular. O violão afinadíssimo, como um exercício num dia frio, isolado, sem movimento. Quatro canções, quatro despejos.

“O álbum registra um eu isolado com pensamentos gritando pro mundo, e um mundo que atravessava as paredes através do som dos teimosos, do som dos arrependidos gritando com suas panelas das janelas dos prédios, mas também o som dos que não tinham opção e nem teto. O barulho da dor se misturava ao som de uma esperança silenciosa, do estado de prece, que eu busco manter em meu espírito. Estamos no meio do olho do furacão e há muito a acontecer, mas sigo a cumprir a promessa de fazer música até o meu último dia, claro, desejo que esse dia leve ainda muitos anos pra acontecer, mas, que quando vier, venha em um momento em que o mundo viva mais amor por tudo e por todos”, concluiu.

É preciso ser muito criativo pra falar mais do que isso mesmo que o artista quis dizer. “Lampejos” é um título até meio forçadamente modesto sobre o esforço que deve ter sido falar o que ele precisava falar.

Saiu bonito, como se uma voz cortada pelo isolamento compulsório precisasse encontrar um ouvindo em algum outro lugar. Um coração, uma mente.

1. Perpétuo
2. Epílogo Nº 2
3. Quadros Mortos
4. Moldura Velha

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