KINGS OF LEON E AS CRIPTOMOEDAS

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O Kings Of Leon deu um passo em um terreno desconhecido pra maioria dos seus fãs (não dá pra dizer “todos os fãs”, mas deve chegar bem perto disso), ao se tornar a primeira banda a lançar um álbum com pagamento em criptomoeda.

Em 5 de março de 2021, o quarteto estadunidense lançou “When You See Yourself”, seu oitavo disco de estúdio, como um token não-fungível, ou NFT.

De acordo com o Tecnoblog, o NFT (Non-Fungible Tokens) é uma tecnologia à qual se for usada o “significado de token como símbolo e aplicarmos o conceito de fungibilidade (um atributo de bens adquiridos que podem ser substituídos por outros similares), podemos entender o NFT como um bem diferenciado, contendo dados que os tornam únicos”. Em outras palavras, não são substituíveis.

A natureza de um NFT significa que o token só pode ser usado como uma moeda dentro de seu próprio ecossistema exclusivo – no caso do Kings Of Leon, pra ofertas em ingressos de shows, mercadorias e tudo aquilo que pode ser comercializável pela banda. Parece bem simples, mas não é.

“When You See Yourself” será o primeiro de três lançamentos simbólicos de Kings Of Leon, e será capaz de comercializar mais ofertas exclusivas, incluindo assentos na primeira fila pra toda a vida em shows, por exemplo.

A Night After Night e desenvolveu os tokens com a YellowHeart – uma especialista em blockchain (vá aqui ao site).

Blockchain, é preciso dizer, é a tecnologia de criptografia que sustenta o funcionamento das criptomoedas. Tem sido usado por muitos artistas como uma forma de garantir a procedência e a autenticidade, mas esta é a primeira vez que é usado em conjunto com um NFT, desta forma.

Embora a obra musical esteja disponível em lojas normais, sejam físicas ou não, incluindo as plataformas mais conhecidas de streaming, apenas aqueles que compram através do YellowHeart terão acesso à versão de 50 ETH (50 Ethereum) – as vendas do álbum rolaram na plataforma OpenSea.

A forma NFT do disco só estará disponível durante um período de duas semanas e vem com mídia aprimorada, vinil de edição limitada e downloads digitais. Após esse período, as versões NFT em circulação tornam-se itens colecionáveis ​​negociáveis. Literalmente, um ativo.

Segundo o fundador do YellowHeart, Josh Katz, o projeto do Kings Of Leon pode “moldar o futuro da indústria musical”, alegando que os artistas foram atingidos financeiramente em uma era digital que viu “a desvalorização da música”. “A música se tornou ótima em vender tudo, exceto música”, disse.

“São estágios iniciais, mas no futuro, acho que será assim que as pessoas lançarão suas faixas: quando eles vendem 100.000 por um dólar cada, eles apenas ganham US$ 100.000”; ou seja, é nada.

O projeto de Katz com o Kings Of Leon também verá a ‘cunhagem’ de dezoito bilhetes dourados – cada um um NFT em posse de quem adquirir. Seis desses “bilhetes dourados” vão a leilão. Os outros doze ficam guardadinhos, se valorizando.

Esses “bilhetes dourados” são também uma chave que desbloqueia um ingresso de show ao vivo. O proprietário do NFT tem a garantia de quatro assentos na primeira fila – pra toda a vida – durante qualquer excursão do Kings Of Leon. Mas isso não é tudo – um ingresso NFT também oferece um motorista, concierge, um encontro pré-show com o grupo, acesso ao lounge VIP e todos os itens de mercadoria disponíveis.

Se está dando certo? Bem, a banda conseguiu até aqui algo entre US$ 1,45 milhões e US$ 2 milhões com esse tipo de venda. Quer dizer, 766,4 ETH, que é a sigla de Ethereum, a criptomoeda em questão. O valor da ETH flutua e pode subir ou cair.

Representantes da banda disseram à Rolling Stone que US$ 600 mil em receita estavam indo pro Crew Nation Fund. Esse é o fundo da Live Nation pra apoiar trabalhadores de música ao vivo afetadas pela pandemia.

As vendas do leilão foram estendidas tiveram que ser ampliadas por mais um dia, pro dia 20 de março.

O vinil não estará disponíveis pra compra até 19 de março. As edições não vendidas do token Kings Of Leon serão “queimadas” no final do leilão. Isso aumenta a escassez de tokens comprados pelos fãs, subindo o valor deles.

Vale lembrar que a inovação do Kings Of Leon é pra bandas “de guitarras”, porque o DJ 3LAU já havia inaugurado a ideia antes, com um festival de música. Ele conseguiu quebrar recordes de criptografia ao levantar mais de US$ 11 milhões em menos de vinte e quatro horas. 3Lau leiloou uma coleção de trinta e três NFTs (quinze a mais que o Kings Of Leon) que incluía a comemoração do terceiro aniversário de seu álbum “Ultraviolet”. Essa coleção NFT incluía música inédita, uma canção personalizada escrita por 3LAU e arte personalizada.

A diferença é que os fãs de 3LAU estão familiarizados com a cena criptográfica, enquanto os fãs de Kings Of Leon precisaram de uma introdução. “Desbravar novos caminhos nunca é fácil; se fosse, não seria inovador”, escreveu a banda. “Muitos fãs são compradores de NFT pela primeira vez e estão passando por uma curva de aprendizado”.

O NFT mais caro da coleção Kings Of Leon é “Golden Ticket: Bandit # 2 Wave”. Inclui trechos de áudio do álbum “When You See Yourself” e do single principal, “The Bandit”. Custava 89 ETH, ou cerca de US$ 157 mil na cotação de uma semana atrás. O preço de reserva pra um dos NFTs do Golden Ticket foi fixado em 50 ETH.

A título de curiosidade, um ETH é o equivalente a algo por volta de R$ 10.084, na cotação do dia 11 de março de 2021 – mas, como todo ativo, a cotação sobre e a cotação baixa, ao gosto do mercado, e a volatilidade é enorme (a afirmação de que a banda ganhou até agora algo entre US$ 1,45 milhões e US$ 2 milhões é justamente por não se conseguir determinar exatamente, por conta da volatilidade, quanto valem 776,4 ETH).

Os fãs de música cripto-nativa há muito discutem a economia Ethereum como uma solução potencial pros problemas da indústria da música. O modelo tradicional pra lançamentos de música é carregado com intermediários, e o artista normalmente é pago por último, depois de toda cadeia e depende bastante dos acordos realizado, acordos que são baseados em leis quase centenárias.

Os royalties do streaming, por exemplo, são normalmente pagos por um órgão de arrecadação de receitas no final do ano e normalmente equivalem a apenas frações de um centavo por execução. Nunca foi algo realmente justo (algo que o Soundcloud está tentando resolver, bem como o Bandcamp, de outra maneira).

Os NFTs podem capacitar os criadores e artistas, permitindo-lhes vender seu trabalho em troca de pagamentos instantâneos em criptomoeda. Mas há muito risco envolvido ainda, por ser um ativo bastante volátil, embora esse seja um mercado cada vez mais assegurado por instituições sólidas.

A tecnologia pegou primeiro no mundo da arte digital, mas os NFTs podem se acomodar no mundo da música. Ao contrário dos tokens como Boitcoin e LINK, cada NFT é único. Isso significa que eles podem fornecer escassez comprovada e propriedade de um determinado ativo. O movimento NFT centra-se no Ethereum, que atua como um ativo de reserva. Casas de leilão como OpenSea (usada pelo Kings Of Leon) e Rarible vendem NFTs em troca de ETH.

Existe a plataforma Nifty Gateway, exclusiva pro mundo da arte. Grimes e Deadmau5 já deram as caras por lá e ganharam uma boa grana.

Como lembra o site PlayBPM, “alguns anos atrás, a ideia de colecionadores comprando peças de arte cunhadas digitalmente no valor de milhares e às vezes até milhões de dólares teria parecido ridícula. No entanto, como o conforto e o interesse do público pela tecnologia de blockchain só aumentaram, os influenciadores culturais – especialmente os músicos – começaram a se aglomerar pra abraçar a tendência em massa”. E é essa porta que se escancara quando uma banda como Kings Of Leon entra no jogo – até porque a Claire Elise Boucher (a Grimes) entrar nessa era mais do que esperado, afinal ela só é esposa do trialiardário (em dólares e em criptomoedas) Elon Musk.

“É nesse ponto que reside a utilidade chave dos NFTs. Pela primeira vez, você pode tornar a música parte de um objetivo de arte. É muito difícil inserir música nativamente em uma pintura ou escultura, mas com um NFT a música pode realmente ser uma parte significativa da experiência pro consumidor”, escreve e informa o PlayBPM. A Grimes arrecadou com sua coleção de arte mitológica “War Nymph” o equivalente a quase US$ 6 milhões.

O que se espera é que a entrada do Kings Of Leon possa atrair outros artistas. Mas há questões a se levantar, como a a dificuldade de popularização da ferramenta, em vista dos altos preços. É colocar a música ao nível de quadros e pintura, cujas negociações, em leilões ou transações individuais alcançam preços inacessíveis à maioria da população mundial.

Além dos preços praticados, há a desconfiança geral com as criptomoedas, um ativo intangível, e a possibilidade ainda geral de conseguir a música em si (a obra musical) por quase valor nenhum – seja via plataforma de streaming, seja via pirataria ainda bastante atuante. Associar a música como uma obra de arte é uma saída que até pode render bastante dinheiro aos artista, mas é pra poucos artistas e poucos fãs.

01. When You See Yourself, Are You Far Away
02. The Bandit
03. 100,000 People
04. Stormy Weather
05. A Wave
06. Golden Restless Age
07. Time In Disguise
08. Supermarket
09. Claire And Eddie
10. Echoing
11. Fairytale

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