RESENHA: SKULLCRUSHER – QUIET THE ROOM

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Você olha pra Helen Ballentine, natural de Tarrytown, um condado pacato e residencial a poucos quilômetros de Manhattan, centro da fervilhante Nova Iorque, e desconfia que a moça possa viver em sociedade. Parece filme de terror sua imagem de figura campestre, de pinturas de cinco séculos atrás: uma moça bonita, de olhos arregalados, aparentemente pacata, que tem no seu passado ou no seu íntimo memórias das piores atrocidades.

Mas Ballentine, ainda bem, não é nada disso. Se inspirar um roteirista pouco imaginativo, talvez leve a um filme adolescente de horror que divirta numa madrugada qualquer. Por ora, a trituradora de crânios é apenas no nome, estimulando imagens e sons e que operam perfeitamente, especialmente nas madrugadas. A música de Ballentine é gélida, mas não como a morte, longe disso. É um indie folk, pra gente encapsular em algum lugar, que acalma, que coloca pra relaxar, que apaixona. Ela está nessa divisa ou proximidade de toda a loucura, como Tarrytown e Mount Vernon (onde morou quando criança) estão de Manhattan, mesmo que tenha fincado residência numa ensolarada e pulsante (por outro motivo) Califórnia.

Ballentine não é macabra, como alguns escreveram por aí. Mas é sombria. “Enquanto escrevia o álbum no verão de 2021, Ballentine se inspirou em sua casa de infância em Mount Vernon, NY. O que ela pretendia capturar em ‘Quiet The Room’ não era a inocência da infância, como tantas vezes é retratada, mas a intensa complexidade dela”, escreveu na apresentação deste que é o seu primeiro disco. “Passado e presente se fundem neste espaço onírico misturado com elementos de fantasia, magia e mistério. Musicalmente, isso se traduz em um som que parece pesado e efêmero ao mesmo tempo, como um lapso de tempo da corrosão do cobre”.

Percebe-se que há uma certa incerteza sobre a figura de Ballentine e isso joga a favor do ouvinte ao degustar essas canções. Afinal, quem poderia explicar e traduzir tudo isso? Quem é ela? A do violão dedilhado e lugar-comum de “Could It Be The Way I Look At Everything?” e “Outsinde, Playing”, ou a sonhadora de “Pass Through Me”?

Tal ambientação é derivada da simplicidade, já que a maioria das músicas é resultado de violão, violino, piano e voz. Há muito pouco a mais do que isso. O clima bucólico ajuda na dúvida e no sonho, tanto quanto no sombrio ambiente criado. Letras e títulos como “Lullaby In February” contribuem pro todo (especialmente o final dela). E tem a voz de Ballentine, mais até do que seu rosto em permanente desfoque, enevoado. Essa voz é como de uma garota solitária cantando, pedindo ajuda, contando histórias, brincando – as referências a cenas que precedem o macabro se sucedem, mas é só impressão.

“As palavras ainda estão na sua língua / Elas silenciam a sala”, ela canta na faixa de abertura, “They Quiet The Room”.

“Quiet The Room” examina a juventude num processo que é como esmiuçar o processo de crescimento e os traumas sendo construídos. Mas são memórias, e memórias tendem a ser distorcidas, se afastando dos fatos e criando ambientes imaginários, que muitas vezes podem aprofundar ou resgatar os problemas. O tal “enfrentar os fantasmas do passado” normalmente é o exercício feito pelos artistas. Bellentine vai enfrentando os seus, ao mesmo tempo que entrega novos pra gente apreciar, como um estímulo pra viver à beira da realidade, o que recebemos de bom grado.

NOTA: 8,0
Lançamento: 14 de outubro de 2022
Duração: 42 minutos e 01 segundos
Selo: Secretly Canadian
Produção: Helen Ballentine, Noah Weinman e Andrew Sarlo

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