VORHEES – TRACKS FOR MOVEMENT

Dana Wachs nasceu em Vorhees, Nova Jérsei, trinta quilômetros da Filadélfia e cem de Nova Iorque. A pequena cidade fica num importante entroncamento viário, de modo que cair na estrada sempre foi uma ambição contida, compartilhada com a música.

Com dezenove anos, em 1994, empunhou o baixo pra tocar na reta final da carreira da Holy Rollers, banda da Dischord. Foi nesse período que se embrenhou no mundo da engenharia de som. Durante a década seguinte, até o começo dos anos 2010, Wachs trabalhou em estúdio e na estrada com nomes como Cat Power, M.I.A., St. Vincent, Deerhunter, Grizzly Bear, Perfume Genius, Lykke Li, Emily Haines (Metric) e em produções musicais pra mostras de arte e filmes.

Em 2009, resolveu assumir um trabalho solo, chamado VORHEES, em homenagem a sua cidade natal. Faz apresentações esporádicas com esse nome, dedicando-se a sons mais experimentais. O Vorhees lança seu primeiro single em 2012, “The Orchard”:

Embora haja uma ligação com a música clássica, Wachs diz que sua aspiração é o oposto. Ela chegou a estudar baixo elétrico e violoncelo quando jovem, mas logo descobriu que lições de música convencionais não eram pra ela. “Eles tentaram me treinar de forma clássica, mas não funcionou, no sentido de que a maneira como eu estava sendo ensinada não se encaixava em mim”, disse pra revista eletrônica She Shreds. “Senti que o jeito que estavam me ensinado era muito restritivo”, sentenciou.

“The Orchard” é um indie bem deprê, quase dark, num momento em que ela ainda estava na estrada com artistas de certo renome (no caso, aqui, com o Perfume Genius). Ela evoluiu no seu primeiro EP, “Black Horse Pike”, de 2017, pra os sons que viriam a marcar o Vorhees – embora ainda com vocais: o eletrônico, com evidentes toques clássicos (ouça na íntegra aqui).

A She Shreds explica: “a música multi-texturizada pode ser executada fora além dos limites que seus primeiros professores a levaram, mas mostra que seus instintos estavam certos: ao se esforçar e continuar criando, ela desenvolveu um estilo próprio. ‘Foi só quando comecei a tocar sozinha quee comecei aprender e que me tornei a música que sou, no sentido de que desenvolvi o meu próprio estilo, e eu desenvolvi minhas próprias técnicas’, disse”.

O EP, porém, não chega aos pés do que viria a ser “Tracks For Movement”, o primeiro disco cheio, lançado em 1º de fevereiro de 2019, com capa desenhada por Bradford Cox, do Deerhunter. Wachs quebrou seus próprios limites e avançou pra algo completamente estranho aos artistas que acompanhou na estrada e principalmente ao seu próprio single e EP. O que se ouve em “Tracks For Movement” não é nada palatável como o EP. Não são “canções” no sentido popular da coisa, são análises de como o som pode se expandir.

“Trilha sonora de memórias”, ela diria. Pode ser. Quem caiu tanto na estrada, pelo longo período em que ela viajou e conheceu os meandros da engenharia sonora, o disco traz recursos sensoriais exuberantes que estimulam a memória de quem não esteve lá nas experiências dela.

A explicação do informe oficial do disco dá a pista do porquê da artista seguir o caminho que seguiu: “enfileira trilhas pra filme e dança realizadas entre 2011 e 2018. Vorhees exibe a mesma aptidão sonora emocional da exploração paciente de humor em sua produção solo, como nestas nove composições selecionadas”.

Se “Tracks For Movement” é o som da Vorhees ou se é o mostrado no EP, bem mais acessível, a próxima obra vai responder, mas por ora, essa música que já está na casa dos quarenta anos oferta um recado precioso: ela dá um exemplo pras mulheres mais velhas fazendo suas primeiras incursões em um novo empreendimento artístico. Apesar de seus anos de experiência na indústria, ela ainda se considera uma “nova artista”. “Não acho que as mulheres da minha idade realmente tenham muita representação na cena musical”, ela nota. “Eu não quero que as mulheres tenham medo de envelhecer. Eu quero que eles se empolguem em envelhecer”.

Sempre há um novo e estimulante caminho a se seguir, desde que se mantenha em constante movimento.

1. Welcome To The Green Surround
2. Of Fossils And Of Facings
3. Die In
4. Sacred Heart
5. LOV
6. Road
7. Tennis. Anyone?
8. The Bath
9. Visions Of Beauty

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