4 DISCOS: THE PAINS OF BEING PURE AT HEART, THE NOTWIST, THIS LONELY CROWD, CLAP YOUR HANDS SAY YEAH

THE PAINS OF BEING PURE AT HEART – “DAYS OF ABANDON”

Quando o The Pains Of Being Pure At Heart lançou o disco de estreia homônimo, em 2009, com o selo de qualidade da Slumberland, sentiu-se um frescor no shoegaze/dream pop. Unindo pop e zunidos de guitarra, os nova iorquinos fizeram um grande disco de canções assobiáveis. Demorou dois anos e, como diante do desafio de praxe, “Belong”, o sempre difícil segundo disco, decepcionou.

E o motivo pelo qual rolou essa decepção percebe-se ainda mais presente em “Days Of Abdandon”, o terceiro trabalho de Kip Berman e companhia: a banda adocicou demais, virou a sessão da tarde do shoegaze, se é que ainda dá pra chamar de shoegaze.

Nada contra fazer canções pop – elas são difíceis demais pra criar, elaborar e agradar. Mas “Days Of Abandon” tem muito pouco de eficiência no que se propõe. O single “Simple And Pure” está entre as poucas que se salvam, junto com a boa “Until The Sun Explodes”, lembrando, errr…, The Cure. Lentas, como “Art Smock” e “Coral & Gold” dizem muito pouco, nem mesmo à mais acessível das FMs. O disco não consegue ser convidativo nas suas canções pop, nem oferece a ousadia dos ruídos da estreia.

“Days Of Abandon”não é ruim por isso. É só mais um disco, desses que você ouve, abre um sorriso ou outro, talvez até se divirta sem compromisso, mas que logo passam e você (com permissão) abandona em seguida, sem muita vontade de voltar a encontrá-lo.

NOTA: 5,0
Lançamento: 22 de abril de 2014
Duração: 36 minutos e 58 segundos
Selo: Yebo Music
Produção: Andy Savours
Pra ouvir: clique aqui
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THE NOTWIST – “CLOSE TO THE GLASS”

Lá se vão seis anos desde “The Devil, You + Me”, de 2008. Se durante esse tempo, a banda dos irmãos Archer (Markus e Michael) não tivesse produzido nada e voltasse com um disco cheio só pra incluir “Kong”, já teria valido a pena sua ausência, retorno e, quiçá, existência.

Mas “Close To The Glass”, oitavo disco dos alemães do Notwist, tem outras pérolas no seu miolo. “Kong” é, de fato, a grande canção, uma das melhores de sua carreira talvez, misturando uma fragilidade esquisita (sublime no já clássico “Neon Golden”, de 2002) com a eletrônica ruidosa e quase infantil de um Stereolab, uma conta que não é exata em toda a obra, mas que serve de sistema central.

“In Another Tune” tem uma vibração kraftwerkiana; “From One Wrong Place To The Next” tem uma batida eletrônica arrastada e quebrada, algo hipnótico; daí, “7-Hour-Drive” enche os ouvidos de ruídos e um vocal doce, tirando o ouvinte do hipnotismo. O Notwist consegue, nessa sequência exemplar, mostrar como melodias podem se associar, na música pop, ao acessível e ao indigesto, ao mesmo tempo, sem se entregar facilmente.

E o trecho final é ainda mais interessante. “Run Run Run” seria hit num baile de estranhos; e “Lineri” é, junto com “Kong”, uma das melhores canções que o Notwist já fez, eletrônica circular, dançante, envolvente, e com um drone injetado ali no meio, fundindo a cuca. “They Follow Me” fecha a contenda de forma belíssima.

“Close To The Glass” é o disco mais intrigante entre aqueles que você infelizmente ainda não ouviu em 2014.

NOTA: 9,0
Lançamento: 24 de fevereiro de 2014
Duração: 51 minutos e 22 segundos
Selo: City Slang
Produção: The Archer Brothers
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THIS LONELY CROWD – “MÖBIUS AND THE HEALING PROCESS”

August Ferdinand Möbius foi um matemático alemão que deu ao mundo o conceito de topologia (um braço da geometria), através de uma estrutura cíclica, em looping, chamada “fita de Möbius”. É uma fita dobrada, um pouco torcida, e com as duas extremidades coladas. Nela, é possível percorrer toda sua extensão, no lado externo e interno, sem precisar atravessar nenhum tipo de furo ou transpor sua borda. É a sensação de reviravolta e déjà vu ao mesmo tempo, embora possa sempre encontrar novidades a cada volta.

É a vida – fonte de onde as histórias e fábulas e contos se inspiram. Certamente, é de onde saiu a história da garota que foge de um lobo na estrada em forma de fita de Möbius que é a base das letras (ou da única letra) de “Möbius And The Healing Process”, novo disco dos curitibanos do This Lonely Crowd.

A obra, conceitual, apresenta uma enorme faixa de cinquenta minutos dividida em doze, que conta a fábula da tal garota. Mas conta principalmente a maneira como os integrantes da banda enfrentaram seus medos, desafios e abalos pessoais, como a morte do irmão de um deles e a doença de outro. O disco foi feito pra acalmar, pra expurgar as doses cavalares de provações.

Se a metáfora intrincada se utiliza de fábulas, matemáticas e poesias (citações de Neil Gaiman, JL Borges e Sylvia Plath), não há como escapar da percepção de que o grande trunfo da banda é unir esse universo com a força musical das guitarras e baixos distorcidas, rifes enérgicos e bateria por vezes troglodita.

A dupla inicial, com “The Greatest Possible Solitude”, uma das melhores canções do ano (e da carreira da banda), com um rife matador e um baixo retorcido e distorcido pra transformar seu cérebro numa fita de Möbius à procura de uma inexistente saída, e “Gentle”, já seria o suficiente pra qualquer processo de cura – de dor ou de solidão, de depressão ou de passividade. Mas há mais.

“Locked-Inn” é uma porrada daquelas apropriadas pra sair da letargia que as vítimas costumam se colocar. Não há tempo pra “oh, céus, oh, vida”, caro ouvinte. Os rifes se repetem, ligando “Some Infinite Longing” de volta à primeira faixa e trazendo, via Möbius, o cérebro ao princípio do processo de cura.

É cíclico, é looping. Ok, a matemática pode tentar explicar. Mas na vida sempre melhoramos com a porrada, avançando ao próximo ciclo e às próximas porradas e curas. “Möbius And The Healing Process” é uma This Lonely Crowd mais doída e pesada, agressiva e imponente. Impossível negar que a obra seja uma evolução. É difícil dizer onde mais essa banda pode ir, criativamente falando. Certamente, não será de volta a onde estava.

NOTA: 8,0
Lançamento: 22 de abril de 2014
Duração: 51 minutos e 50 segundos
Selo: Sinewave
Produção: This Lonely Crowd
Pra ouvir: clique aqui
Detalhes do disco: clique aqui

CLAP YOUR HANDS SAY YEAH – “ONLY RUN”

É curioso como Alec Ounsworth, ao se ver de repente sozinho, após a debandada de Robbie Guertin e dos irmãos Lee e Tyler Sargent do Clap Your Hands Say Yeah (apenas o baterista Sean Greenhalgh permaneceu no trabalho), finalmente colocou alguma emoção legítima em seu canto. O antes vocal estridente e irritante pra muitos, agora é contido, solitário, entoado pra dentro, pra si, com pouquíssimas recaídas de exagero. Isso faz toda a diferença em “Only Run”, o quarto disco da banda.

A obra é transbordante em melancolia e já se apostava nisso, quando do lançamento do EP “Little Moments”, de 2013, com duas músicas incluídas aqui, “Little Moments” e “Only Run”. Ounsworth teve que transformar o CYHSY numa banda de músicos contratados que se não precisassem entender exatamente o sentimento, mas que executassem o pano de fundo pro seu desabafo.

“As Always” é uma boa porta de entrada pra esse novo e interessante CYHSY, mais obscuro e deprê. Uma obra de desilusão, desapontamento. Mas os amantes do que se acostumou chamar de “indie” não ficam órfãos: há dois bons momentos pra eles, com “Coming Down”, que tem a participação de Matt Berninger, do The National, e o eletrônico-falso-alegre de “Little Moments”.

“Blameless” também merece sua atenção, pelo baixo e guitarra cortante, ligados por um longo clima criado pelo sintetizador. A faixa-título, um pop oitentista elegante, avisa que Ounsworth não se importa com mais nada. A derradeira, “Cover Up”, surpreende como a primeira, derramando lágrimas de incompreensão.

E, assim, na reconstrução, o CYHSY, curiosamente, encontra seu momento mais significativo, tão bom quando a estreia homônima, de 2005. O disco foi massacrado pela crítica internacional, mas “Only Run” é justamente pra quem sabe que pode seguir sozinho, a despeito de tudo e de todos, sem medo de quebrar a cara.

NOTA: 7,5
Lançamento: 3 de junho de 2014
Duração: 35 minutos e 43 segundos
Selo: Independente
Produção: Clap Your Hands Say Yeah
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