4 DISCOS: TRELI FELI REPI, WARPAINT, I BREAK HORSES, DUM DUM GIRLS

TRELI FELI REPI – “MAU COMPORTAMENTO EP”

Tal como um Robert Pollard dos trópicos, Lê Almeida é prolífico e cria como poucos, em quantidade e em qualidade. Como é praxe nesse tipo de artista, há muitos acertos e muitos erros. Eis que Almeida solta “Mau Coportamento”, o novo EP do seu Treli Feli Repi, projeto dele com ele mesmo. Curto, com pouco mais de dezesseis minutos, passa rápido e é esquecível como muitas obras de artistas que produzem demais. Aqui, como costumeiramente se dá nesses casos, é preciso saber separar o joio do trigo, porque há o que se apreciar.

Há canções pop deliciosas (como há na banda que leva seu nome), principalmente “Itacaré Sound”, “Mau Comportamento” e “Deidade”, e há outras mais aceleradas, como “Alistamento” e “Fim Da Estrada”. São os acertos. Por outro lado, há coisas sem sentido algum, como a faixa de abertura, “Quase Morte”, vinte e dois segundos de nada.

Em comum, a voz preguiçosa e característica de Lê Almeida, a guitarra distorcida, os rifes adoráveis e a produção propositadamente tosca. Às vezes, é tão fofo que seduz o ouvinte. Mas, como um sorvete no verão, ele refresca e logo bate aquela sede. Foi um alívio temporário.

Dica: procure os outros projetos desse gênio carioca, como essa beleza.

NOTA: 6,0
Lançamento: 14 de janeiro de 2014
Duração: 15 minutos e 36 segundos
Selo: Transfusão Noise Records
Produção: Lê Almeida
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WARPAINT – “WARPAINT”

Embora o título do disco, com o nome da banda e nada mais, sugira uma “simplicidade”, o que o Warpaint entrega nesse segundo trabalho é algo tão diametralmente oposto que chega, em muitos momentos, a incomodar. Theresa Wayman, Emily Kokal, Jenny Lee Lindberg e Stella Mozgawa se cercaram de um dream team pra empacotar o sucessor do ótimo “The Fool”, de 2010. Tem na co-produção de Flood (U2, Nick Cave, PJ Harvey) e na mixagem de Nigel Godrich (Radiohead) os nomes mais estonteantes.

“Intro” começa com uma batida errada, um pedido de desculpas e um novo início. Quer passar a imagem de despretensão. Só que já se sente a mão de Flood na criação, com as camadas sendo preenchidas por vibrações grandiosas. É uma música instrumental, boa, cheio de clima. A gente desculpa, até porque “Keep It Healthy” mantém o climão (apesar de parecer um sub-Beach House às vezes), e “Love Is To Die” é hit certo, daquelas canções que muito artista cortaria a mão pra ter criado. Nesses melhores momentos já deu pra perceber que “Warpaint” está mais pra Oscar Freire do que pra Rua Augusta, mais pra Vieira Souto do que pra Lapa.

A despretensão foi rasgada na primeira nota, mas desvirtuar a primeira impressão não quer dizer que “Warpaint” não tenha valor. Longe disso. É mesmo um disco classudo, como comprovam “Hi” e “Biggy”, desaceleradas e ora darks. O problema está a partir daí. As artimanhas de Flood de forçar uma ligação oitentista e elegangte fazem o disco parecer uníssono e desinteressante, com as meninas fazendo pouco pra mudar essa percepção (“Disco/Very” é inexplicável). Ao menos, a canção final, “Son”, belíssima, nos lembra que às vezes, em meio a tanta tecnologia e garbo, um pouco de simplicidade ainda faz a diferença.

NOTA: 6,0
Lançamento: 17 de janeiro de 2014
Duração: 51 minutos e 17 segundos
Selo: Rough Trade
Produção: Flood e Warpaint
Pra ouvir: não disponível
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I BREAK HORSES – “CHIAROSCURO”

A dupla sueca Maria Lindén e Fredrik Balck conseguiu fundir minha cuca. Nas primeiras audições, “Chiaroscuro” parece uma bomba hiperproduzida perfeita pra ser remixada por grandes nomes e arrasar nas pistas descoladas da Europa. Bem, é mais ou menos isso, mas que se danem os remixes descolados, “Chiaroscuro” tem autosuficiência em encantamento.

Os uso excessivo da eletrônica olha mais pro passado do que pro futuro (ou, ainda menos, pro presente), de modo que canções demasiadamente mergulhadas nos sintetizadores, como “Faith” e “Ascencion”, dão a pista ao ouvinte de como o disco soa: afastado do dream pop e da melancolia apresentados no anterior – e maravilhoso – “Hearts”, de 2011.

Não há como não se encantar com as empoeiradas e sinceras batidas retrôs de “Denial”, o principal single do trabalho, ou com as gélidas tomadas introspectivas de “Berceuse” e da mezzo kraut “Disclousure” – mesmo que “Medicine Brush” se arraste por mais tempo do que deveria e que a chata “Weigh True Words” acabem diminuindo o disco. Mas a voz misteriosa da bela Maria Lindén segura a onda, atrai e hipnotiza, dando mais corpo ao I Break Horses.

Disco pra ouvir várias vezes, em vários momentos. É cheio de sentimentos.

NOTA: 7,5
Lançamento: 20 de janeiro de 2014
Duração: 44 minutos e 50 segundos
Selo: Bella Union
Produção: I Break Horses
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DUM DUM GIRLS – “TOO TRUE”

É recorrente. E, fresco ainda na memória, lembro do mais recente Primal Scream, “More Light”, quando Booby Gillespie e companhia soltaram duas canções empolgantes, dignas de estar numa coletânea de melhores da banda, “2013” e “It’s Alright, It’s Ok” (leia resenha aqui). Selos e gravadoras identificam os mais inspirados petardos de seus produtos e os soltam como singles, na esperança de atrair a clientela pro resto do trabalho. Normalmente, como aconteceu com o Primal Scream, é fogo de palha, logo apaga, na análise fria da obra. O mesmo se dá aqui com “Too True”, o mais recente disco das Dum Dum Girls.

As meninas soltaram, quando do anuncio da peça, a estonteante oitentista “Rimbaud Eyes”, climática e pop viciante ao mesmo tempo (a Maldita Fluminense FM adoraria tocar isso). Seria o anúncio de um grande álbum? Vamos ver: “Cult Of Love” tem a mesma vibração e “Evil Blooms” é igualmente retrô no bom sentido. Depois, complica. Parece tudo arrumadinho demais pra quem se mostrou suja com a estreia “I Will Be” (2010) e expurgando dores pessoais em “Only In Dreams” (2012). Dee Dee amansou.

“Too True To Be Good”, a pouco inspirada canção pop (pouco inspirada no arranjo), com uns “too-tooo-too-tooo” no meio, bem como suas irmãs que seguem dali pra frente, até poderia crescer, se Dee Dee a sua turma colocassem vigor e passassem uma descompostura nas suas guitarras e pedais.

Salva-se no miolo a retrô “In The Wake Of You”, meio cinquentista, meio pop radiofônico oitentista, e o refrão grudento de “Under These Hands”. É pouco pro que o primeiro single prometia – e “Too True” talvez seja lembrado apenas por “Rimbaud Eyes”, mas… bem, tomara que as repetidas audições e o tempo mostrem que eu estou errado: as Dum Dum Girls são uma das mais bacanas bandas da atualidade.

NOTA: 6,0
Lançamento: 27 de janeiro de 2014
Duração: 30 minutos e 21 segundos
Selo: Sub Pop
Produção: Jorge Elbrecht
Pra ouvir: não disponível
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Um comentário

  1. ““Too True To Be Good”, a pouco inspirada canção pop (pouco inspirada no arranjo), com uns “too-tooo-too-tooo” no meio, bem como suas irmãs que seguem dali pra frente, até poderia crescer, se Dee Dee a sua turma colocassem vigor e passassem uma descompostura nas suas guitarras e pedais.”

    As “irmãs” que tu fala não gravaram nada neste disco, nem vocais e muito menos guitarras. Quem gravou as vozes foi a Dee Dee. As guitarras foram gravadas pela Dee Dee e o Sune Rose Wagner , também conhecido como o mr Raveonettes. Inclusive o único registro com as “irmãs” foi o End of Daze, único que elas participaram realmente, de resto é tudo o produtor Richard Gottehrer, Sune e a Dee Dee.

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