ARCTIC MONKEYS E HIVES NO ANHEMBI – COMO FOI

O Arctic Monkeys é uma banda que ultrapassou bem os volúveis anos 2000. Nasceu como salvador do rock, das profundezas do MySpace e com o apoio do compartilhamento gratuito de suas músicas. Seu primeiro disco, em apenas uma semana, vendeu mais de trezentas mil cópias. Um fenômeno que ninguém conseguia explicar com clareza à época.

O tempo passou feroz pra seus contemporâneos, em especial pros Strokes, os reais queridinhos da moçada no começo do século. Mas o Arctic Monkeys se renovou, reinventou, repaginou num estilo rock’n’roll clássico cinquentista, se afastando da bobagem indie das pistas, privilegiando as guitarras e a postura séria. Curiosamente, enquanto “amadurecia”, seu público ficava mais jovem, adolescente, até mesmo infantil.

Já são cinco discos. Oito anos se passaram desde o fenômeno de vendas do primeiro trabalho e os jovens que hoje adoram e suspiram por Alex Turner e companhia (principalmente por Turner) tinham à época um certo cheiro de fraldas, chupetas e loções pra bebês. Os de primeira viagem cresceram e já engatinham no mercado de trabalho. Essa renovação foi sentida já na segunda passagem do AM pelo Brasil, durante o Lollapalooza 2012.

Se em 2007, moleques no TIM Festival, a banda agradava os indies mais descolados, em 2012 o sucesso a afastava dos hipsters (sempre renegando sucessos de vendas) e trazia novos corações a adorá-los, porque o sucesso se faz de uma massa muito mais heterogênea. Essa massa foi se renovando.

Hoje, pelo o que conta no texto abaixo o astuto Ricardo Alves, um pai que levou sua filha de treze anos (e duas amigas dela) pela primeira vez a um show do Arctic Monkeys, a banda é feita pra elas e elas são essa renovação. Turner é o ídolo delas. O herói roqueiro, aquele pôster que elas talvez pendurassem no quarto, se isso fosse moda até hoje. Ok, as moças de hoje são mais espertas, maduras e não se dão a tais sonhos. Mas elas estão aí pra se descabelar, gritar e cantar as músicas de cor.

Se sua mãe suspirava pelos Beatles (a minha suspirava) e os Beatles eram intocáveis naquela época, hoje em dia Turner está aí, pela terceira vez – e outras devem vir, dado o estouro em vendas que foram essas novas apresentações no Brasil – pra alegria de todas elas.

Não sei se a filha e as amigas da filha de Ricardo estarão nessa próxima vez – não sei se elas vão crescer e achar outros ídolos ou se elas vão simplesmente ter passado da fase de ter um ídolo – mas essa foi uma experiência que contou bastante às duas gerações, pai e filha, embora não seja uma história sobre isso. É um breve relato sobre como se pode aproximar ambas as gerações a partir do mesmo intuito, o da diversão pela música.

HORMÔNIO ADOLESCENTE
Texto: Ricardo Alves
Fotos: Marcelo Brandt (G1) e Manuela Scarpa (Photo Rio News)

Esse era o dia. Pra ela. Pra minha filha – e pra milhares de adolescentes diante da sua beatlemania, ou um centésimo de equivalência disso. Era dia de Arctic Monkeys.

Nem fazia muito tempo que a banda esteve por aqui, você sabe. Foi em 2012, era o Lollapalooza, e minha filha tinha ainda onze anos. Não era pra ela. As coisas mudam muito rápido nessa fase da vida, um ano faz diferença, dois fazem muito mais. Uma hora são desenhos, outra são bonecas, de repente meninos, ídolos, você tenta acompanhar e quanto mais participar dessa fase, melhor. Não que a vida dela tenha sido assim, nessa ordem (não foi), mas, enfim, chegaram as guitarras, os cabelos engomados de Alex Turner, as calças de couro, a idolatria. Era dia de Arctic Monkeys e era dia dela viver essa idolatria.

Estávamos eu, minha filha e duas amigas dela. Todas animadíssimas. Saímos de Pinheiros por volta das sete da noite pra ver a abertura do Hives, que estava marcada pras nove e meia, o que surpreendentemente se confirmou. Fomos de carona, o que em eventos desse porte se torna prudente, já que sabemos não temos capacidade pra organizar qualquer evento pra mais de mil pessoas – é o que parece. Demoramos mais de meia hora no trânsito pra fazer uma rota de quatro quilômetros. Essa cidade definitivamente não é amigável…

Ao chegar, pra minha surpresa, vi uma organização boa pros padrões nacionais, embora depois eu tenha lido que os perrengues aconteceram aos montes, principalmente na entrada. Mas pra gente foi tudo ok. Respeitamos a fila, como todos e é importante ressaltar tal fato porque, veja bem, são hordas de adolescentes famintos pelo ídolo e eles foram pacientes nesse momento, coisa que os marmanjos não são. Depois de quarenta minutos, entramos.

Logo, os vendedores de cerveja apareceram – com a bebida a oito dilmas e água a seis. Tinha boa oferta de comida e bebidas por todo o local. O sambódromo é espaçoso e procurei um local estratégico pra tomar umas e conseguir assistir sem tumulto aos shows, num local em que elas também pudesse ao menos enxergar a banda. Fiquei na lateral esquerda do palco, próximo aos banheiros – alguém consegue arrumar uma fórmula pra que os banheiros femininos não tenham tantas filas?

Nada disso importava pras meninas – organização, preços, lotação, local. Nada. Nem mesmo o Hives, que começou exatamente no horário. Nem mesmo a energia da banda. Fazer show num lugar desses é uma tiração de sarro com a cara do fã e consumidor que paga trocentos merréis: lógico que o som estava uma merda, tipo radinho de pilha. Os caras fizeram um show bem divertido e bastante enérgico, mas embora a gente percebesse essa vontade, os problemas dificultavam pro Hives. Uma das guitarras parecia simplesmente não emitir som algum. Foi assim durante uma hora de show, que começou bem, com “Come On!”, um belo convite de um minuto pra que todos saltitassem e espirrassem suor pra todo lado (apesar da noite gelada em São Paulo), e foi terminar em grande estilo.

Foram treze músicas, incluindo as imbatíveis “Main Offender” e “Hate To Say I Told You So”, que fechou a conta. É uma das bandas mais divertidas da atualidade.

Findo o Hives, suspiros. Já era tempo. As meninas pareciam não aguentar mais a espera. Alex Turner, tão longe, tão perto. Mas a espera ainda demoraria quarenta minutos – o tempo exato pra troca de palco. Quarenta minutos. E já se aproximavam as onze horas da noite. Fatalmente, nada de transporte público na volta.

Que se dane, lá viriam os Arctic Monkeys! O cheiro de hormônio adolescente já tomava conta do lugar. Gritos. Suspiros. Lá vem eles.

E vieram com “Do I Wanna Know?”. Mais gritos. Uma hora e quarenta minutos de monkeysmania. Eles fizeram por merecer. Esse era o penúltimo show da extensa turnê de “AM”, que começou em 2012. O do Rio de Janeiro, no dia seguinte, seria o último. O cansaço seria desculpável. Mas a banda fez um show extremamente competente e muito bem tocado.

A banda já não é mais pra mim, mais a molecada ficou louca. Todos pareciam conhecer todas as músicas. Cantavam como se ovacionassem a Peppa Pig, se a Peppa Pig empunhasse uma guitarra e apostasse que todos eles ficariam bem numa pista de dança. A distância pras crianças que se divertem com a família de porquinhos não é grande em número de anos; mas em maturidade cultural, o Arctic Monkeys dá um salto na vida dessas crianças, as coloca na puberdade com louvor. É muito legal vê-las se divertindo ao som de algumas guitarras (“505” foi um belo ápice) e nenhuma frescura.

Porque Alex Turner não tem frescuras, não pede mãozinhas pro alto, não conversa muito, não pede pra cantar junto, é o oposto de Bono e léguas de distância de qualquer cantor de axé ou sertanejo. Mas igualmente tem sua parcela de sucesso, desejo e idolatria, sem apelar pra ferramentas óbvias de aproximação. A música, os sucessos, a dança, tudo isso já basta.

Não salva o rock do que quer que achem que ele precisa ser salvo, mas já tá de bom tamanho, e a alegria das meninas não me deixa mentir – embora minha filha tenha se frustrado com a falta de surpresa que o setlist, idêntico ao do Chile e da Argentina, setlists que ela, claro, já sabia decoradinho do começo ao fim, mas nutria a esperança de ser surpreendida. Minha felicidade estava na felicidade delas.

Digo tudo isso e parece que só havia puberdade na plateia. Não é verdade. O público da monkeysmania é heterogêneo. Tem muita garotinha, tem muito pai levando os filhos, mas tem muito jovem, indie, hipster (eles ainda resistem), trintões, tem de tudo e todos se divertem.

Foi um delírio até o final. O show findou-se e, como esperado pelo horário estapafúrdio marcado, depois da meia-noite. Daí, sabe lá como e quanto tempo demoramos pra ir embora. Foi na contramão da massa que consegui pegar um táxi, depois de caminhar uns quinze minutos pela Marginal Tietê. Cheguei em casa às duas da matina, cansado e molhado da chuva, mas muito feliz por te levado minha filhota pra vivenciar tudo isso. Foi uma bela experiência.

A música que colocava as gerações em suas devidas distâncias, hoje as aproxima. E eu sou grato por isso.

Setlist Hives
01. Come On!
02. Take Back The Toys
03. Walk Idiot Walk
04. Two Kinds Of Trouble
05. See Through Head
06. Wait A Minute
07. Main Offender
08. Go Right Ahead
09. Won’t Be Long
10. I’m Alive
11. Tick Tick Boom
12. My Time Is Coming
13. Hate To Say I Told You So

Setlist Arctic Monkeys
01. Do I Wanna Know?
02. Snap Out Of It
03. Arabella
04. Brianstorm
05. Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
06. Dancing Shoes
07. Teddy Picker
08. Crying Lightning
09. No. 1 Party Anthem
10. Knee Socks
11. My Propeller
12. All My Own Stunts
13. I Bet You Look Good On The Dancefloor
14. Library Pictures
15. Why’d You Only Call Me When You’re High?
16. Fluorescent Adolescent
17. 505

BIS
18. One For The Road
19. I Wanna Be Yours
20. Mardy Bum (acústica)
21. R U Mine?

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Comentários

comentários

Um comentário

  1. flogão, estive no tim festival de 2007, a maior furada! começou tarde pra kct, me retiveram a câmera, e fiquei das 17hs do domingo até quase 07hs da segunda!
    vi o show deles inteiro, mas ñ tive paciencia de ver o the killers, somente umas 4 canções! peguei minha câmera, tirei umas fotos do lado de fora e vim simbora!

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