BLACK ANGELS NO CINE JOIA – COMO FOI

Não é comum bandas como a Black Angels passarem pelo Brasil pra shows solo. Sem o mesmo o hype do Tame Impala e até mesmo da cópia Boogarins, o quinteto do Texas não recebe o tratamento da imprensa nacional como merecido. Eis, então, que vê-la ao vivo era uma oportunidade única. Até porque, quando o grupo esteve no Brasil pela primeira vez, em 2011, foi pra um palco secundário do SWU, em Paulínia, interior de São Paulo. Naquele dia, com uma chuva insistente, pouca gente prestou-se a presenciar o lançamento de “Phosphene Dream”.

Agora, no Cine Joia, com o palco só pra eles (a abertura foi da banda brasileira BIKE), cerca de quatrocentas cabeças foram ver do que os versáteis Christian Bland, Alex Maas, Kyle Hunt e Jake Garcia são capazes, mas principalmente pra presenciar a soberba rítmica da baterista Stephanie Bailey, dona do show.

O Black Angels entrou no palco às dez e dez da noite, ao som de “The Black Angel’s Death Song”, do Velvet Underground, música que dá nome à banda e ao mais recente disco, “Death Song” (ouça na íntegra aqui), de 2017, que é a base do show – das onze faixas do disco, só “Estimate” não entrou na lista. Apesar da ligação, há muito pouco de Velvet no Black Angels, que se conecta mais facilmente ao 13th Floor Elevators.





A apresentação começa com a ótima “Currency” e emenda com “Bad Vibrations”, do “Phosphene Dream”. A banda raramente fala com a plateia. Há um “obrigado” e um “thank you” tímido aqui e acolá. O diálogo é na forma de massa de ruídos “psicodélicos” (o que quer que essa palavra queira dizer), com guitarras (às vezes, duas; às vezes, três), teclas, baixo e uma meia-lua. O som do Cine Joia, pra variar, não ajudou muito, de modo que o impacto de uma banda potente acabou sendo prejudicado.

A potência do Black Angels não vem exatamente da massa sonora, de tocar no volume máximo, embora eu creia que eles até busquem esse caminho também. Ela vem dos climas criados por trás dessa massa sonora e é, talvez, isso que diferencia a banda das suas correlatas hypadas. Há um volume considerável de bloco de som que chega ao peito da plateia, mas são os detalhes que criam o clima hipnótico – o vocal proclamado e eclesiástico (tal como o Hookworms, outro grande grupo da mesma praia), os rifes econômicos e as variações durante as músicas, condição que faz destacar ainda mais o entrosamento dos cinco e a qualidade de Bailey.

Apesar das muitas qualidades, não é um show “apoteótico”, ou “inesquecível”, chame como quiser o leitor. A dadas alturas da apresentação, corre-se o risco de dispersão. Muito por conta de “Death Song” não ser o melhor trabalho deles, mas também porque as músicas do Black Angels não se atrevem a ser alvos fáceis de apreciação. Há a necessidade do público se predispor à imersão e durante uma hora e cinquenta nem sempre é possível.

De todo modo, faz-se justiça ao que a banda entrega nos seus discos e à sua luta em favor da música dita psicodélica, ou “reverberada”, sendo o nome mais importante na confecção do Austin Psych Fest (agora Levitation), um dos mais bacanas e importantes festivais do mundo. Não dá pra acusá-los de apenas revisitar e ruminar um estilo de cinco décadas atrás. O Black Angels é um grupo que moderniza um estilo, sem parecer um saudosista conservador e inflexível. As boas vibrações exalam.

01. Currency
02. Bad Vibrations
03. The Prodigal Sun
04. I Dreamt
05. Medicine
06. Hunt Me Down
07. Black Grease
08. Grab as Much (As You Can)
09. The Sniper At The Gates Of Heaven
10. Half Believing
11. I’d Kill For Her
12. You On The Run
13. Comanche Moon
14. Life Song

BIS
15. Death March
16. Bloodhounds On My Trail
17. Young Men Dead

Fotos: André Yamagami e Sid Gambarini.

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