JONATHAN TADEU – FILHO DO MEIO

Não é de hoje. Desde “Casa Vazia”, o primeiro disco, lançado em 2015 (leia e ouça aqui), passando pelo ótimo “Queda Livre” (um dos melhores discos de 2016, que você pode ler e ouvir aqui), Jonathan Tadeu vem se acertando como uma das vozes mais criativas do subterrâneo musical brasileiro.

Vem aí, então, o terceiro disco, “Filho Do Meio”, com oito canções produzidas por João Carvalho (a mente por trás de Sentidor, El Toro Fuerte e Rio Sem Nome), com lançamento pra 4 de abril, mais uma vez via Geração Perdida.

A primeira música de trabalho é “Fantasmas”, que abre o disco. Ganhou um vídeo dirigido por Flávio Charchar, que você vê abaixo:

A faixa tem uma letra certeira – que resume-se a “Agradeça aos fantasmas que não te deixaram dormir / Eles vão te levar pra casa quando não houver mais ninguém” – e não utiliza guitarra nem violão, apenas “se estrutura em sintetizadores”.

De acordo com o próprio Jonathan, em conversa exclusiva com o Floga-se, a mudança se deu por um desejo do artista em expandir suas fronteiras musicais: “eu acho que o rock limita demais. Eu morro de medo de ficar me repetindo. E nos últimos anos eu passei a gostar de muita coisa além do rock, não queria fazer mais um disco com influência de emo, rock 90s. Eu faço isso desde que me entendo por gente. E acho que eu só não tinha mudado até agora porque não sabia por onde começar. Foi aí que eu baixei o Fruity Loops pra compor umas baterias pro disco e nunca mais encostei na guitarra (ri). Abriu a minha cabeça demais. Eu fiquei obcecado pelo negócio. Passei o período do Natal e Ano Novo inteiro fuçando no programa, tipo, dez, doze horas por dia”.

O que se ouve em “Fantasmas” é reflexo desse processo de conhecimento e experimentação, baseado em referências bem diversas ao emo, grunge e outras guitarradas noventistas. “Fui me arriscando dentro das minhas influências. O Notwist, Sparklehorse, Solange, Grandaddy, Frank Ocean. São influências pesadíssimas que até agora eu não tinha conseguido revelar. Ando muito apaixonado por esse método de criação. Foi como aprender um instrumento novo”, explica.

“A minha geração e principalmente a que tá vindo agora criaram uma obsessão absurda por uns subgêneros dos 90s, né? (risos) Eu amo anos 90 demais, é a década que eu mais gosto, mas não dá pra ficar se repetindo. Tipo o Cloud Nothings, eu amei o início deles, mas não consegui acompanhar depois, ficou muito previsível. É aquela banda que você vai ouvir o disco sabendo que só vai ter guitarra anos 90… Eu acho isso um perigo”.

Nesse processo, ter João Carvalho na produção foi essencial: “eu poderia ter feito tudo errado se não fosse a produção dele. Tenho aprendido muito com ele”.

Gravar em um esquema caseiro também foi fundamental pra experimentação. Nem todo artista tem grana pra ficar se reinventando, sem ter o receio cruel de não “dar retorno” pra quem investiu (seja um selo, um mecenas ou o governo). Jonathan e Carvalho gravaram tudo em computadores caseiros e até num celular (a voz de “Fantasmas” foi gravada num celular). Ou seja, não ter grana pra bancar estúdio e estrutura ajudou no formato do disco.

Jonathan vai mais longe: “eu não tenho grana pra fazer as coisas em estúdio e não vejo sentido em ficar esperando a grana aparecer pra eu criar um disco ou fazer um crowndfunding pedindo trinta mil pra gravar com um produtor que nunca me viu na vida. Eu acho mais confortável e prático quando gravo com os meus amigos. Tem algo de desafiador nisso também. Ano passado eu saí em várias listas de melhores discos e os meus concorrentes eram pessoas do calibre da Céu, saca? Esses discos são uma maneira de provar que não é preciso torrar uma fortuna pra fazer a coisa acontecer. Não é preciso pagar quatro dígitos pra um fulano ficar mandando e-mails pra você sair num blogue. Se a musica for boa, as pessoas vão gostar, independente da qualidade da gravação ou do tamanho do hype. É só ter muita paciência e continuar produzindo”.

Após o lançamento do disco, Jonathan mete o pé na estrada junto com Vitor Brauer, ex-Lupe De Lupe, pra nova edição da turnê “Sem Sair Na Rolling Stone” (leia sobre a primeira edição aqui), até agosto, na raça, rodando o Brasil pra viver um pouco sua música e da sua música.

Jonathan, como se vê no vídeo de “Fantasmas”, faz barba, cabelo e bigode. Tá sempre buscando se mostrar de cara nova.

1. Fantasmas
2. Sorriso Amarelo (clique aqui pra ouvir)
3. Deus Sempre Mata Os Saudosistas Primeiro (clique aqui pra ver o vídeo)
4. Lupe de Lupe
5. Questão de Classe
6. Festa de Despedida
7. Araxá 500
8. Alicerce

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