RESENHA: GOLDENLOKI – LARGADO NA EXISTÊNCIA

Talvez o pior sentimento ao ficar velho é não conseguir lidar com o excesso de saudades e memórias prazerosas. Aquele velho blá-blá-blá de que o tempo não volta e é preciso viver e aproveitar o agora só piora porque isso não é uma maneira de levar a vida cem por cento do tempo, de modo em algum momento você vai olhar pra trás e sentir saudades de algo, de alguém, de alguma passagem, de alguma música, de um lugar.

Com música, particularmente, isso acontece com certa frequência – a saudade. Porque o contato mais ardoroso que temos com a música é na juventude, na adolescência espinhosa, e a música serve como válvula de escape. É trilha pros primeiros namoros, pros primeiros porres, pras épicas cagadas, pras negativas e pras descobertas. Eis que décadas depois, ao ouvir qualquer coisa que soe parecido – e não importa que tipo de música estejamos referindo nosso passado – essas recordações voltam à carga, preenchem qualquer vazio.

O segundo disco do Goldenloki, “Largado Na Existência” (o primeiro é “Muda”, de 2016), não tem definitivamente nenhum atrativo original, mas volta e meia o som preguiçosamente circular do quinteto paulista remete a boas memórias dos anos oitenta – a minha época de adolescência (mas é óbvio que tal sonoridade pode configurar outros sentimentos pras outros ouvidos). Há um certo desleixo que lembra um esforçado subterrâneo paulista daquela época – de Smack e Voluntários Da Pátria, embora não necessariamente soe como tais bandas.

De fato, com certo despudor, o Goldenloki, apesar das boas intenções (“uma mistura minimalista e barulhenta de garage, kraut e lo-fi“), procurando do Can ao Stereolab, soa muito como o novo século ensinou eles a soar, como se o Strokes nunca tivesse subindo ao Olimpo e continuasse batendo o pó dos porões (nem tão) imundos de Nova Iorque.

Aliás, o Goldenloki não deu sorte ao nascer brasileiro, tampouco com o fato de sua língua-mãe não ser o inglês. O que seria da banda se “Nodrama” fosse compreendido pelos baluartes intelectuais dos sites gringos formadores de opinião? Por aqui, copiaríamos tais opiniões e, bingo!, teríamos mais uma banda pra enaltecer e borrar cartazes de festivais indies que ninguém em sã consciência pagaria um dobrado pra ver – mas paga porque a gente é assim.

Por outro lado, o maior defeito do Goldenloki é justamente a poética fraca e raquítica. As duas canções instrumentais, “Gol” e “Coisas”, são as mais interessantes do apanhado, com exceção da ótima “Alguns Dizem”, uma balada de resistência que é justamente a graça de ser jovem, sem nada a perder (“alguns dizem que perdi o dom / de ser bom / alguns dizem que não vai dar pé / e eu vou”).

Otto Dardenne (voz e guitarra), Thales Castanheira (guitarra), Yann Dardenne (baixo), Leo Arruda (bateria) e Christiano Kuntz (guitarra) podem ter muito a dizer e não conseguir fazê-lo, porém a questão pra eles é mais a ação do que a pregação. O viver o momento, deixando a existência cumprir a sua parte. Quando a idade bater, eles poderão ficar satisfeitos de terem se divertido um bocado.

1. NODRAMA
2. Alguns Dizem
3. QQCC
4. Instinto Animal
5. GOL
6. Manga Mancha
7. Coisas

NOTA: 7,0
Lançamento: 17 de novembro de 2017
Duração: 22 minutos e 40 segundos
Selo: Cavaca Records e Valente Records
Produção: Goldenloki

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