RESENHA: YANTRA – DRONES E EXCURSÕES DE GUITARRAS RUMO AO DESCONHECIDO VOL. 2

A atenção é despertada nos primeiros segundos de “Drones E Excursões De Guitarras Rumo Ao Desconhecido Vol. 2” pela psicodelia que surge (ouça aqui o volume 1, lançado em 2016). Não obstante, o espaçamento desta manifestação não limita apenas o psicodélico ou a ambiência – a repetição exaustiva se funde pra criar uma espécie de hipnose variável. A operação como repetição constrói a consistência do trabalho: a reiteração cria o desconhecido. Porque isso – esta meditação frente a um procedimento que se constrói como exploração e repetição de temas – não leva necessariamente ao desgaste ou algo parecido. Justamente o contrário: imprime no ouvinte a sensação de abertura horizontal.

É um processo de expansão do perceptível. A aderência nesta própria noção de ampliação invariavelmente surge com repetidas visitas ao trabalho.

Que se apreenda tanto de ilusórias iterações (na verdade o YANTRA maneja os instrumentos de forma bem ampla) é o mais impressionante do disco. Por conseguinte, o que se apresenta como central – a repetição – e o que se reconhece como emergente – as variações – são iterações da mesma origem. É o campo de bifurcação entre a consistência e inconsistência: a partir daí as multiplicidades interagem com o ouvinte.

O YANTRA é um projeto de áudio e vídeo de Douglas Leal, de São Paulo. Ele esteve com em outros projetos de renome no subterrâneo brasileiro, como Hierofante e Mauna Kea, além do Deaf Kids. As duas faixas aqui foram gravadas ao vivo – a primeira em São Paulo, a segunda em Vitória.

A música de YANTRA se apresenta como a construção de um ambiente e suas possíveis evasões. Assim, alguns temas são reconhecidos ainda na primeira ouvida, enquanto outros planos nunca ficam exatamente apreensíveis – eles sugerem a mudança, eles estão preso no estático. Mas há um tema. O axioma temático é apresentado – especialmente na segunda faixa, “Fogo Interior” – como filho do embate entre repetição versus novidade.

O que o YANTRA propõe é justamente o postulado do seu procedimento: é a conclusão aplicada quando a repetição densa encontra uma exploração baseada na própria reiteração; ao invés dos mesmos sons, ecoa um procedimento ambíguo que tem sua completude exatamente quando eclode no outro. Daí o resquício temático que tão facilmente pode-se reconhecer no avançar das audições, o que não garante nenhuma mesmice.

A música não pode representar rigidamente um processo explorador, mas ela garante ao criador e ao ouvinte um compartilhamento sempre impressionante e esquisito.

1. Raga Salak At-Tariq
2. Fogo Interior

NOTA: 8,0
Lançamento: 4 de março de 2017
Duração: 29 minutos e 13 segundos
Selo: Sorriso Selvagem Edições
Produção: Yantra

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