RINGO DEATHSTARR NA LEGA ITALICA – COMO FOI

Foi uma semana intensa. O texanos do Ringo Deathstarr vieram pro Brasil pela primeira vez e fizeram quatro shows num país em que poucos conhecem sua obra. São Paulo duas vezes, Curitiba e Rio de Janeiro puderam presenciar uma banda em ascensão – e a banda pôde viver um momento sem igual na carreira.

Do primeiro show em São Paulo, no Espaço Cultural Walden, há uma semana, pra esse, houve uma grande diferença de entusiasmo e de cenário – e houve um choque de realidade.

Na estreia em solo brasileiro, o Ringo Deathstarr tocou pra oitenta pessoas, numa apresentação quase intimista, que só se tornou descontraída do meio pra frente – o gelo foi sendo quebrado (ou derretido) aos poucos. Foi ensurdecedor, como espera o consumidor desse tipo de produto. A expectativa foi cumprida. Curitiba e Rio de Janeiro também tiveram sua cota de ruídos, pancadas e vocais adocicados – as duas praças aprovaram.

Daí chegou a maior prova pra banda: um espaço pra quinhentas pessoas, de novo na maior cidade do país.

Com a resposta positiva daquela primeira noite, era de se esperar uma boa presença de público. Pois não foi o que ocorreu. A Lega Italica, um espaço bem localizado, perto do metrô, no centro da capital, recebeu pouco mais de duzentas pessoas pra ver quatro bandas nacionais e o trio estadunidense. Esse é o tamanho de uma banda como Ringo Deathstarr no Brasil. Espero que “por enquanto”. No fim, é uma pena – pra quem não foi.

Apesar da acústica não muito amigável e um ou outro escorregão do som, tudo transcorreu como se esperava em troca dos quarenta reais (no máximo) do ingresso: guitarras altas, barulho, suor, diversão.

A Espiral de Bukowski, Subburbia, The Concept e Single Parents (com uma apresentação muito boa, apesar da obviedade de se tocar uma cover do Nirvana, embora de uma música nada óbvia, “Aneurysm”) fizeram um bom aquecimento, pano de fundo pros amigos tomarem uma cerveja e botarem a conversa em dia, ou pra estufar de noise e afins o peito daqueles que se mantiveram na frente do palco o tempo inteiro.


The Concept


Single Parents

Quando o Ringo Deathstarr tomou seu lugar e empunhou os instrumentos, logo após a meia-noite, os presentes se amontoaram na frente do palco. Dizem que qualidade é melhor do que quantidade, pois nesse quesito aqueles fãs valiam por muitos. Ao meu redor, a maioria sabia quase todas as músicas de cor, não só do primeiro disco, “Colour Trip”, de 2011, mas dos primeiros singles, EPs e tals.

Esse calor da torcida fez a banda, visivelmente cansada pela semana de muitos quilômetros rodados e excessos cometidos, se empolgar. De novo numa ascendente, o show começou morno, com “Starrsha” e a nova “Waste”, e foi terminar num bis ensurdecedor, com duas coveres inusitadas, gracinhas da baixista Alex Gehring (vestida pra matar e simpaticíssima) e uma boa parte da plateia em êxtase.

No recheio, seis músicas do novo disco, “Mauve”, e uma pequena diferença pro set do “show intimista”. Teve “Shadow”, “Summer Time” (com Alex empunhando uma guitarra), cinco de “Colour Trip” e três “das antigas”.




Se o repertório poderia acabar frustrando quem viu esse segundo show em comparação ao primeiro, porque teve pouca variação, valeu intensa e imensamente por conta das coveres de “Today Your Love, Tomorrow The World”, do Ramones, e uma especial de “Dead Mantra”, do Dead Skeletons (desse discaço aqui), com aquela boa dose de barulheira, esporro e microfonia no final, que todo mundo sempre espera e faz a apresentação ser admirada pra além dos apreciadores de shoegaze.

Talvez ao fim dessa jornada de quase dez dias no Brasil, Alex Gehring, Elliott Frazier e Daniel Coborn tenham levado o calor do país no coração, sentido essa experiência como algo realmente especial e valoroso. Os três circulavam entre os presentes com desenvoltura, conversavam com quem quisesse puxar um papo e curtiram as bandas de abertura com interesse legítimo, algo raro de se ver de artistas de fora.

O saldo foi positivo pra ambas as partes. Público e banda trocaram experiências valiosas. Mas se aos olhos dos gringos o Brasil é um país adorável, aos olhos do mercado interno, há muito o que se entender e aprender: qual a fatia de consumidores dispostos a pagar pra conhecer bandas realmente novas, fora dos holofotes da mídia mais do mesmo?

É uma discussão cansativa, cuja solução que se avista é, infelizmente, não muito animadora.








Todas as fotos: Ana Cláudia Famá
Todos os vídeos: Fernando Augusto Lopes

01. Starrsha
02. Waste
03. So High
04. Kaleidoscope
05. Burn
06. Drain
07. Nap Time
08. Tambourine Girl
09. Shadow
10. Summer Time
11. Slack
12. Some Kind Of Sad
13. Rip
14. Two Girls
15. Chloe
16. Swirly
17. Sweet Girl

Bis
18. Today Your Love, Tomorrow The World (Ramones Cover)
19. Dead Mantra (Dead Skeletons Cover)

Veja “Tambourine Girl”:

“Summer Time”:

A nova “Slack”:

A cover do Ramones “Today Your Love, Tomorrow The World”:

E a cover de “Dead Mantra”, do Dead Skeletons:

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