80 BANDAS E 80 VÍDEOS AO REDOR DO MUNDO

Oitenta vídeos em plano sequência (sem cortes) ao redor do mundo. Um projeto invejável que dois artistas brasileiros resolveram impor a si próprios, unindo a vontade de viajar, de filmar, de criar, de conhecer artistas que gostam e de conhecer outras culturas. Quem não queria estar na pele de Leo Longo e Diana Boccara?

Pois não foi tão fácil assim. Só o desejo não é suficiente. É preciso planejamento, grana, força de vontade pra encarar dificuldades e desapego. A dupla teve tudo isso ao começar no primeiro trimestre de 2015 o projeto “Around The World In 80 Music Videos”, filmando “Eu Era Feliz”, com os mineiros do Pato Fu.

Daí, logo se seguiram Selvagens À Procura Da Lei, Vanguart, Nevilton, Móveis Coloniais De Acaju, Scalene, Vespas Mandarinas, Brothers Of Brazil, Vivendo Do Ócio, Bidê Ou Balde e viagem pra Portugal pra fazer Noiserev, em Lisboa, nas primeira perna internacional “ao redor do mundo”.

Desde então, já passaram por Hong Kong, Coreia do Sul, Japão, Austrália, Inglaterra, Estados Unidos, Irlanda, Alemanha, Itália, México, França etc. etc. e coloca etecetera aí. O sonho se tornou realidade: “tudo foi conquistado porque acreditamos e amamos demais o sonho que criamos. E ver isso hoje, treze meses depois de ter começado, é entender que se você quer, você não vai ter limites”, diz Leo Longo em entrevista ao Floga-se. “Não existe limites quando você quer fazer algo em que acredita”.

O projeto pode ser acompanhado e relembrado e vasculhado no canal oficial no YouTube, clicando aqui. Cada vídeo e banda inclui um “por trás das câmeras” que é uma aula de como a dupla se virou em cada produção. Vale tanto quantos os clipes em si.

Dá pra seguir a viagem também no Facebook, com algumas fotos e relatos (clicando aqui).

Faça isso: siga essa viagem. E siga também, claro, seus próprios sonhos.

Floga-se: Como começou o projeto?

Leo Longo: Diana e eu sempre trabalhamos com TV no Brasil. Eu sou diretor e ela produtora e assistente de direção. Aliás, nos conhecemos trabalhando em um projeto juntos na Record. Em fevereiro de 2014, eu estava dirigindo um programa no History Channel e a Diana produzindo um programa na Discovery. E depois de muito tempo, conseguimos casar nossas férias e viajamos para o sul dos Estados Unidos. Era pra ser uma viagem de descanso e pra conhecer essa região incrível, que é o berço do jazz, blues e rock. Mas acabou sendo algo muito maior do que isso. Na nossa volta ao Brasil, voltamos com uma vontade incontrolável de juntar nossa arte (filmmaking) com essa história de estar na estrada junto com a música. Foi assim que isso nasceu. Voltando ao Brasil, finalizamos nossos projetos em TV e focamos nisso.

F-se: Largaram os empregos e foram pra cima ou eram frilas e focaram só nisso?

LL: Éramos frilas… Então, decidimos finalizar o que havíamos em curso e decidimos também não aceitar mais os convites que nos eram feitos, pra poder focar nesse projeto. Decisão difícil pois estávamos em momentos legais da carreira, com muita coisa aparecendo. Acho que eu recusei cinco convites pra trabalhar em diferentes projetos e Diana recusou dois. Foram eventos importantes pois mostrou que a gente estava muito focado no que queríamos fazer.

F-se: E o projeto de início já era fazer os 80 vídeos ao redor do mundo?

LL: Primeiro começamos com a ideia de dar a volta ao mundo filmando videoclipes. O número “80” veio depois de alguns brainstorms nossos… Achávamos super importante ter um bom nome, algo fácil das pessoas lembrarem e também que fosse auto-explicativo. Por isso, achamos apropriado adaptar o nome da obra do Julio Verne, que além de soar conhecido no mundo inteiro também tem um pouco a ver com nós: somos dois em busca de realizar algo que ninguém havia feito antes. E, por fim, também é algo que se explica sozinho, como queríamos. No início pensávamos: “putz, oitenta clipes é coisa pra caramba”, mas esses fatores que contavam a favor do nome valeu mais pra gente. E até falávamos: “o Julio Verne podia ter escrito ‘A Volta Ao Mundo em 50 Dias’, né?!”.

F-se: (risos) E, dentro do planejamento, vocês buscaram algum tipo de patrocínio? Temo que um projeto desses custe uma baita grana, não?

LL: Custa sim! Quando decidimos não aceitar mais propostas pra TV, obviamente olhamos pra nossas contas e nossas economias pra avaliar o que seria preciso fazer pra conseguirmos passar um tempo sem trabalhar, nos dedicando pra viabilizar o projeto e, obviamente, depois embarcar nisso. Então, passamos seis meses tentando vender o projeto e sustentados pelo que havíamos acumulado com nossos trabalhos nos últimos anos. Chegamos a contatar mais de duzentas empresas e visitar cerca de oitenta, que gostaram do projeto e nos pediram pra apresentar pessoalmente. Estávamos bastante animados, todos viam com muito bons olhos… Porém, chegou o Natal de 2014 e depois de meio ano nisso, não havíamos fechado nenhuma parceria comercial. Mas como era um projeto que já estava muito vivo dentro da gente, achamos que dar um passo pra trás não seria o ideal. Não falamos isso por orgulho ou teimosia, mas porque tínhamos certeza de que seria algo importante a ser feito. Era o que nos fazia acordar todos os dias. Foi então que decidi usar o dinheiro do meu apartamento. Naquele mesmo ano, eu havia decidido vender um apartamento que comprei em São Paulo. Então, quando decidimos seguir em frente com nosso projeto, falei: “vou investir meu apartamento nisso”. E foi assim que fizemos. Era uma garantia de que o projeto poderia ser iniciado. Lembrando que o dinheiro que eu tinha não era suficiente pra bancar o projeto todo! Mas depois desta decisão, em janeiro de 2015, quatro marcas apareceram querendo fechar parcerias com a gente (risos). Parece que estavam querendo brincar com a gente! Mas acho que isso tem uma mensagem muito forte pra nós, porque era uma prova importante de se passar, sabe? Algo que vira pra você e diz: “ah, então você não tem dinheiro e vai desistir?”. E é algo que talvez até as oitenta marcas que visitamos pensaram: “eles não conseguir fazer isso, é um projeto muito complexo e talvez seja muito risco investir nisso”. Mas quando nos viramos pra viabilizar, a ideia se tornou mais forte ainda. Falando de custos, é um projeto no qual Diana e eu não ganhamos nada financeiramente. Não é um projeto com objetivo de fins lucrativos. Aceitamos cair na estrada pra fazê-lo devido a grande vivência que isso nos daria. Então, o custo do projeto é bancar comida, acomodação e transporte pra nós durante um ano e meio – e é muito dinheiro mesmo assim. Temos um orçamento com teto de cento e vinte dólares por dia… Daí, você faz as contas. E quando se trata de viagem internacional, não é uma grana tão luxuosa assim. Não dá pra comer fora, não dá pra ir em cinema ou show ou essas diversões que gostamos de fazer… Acomodação consome 60 a 70% disso.

F-se: Realmente não é… Mas, então, não fecharam com nenhuma das quatro empresas que entraram em contato com vocês?

LL: Em janeiro fechamos com essas quatro empresas, sim. HP Brasil, Swiss Air, Victorinox e Smirnoff. Além disso, conseguimos parcerias de permuta/apoio da Adidas Originals e da Evoke. Então, em março de 2015, quando começamos o projeto, eram nossos parceiros. E, sim, com HP Brasil e Smirnoff trouxemos produtos e valores das marcas pra dentro da nossa rotina. Se você pegar nossos episódios de “Behind The Trip”, fotos e posts no Facebook, vai ser impactado pelo conteúdo que geramos com eles. Foram dois parceiros que aportaram recursos no projeto. A Swiss Air achou o projeto incrível e foi uma das mais importantes parcerias que tivemos. Eles nos levaram para mais de dez países (durante seis meses). Cederam todas as passagens pro projeto neste período. Um baita parceria!
A Adidas Originals foi parceira nossa em alguns clipes no Brasil e também nos ajudou a montar nossa mala de viagem. E ainda a Evoke e a King 55 foram parceiras com permuta. Nos deram produtos e fazíamos exposição deste produtos em nosso conteúdo. A Omint, que tem o seguro-viagem Premium Assistance, nos deu seis meses de cobertura completa pra iniciarmos a viagem. Também, em troca, citamos eles em algumas oportunidades.

F-se: Faltou grana?

LL: Temos que focar hoje em conseguir terminar o projeto com os recursos que temos e fazer o melhor que podemos pra atrair mais pessoas. Não conseguimos captar todos os recursos suficientes pra finalizar o projeto. Estamos batalhando agora pra captar os recursos necessários pra mais um mês. É o que nos separa do fim: três mil dólares, pela conta que eu te falei de cento e vinte dólares por dia. Mas estamos otimistas com algumas possibilidades que estamos abrindo. No total, 60% é investimento nosso e 40% foi investido por parceiros. Nosso investimento terá retorno em cerca de um ano quando pretendemos arrecadar com a produção do nosso livro, do nosso documentário e com palestras pelo país falando do projeto. É a conta que montamos. Por isso falo que esse 60% investidos por nós chama-se investimento.

F-se: Na questão de conteúdo, vocês já sabiam o roteiro que iam seguir e as bandas que iam filmar?

LL: Não tínhamos nada fechado no início mas sabíamos o que queríamos! Queríamos passar por países que tinham relevância regional ou global com a música e a ideia sempre foi gravar com bandas do rock e seus subgêneros (punk, hard, alternativo, indie, folk, post etc.). Nossa pesquisa de bandas sempre começa três meses antes de chegarmos em nada país. E com cerca de dois meses antes, começamos a fazer os convites. Achamos que uma antecedência maior do que essa não era tão interessante, nem pra nós e nem pras bandas.

F-se: Por que começar com o Pato Fu?

LL: Porque foi a primeira banda a dizer sim ao projeto. Fizemos um Skype com o empresário da banda, no fim de 2014 e ele e banda amaram o projeto.

F-se: Há alguma regra pra escolher as músicas de cada banda?

LL: Sim, alguns critérios. Tem que ser do universo rock. Ser ativo na web e nas redes sociais – achamos que quando uma banda cuida da sua comunicação direta com seu público e se importa em atualizar sua audiência com fotos, videos e posts, mostra que eles se importam com o trabalho que fazem… Isso é muito importante pra nós, que também somos um projeto online. E o último critério é estudar quem são as bandas, como eles pensam e agem em questões como colaboratividade, criatividade e capacidade de realização. Mas no fim das contas, quem escolhe mesmo participar do projeto são as bandas. São elas que devem olhar pro nosso projeto, assistir os clipes, ver nossa postura e dizer: “quero participar disso”.

F-se: Mas a música já podia ter um vídeo anterior? Vídeo oficial, eu digo…

LL: Ah, não! Nunca! Nosso projeto é a primeira série de produção de clipes pelo mundo. Por isso, são só clipes oficiais das bandas. Só teve um caso em que não gravamos clipe de uma música atual de banda. Eu digo música do atual álbum de trabalho da banda. Dos sessenta gravados até agora, só uma música não foi do atual álbum da banda. Foi com Móveis Coloniais de Acaju… O primeiro álbum deles estava completando dez anos em 2015 e uma música deste álbum nunca saiu do setlist da banda em seus shows e não tinha clipe… A música é “Copacabana”. Achamos que pela data comemorativa e momento importante pra eles, achamos legal filmar uma ideia desta faixa.

F-se: Quantas bandas por país? Como determinar isso, é por conveniência das bandas?

LL: A quantidade de bandas por país segue um feeling nosso. Tentamos gravar com mais bandas em países que com maior expressão e influência musical. Por sermos do Brasil, filmamos dez clipes no Brasil. Reino Unido e Irlanda, um forte mercado global, filmamos sete. Na Coreia do Sul, forte mercado no sudeste asiático, filmamos quatro. Na Austrália, que também é importante no mercado global e asiático, filmamos seis. Nos EUA, foram dez. México, que também dita muito do que é ouvido de rock na América Latina, seis. E assim por diante. Na Europa, passamos por Portugal, França, Itália, Alemanha, Inglaterra, Escócia e Irlanda. Como nosso passaporte brasileiro só nos permitia ficar três meses na Europa e mais três meses no Reino Unido e Irlanda, foi o que conseguimos fazer. Nossa ideia era fazer Espanha e dois países do leste europeu, mas não deu.

F-se: Quais foram as maiores dificuldades, além das financeiras, claro, que vocês enfrentaram?

LL: Acredite se quiser, fora a financeira não tivemos problemas expressivos de maneira geral. Acho que um projeto deste, que busca realizar trocas colaborativas com artistas de todo o mundo, é muito bem recebido por todos. Não achava que seria assim, mas nos surpreendemos a cada país que chegamos. Talvez, a grande dificuldade seja fazer tudo em duas pessoas. Mas como é nosso desafio, encaramos isso menos como um problema e mais como motivação. Mas não deixa de ser dificuldade. Temos que construir novas relações de confiança a cada país que chegamos e a cada banda que falamos. No início era até mais difícil. Imagina você ter poucos clipes no ar e ter que dizer pra banda que aquilo vai ser legal e de fato iremos até eles gravar? Não foi fácil. Hoje, nosso cartão de visita está no ar. A banda entra lá, vê que passamos por dezoito países, que fizemos uns clipes mais criativos, outros mais simples, outros mais divertidos etc. Mas não dá pra negar que construir novas relações de confiança a cada país que atingimos não é tão simples.
As bandas são convidadas a participar do projeto. Ninguém paga nada pra ninguém. E por isso mesmo, os clipes são feitos de forma colaborativa entre todos, desde a ideia até a gravação. Então, quando falo em criar confiança entre bandas e nós, significa deixar claro que vamos precisar da ajuda deles pra tudo. Ajudar a achar locação, já que não somos de lá, pensar em formas de encontrar um ator ou dançarino ou algo assim caso a ideia que temos pede isso etc. Óbvio que Diana e eu já criamos nossos processos e também sabemos bem como conseguir abordar outras comunidades artísticas em nada cidade que vamos, pra colaborarem conosco, mas ter ajuda e comprometimento da banda é fundamental. De maneira mais micro, já tivemos três vezes problemas com banda que desiste de participar poucos dias antes da gravação. E isso é sério porque perdemos uma semana de vida naquele país – é dinheiro e é muito trabalho.

F-se: Dessa maneira, começar pelo Brasil ajudou, não? Outra coisa: o roteiro. Como é feito o roteiro? Acertam a quatro mãos com a banda, vão com a ideia antes?

LL: Começar pelo Brasil foi fundamental. E tivemos sucesso também com as bandas que convidamos. Eu conhecia metade das bandas ou tinha amigos em comum por ter dirigido programas na MTV e Cultura. Então, foi um caminho onde a barreira da confiança foi mais fácil de passar. E como são bandas incríveis e bem-sucedidas, aí, isso ajudou a dar mais corpo. Assim como foi importante começar a etapa internacional por Portugal também. Sobre os roteiros, seguimos mais ou menos o seguinte processo: a banda indica uma música ou nós dizemos que gostamos muito da música tal; perguntamos detalhes sobre a história da letra e perguntamos também se a banda já enxerga algo visual pra aquela música; Diana e eu fazemos nossos brainstorms, juntando o que a banda já disse, vendo o perfil da banda nos clipes deles e acrescentando nossas percepções e inspirações sobre tudo; enviamos pra banda sempre um moodboard com duas ou três ideia, elas escolhem uma delas, ou a gente mixa as três, ou cria uma nova e aí segue… Mas é em quatro mãos. Já teve clipe que a banda tinha a ideia e queria aquilo. Já teve clipe que a banda quis fazer tudo do jeito que pensamos. Já teve clipe criado na hora da gravação. É um processo criativo muito peculiar de cada banda e respeitamos demais isso. É menos do nosso jeito e mais do jeito que vamos descobrir de trabalhar com cada artista. Só pra dar o exemplo de Happy Hollows: sentamos com eles num bar e ficamos conversando sobre a musica e sobre sensações que a música nos trazia. A conversa foi avançando, avançando e o Matt Fry, guitarrista da banda, falou do irmão dele, que era campeão mundial de jump rope, saímos do bar com isso na cabeça e fomos evoluindo a ideia e chegamos nesta ideia final. Se o Matt não falasse nada, teríamos ido por outro caminho. Mas ele citou o irmão naquele papo, até meio que sem pensar que este poderia ser o clipe (veja o clipe aqui).

F-se: Alguma banda não gostou do material final?

LL: Sim… inclusive nós mesmos não gostamos. Já criamos ideias que precisariam de mais tempo pra produzir, pra testar, pra ensaiar e tal. E o tempo é importante pra maturar e fazer crescer a ideia. E às vezes o resultado não sai do jeito que queríamos. E não é legal quando isso acontece. Mas estamos aprendendo (ainda) a lidar com isso. Mas uma coisa é certa, não dá pra ter o mesmo nível de qualidade em todos os oitenta clipes. Uns são mais simples, outros mais complexos, uns mais criativos, outros mais divertidos. Tudo depende de uma infinidade de fatores: tempo, envolvimento da banda, ideia criada, condição climática, estrutura que encontramos pra realizar a gravação etc…

F-se: E quando não gostam, refazem? Já teve caso de ter que refazer? Como fica essa relação de confiança?

LL: Não chegamos a regravar nenhum clipe até hoje. Quando o artista não gosta, tanto ele quanto nós entendemos quais foram os problemas que tivemos. E isso é muito importante! Mas nunca ninguém disse: “não quero que vá ao ar”. Como só filmamos plano sequência, todo clipe é meio que aprovado no mesmo dia da gravação. Quando não gostamos, regravamos ali mesmo, arrumando uma coisa ou outra.

F-se: Como tá sendo a receptividade desse projeto? Você acompanha ou tem números pra acompanhar? Projetavam algo antes de começar?

LL: Sobre a receptividade, acho surpreendente. É legal ver tantas bandas, tantos artistas e a imprensa no mundo todo querendo falar sobre o que estamos fazendo. É algo positivo e inovador, as pessoas gostam disso. Sobre projeções de números, tivemos que ter no início principalmente porque algumas marcas queriam e precisavam saber. Boa parte delas vingou, como por exemplo o número de seguidores de nossas redes sociais que esperávamos depois de um ano de projeto. O número de visualizações do nosso canal também é legal, com 1.8 milhão de views em um ano. Mas pra falar a verdade, no dia-a-dia não conseguimos muito pensar e avaliar isso tudo. É um projeto independente, sem recursos pra patrocinar posts e promover nossos videos no YouTube. E sabemos que isso faz TODA diferença na web. Mas temos que focar hoje em conseguir terminar o projeto com os recursos que temos e fazer o melhor que podemos pra atrair mais pessoas. Não conseguimos captar todos os recursos suficientes pra finalizar o projeto. Estamos batalhando agora pra captar os recursos necessários pra mais um mês. É o que nos separa do fim: três mil dólares, pela conta que eu te falei de cento e vinte dólares por dia. Mas estamos otimistas com algumas possibilidades que estamos abrindo. No total, 60% é investimento nosso e 40% foi investido por parceiros.

F-se: E na parte técnica, vocês usam sempre o mesmo equipamento? Como rola a iluminação de internas e noturnas? Material cenográfico, como faz?

LL: Como na maioria das viagens internacionais o limite de bagagem por pessoa é uma mala despachada de vinte e três quilos e uma mala de mão de sete quilos, temos que viajar leve. O equipamento que tenho é uma câmera DSLR 5D Mark lll, com um bom jogo de lentes Canon série vermelha: 50mm 1.4, 24-70mm 2.8, 100mm 2.8 e uma grande-angular 14mm 2.8. Também tenho 1 Shoulder com followfocus mais um estabilizador de imagens chamado GlideCam HD 4000 – que não funciona tão bem como uma Steadicam, mas ajuda muito se bem trabalhado. Quando temos ideias nas quais meu equipamento não é suficiente, corremos atrás de pessoas que possam colaborar conosco pra ter algo diferente. Por exemplo, Happy Hollows. Neste clipe o filmmaker amigo da banda, o Eric Kelly, tem uma câmera que faz slowmotion e ele aceitou colaborar conosco. Na Coreia do Sul, tivemos ideia pra um clipe em slow também. A banda gostou tanto que alugou pra nossa gravação. Quando precisamos de luz, é a mesma coisa. Não temos! Se precisarmos, temos que correr atrás. E material cenográfico tudo da mesma forma: ou a banda ajuda a comprar ou corremos atrás de parceiros que nos forneçam. Diana e eu nunca alugamos. Não temos dinheiro. Sempre a banda, caso ache que a ideia é boa e pode funcionar. Mas caso a banda não tenha ou não queira investir, aí criamos ideias onde não sejam necessários gastos como estes.

F-se: Qual o maior aprendizado nessa maratona?

LL: Primeiro, não existe limites quando você quer fazer algo em que acredita. Tivemos e temos problemas com viabilizar o projeto, encontrar bandas e pessoas pra colaborar, dificuldades com culturas e formas de trabalhar bem distintas uma das outras, criar as relações de confiança etc. Tudo foi conquistado porque acreditamos e amamos demais o sonho que criamos. E ver isso hoje, treze meses depois de ter começado, é entender que se você quer, você não vai ter limites. E, segundo, existe um mundo muito grande disposto a colaborar com ideias inovadoras e pessoas éticas. Sentado na frente do computador ou lendo o jornal, é difícil de enxergar otimismo na humanidade. Mas quando viajamos e conhecemos as pessoas que conhecemos, vimos que existe um mundo muito mais incrível que o que conhecíamos.

F-se: E pós-maratona, o que vem?

LL: O canal do YouTube ficará no ar pra sempre com os clipes e todos os episódios do “Behind The Trip”. O conteúdo que captamos e todo arquivo que temos serão usados no documentário que vamos começar a produzir quando voltarmos ao Brasil. A este material iremos adicionar novo conteúdo que vamos captar provavelmente no início de 2017. O livro que pretendemos lançar deve ser dividido em oitenta capítulos, nos quais contaremos histórias por trás da produção de cada um dos clipes. Será bastante visual, com fotos que estamos colecionando durante o projeto. As palestras terão como foco principal universidades e profissionais. Achamos que nosso projeto pode inspirar novos profissionais a investirem mais em produção independente e na criação de projetos mais transgressores e alternativos, e mostrar que isso pode ser viabilizado comercialmente. É importante lançar luz pra além da produção de filmes, programas de TV e séries de web. Audiovisual pode e deve ser usado pra abrir outros caminhos. Quando a gente está correndo e decide parar, a inércia faz com que não consigamos parar na hora que queremos. Acho que a inércia deste movimento que estamos fazendo vai desacelerar de acordo com as leis da Física e algumas coisas devem acontecer após isso. Já estamos criando ideias novas de projetos alternativos e em 2017 teremos bastante trabalho pra viabilizá-los. Mas não será uma segunda temporada deste projeto. Acho que “Around The World In 80 Music Videos” cumprirá seu papel social e artístico. E será estopim pra Diana e eu criarmos novas coisas a partir dele.

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