A MORTE DE LOU REED

Nunca pensei que fosse escrever esse texto. Não que Lou Reed não fosse de fato, um dia, morrer. Mas você não espera que esse dia chegue, ou mesmo que pudesse sequer acontecer. Lou Reed, de carne e osso, ser pensante e errante, não existe mais. Daí, caímos no mais baixo e óbvio clichê: ele continua a viver através da sua música, da sua arte, da sua história e de toda a sua influência.

É verdade. Sempre fui um fã legítimo do Velvet Underground, pra mim a mais importante manifestação artística na música. Artística, arte. Não a partir da aproximação de Andy Warhol com a banda, uma manifestação direta e óbvia, mas pela postura de Reed e, principalmente do outro gênio, John Cale (vale ler esse artigo), fazendo da música veículo pra expressões artísticas visuais e das poesias derramadas por seus vocais, enquanto guitarras e ruídos cortavam a retaguarda.

Ainda bem, eles foram reconhecidos em vida e puderam desfrutar dos louros bem devidos. Mas a morte de Lou Reed encerra de vez qualquer possibilidade dessa dupla se reunir novamente, como, a despeito do que poderia parecer um reencontro caça-niqueis, em 1990, no brilhante disco “Songs For Drella”.

Sobre sua morte, John Cale falou: “O mundo perdeu um ótimo compositor e poeta… eu perdi meu ‘amigo de escola'”.

Perde a música, e perde principalmente a humanidade. Reed foi um daqueles geniais e privilegiados cérebros incisivos no incômodo. Apesar de escorregões que a carreira solo ofereceu (e o infeliz último registro, “Lulu”, de 2011, com o Metallica), nada supera a grandeza dos discos com o Velvet Underground, incluindo as coletâneas, os lados B, os registros ao vivo.

Nada pode macular uma obra que tem “Transformer” (1972), “Berlin” (1973) e “New York” (1989), além da incrível contribuição ao noise, com o provocativo (e irônico, como preferir) “Metal Machine Music” (1975).

Lou Reed morreu no dia 27 de outubro de 2013, domingo, aos 71 anos. Segundo a Rolling Stone, “a causa da morte não foi oficialmente confirmada, mas ele havia passado por um transplante de fígado em maio”. Ele nasceu Lewis Allan Reed no Brooklyn, em Nova Iorque em 1942. Morreu em Long Island, na mesma Nova Iorque que mostrou ao mundo, embora tenha se firmado pra além de suas fronteiras, no início da carreira solo, quando se estabeleceu na Europa.

Lou Reed esteve no Brasil pela última vez em 2010, em apresentações no SESC Pinheiros, em São Paulo. O projeto era o “Lou Reed’s Metal Machine Trio: MM3. Sem Canções e Sem Vocais”, mas ele tocou Velvet Underground também. O Floga-se esteve lá. Antes, ele havia cancelado sua participação na festa literária de Paraty.

Nesses shows com o Metal Machine Trio, o brasileiro pôde entender o artista imprevisível que ele era. No alto de sua história, ele não se incomodou em incomodar, ele escapou da caminho fácil de agradar por agradar. Não só nesse projeto.

Dificilmente alguém poderia traçar com fidelidade a rota das influências que o Velvet Underground de Cale e Reed plantou na história da música. Muitas bandas, músicos, letristas e até jornalistas se inspiraram por suas criações.

Então, sim, Lou Reed ainda vive. Mas agora é só memória e infinitas notas por aí. Sempre que um artista distorcer uma guitarra, fizer um ruído aqui e acolá, declamar uma poesia entre distúrbios sonoros, é Lou Reed que está falando por ele.

Nós prestamos uma singela homenagem aqui. Dez dos mais importantes discos dele pra você ouvir na íntegra, em ordem cronológica. Tem data de início, mas não de fim. Sua música não terminará jamais.

COM O VELVET UNDERGROUND
(avise-nos se algum player não funcionar)

“The Velvet Underground And Nico” (1967):

“White Light White Heat” (1968):

“The Velvet Undergound” (1969):

“Loaded” (1970):

SOLO

“Transformer” (1972):

“Berlim” (1973):

“Sally Can’t Dance” (1974):

“Metal Machine Music” (1975):

“The Bells” (1979):

“New York” (1989):

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Comentários

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2 comentários

  1. Ainda estou abalado. Lou Reed foi mais que um musico. Um genio criativo no universo underground. Um precursor do punk. O poeta maldito do rock and roll.

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