AO VIVO: MUDHONEY NO BERLIN INDEPENDENT DAYS FESTIVAL (1988)

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Logo no início da carreira, o Mudhoney conquistou uma resenha lapidar sobre o que vinha a ser não apenas aquele som que orbitava em torno da Sub Pop, mas as atitudes, o tipo de virada que ele significava. Kim Thayil, guitarrista do Soundgarden, viu a banda numa apresentação em Seattle, logo após o lançamento do single “Touch Me I’m Sick” e ficou genuinamente impressionado: “o Mudhoney era empolgado, bem selvagem. Meio como uma banda de rock deveria ser: totalmente fora de controle. Era mais crua. Era mais selvagem. Tinha o elemento que muitas pessoas têm medo, que é o caos. O que faz o heavy metal nada atrativo pra mim é o fato que eles precisam colocar cada nota no seu lugarzinho certo. (…) Eles têm medo de fazer qualquer coisa mais selvagem – até mesmo Hendrix era assim, o MC5 era assim e os Stooges eram assim. Heavy metal e o punk até compartilham as mesmas raízes, mas a obsessão fascista do heavy metal com a ordem tirou toda a vida daquela música. E o Mudhoney era o exato antídoto a tudo isso”.

A real empolgação que a banda causou naqueles primeiros passos levou seus integrantes e o selo a pensar em espalhar essa insanidade pra outras fronteiras. Ao finalmente tocar em Nova Iorque, Bruce Pavitt, fundador da Sub Pop, e Jonathan Poneman, o primeiro sócio do selo, conheceram Reinhard Holstein, dono do selo alemão Glitterhouse. Ambos os selos firmaram uma parceria de distribuição nos dois países e uma das primeiras movimentações de trocas de gentilezas, foi levar o Mudhoney pra tocar no Berlin Independent Days Festival de 1988, na capital germânica.

O evento não era um simples festival de música. Pra além disso, tinha seminários durante o dia, pra investidores, jornalistas, redes de lojas, e shows à noite.

Então, pela primeira vez na carreira, o Mudhoney tomava um voo pra fora dos Esteites, com o intuito de tocar pra uma nova plateia. Uma plateia não de fãs, mas profissionais da área. Seria apenas o décimo-segundo show da carreira deles. Eles ainda não haviam sequer feito uma turnê em seu próprio país. Em dez meses de existência, além de Nova Iorque, o mais longe que o Mudhoney já havia tocado, fora de Seattle, foi em Portland, apenas a trezentos e vinte quilômetros de casa. O próximo passo era do outro lado do Atlântico, pra uma audiência que canta e pensa e fala em outra língua.

O baterista Dan Peters chegou a declarar: “tocar na Alemanha… aquilo foi insano! Nós fomos pra Europa pra fazer um único show! Era inacreditável: eu jamais havia saído do país!”.

O show não foi só um show “comum” por esses aspectos da novidade. Os alemães não brincam em serviço, ainda mais num evento com finalidades de negócios. A apresentação foi toda filmada por uma equipe profissional de som e imagem, de modo que o material todo acabou saindo em DVD em 2012 (e amplamente noticiado à época), pela !K7 Records, com o título “Mudhoney: Live In Berlin 1988”. São quarenta e dois minutos daquela apresentação que teve, enfim, apenas nove músicas.

Uma banda novata, em toda sua energia nascente, com sequer um EP lançado – o EP de estreia, “Superfuzz Bigmuff”, saiu dia 25 de outubro daquele ano, quinze dias após o show na Alemanha, e “Mudhoney”, o primeiro álbum, sairia apenas um ano depois, em 1º de novembro de 1989.

O Mudhoney, é sabido, nunca se prestou a fazer o tipo “rockstar”. Ao contrário disso, leva uma vida bem sossesgada e se transforma no palco. Diversão e tiração de sarro fazem parte da estrutura do grupo. A uma altura do show, Mark Arm vira pra plateia e diz: “quem gosta da gente baixa as calças agora!”. Obviamente, ninguém atendeu à chantagem emocional, o que fez Arm concluir: “acho que ninguém gosta da gente”.

Pra além do DVD que todo mundo conhece (e provavelmente comprou), a parada na Alemanha significou muito mais pra Sub Pop do que propriamente pro Mudhoney. Pavitt e Poneman trabalharam pra valer, enquanto Mark Arm e companhia se esbaldavam nas reconhecidas delícias cervejeiras daquele país. A dupla fez contatos com todo tipo de jornalista, distribuidor, selo, promotores de shows, na intenção – depois muito bem sucedida – de levar o “som Sub Pop” pra todo o mundo.

Além de sua importância histórica, o show apresenta um dos maiores grupos de rock’n’roll de todos os tempos, uma gloriosa bagunça de cabelos desgrenhados, rifes distorcidos, gritos, ironia ácida e o anúncio do antídoto vislumbrado por Thayil não muito tempo atrás.

1. No One Has
2. Sweet Young Thing (Ain’t Sweet No More)
3. Need
4. Chain That Door
5. If I Think
6. Mudride
7. Here Comes Sickness
8. Touch Me I’m Sick
9. In ‘N’ Out of Grace

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