ARTHUR AZOUBEL – THE DREAM FABRIC EP

“O tecido de sonhos”. Um título lúdico marca a estreia solo de Arthur Azoubel, baterista da pernambucana Team.Radio. “The Dream Fabric” é um trabalho delicado, bonito, calmo, experimental, o sonho de muito ouvinte pelas madrugadas.

São sete faixas no total, mas o próprio artista publicou no Soundcloud e no YouTube como se fosse uma faixa só, pra que você possa ouvir de cabo a rabo, como se fosse um filme, uma história.

Disse ele numa rede social, ao lançar o disco: “não é um trabalho de guitarradas, nem de baterias frenéticas, nem de solos virtuosos, portanto, releve a técnica contida nas músicas, e se desprenda de estereótipos tradicionais da música contemporânea. Escute, de preferência, num momento de calmaria, e da primeira à última faixa, ininterruptamente. Há um conceito que une todas elas, e inclusive algumas são literalmente mescladas no meio do caminho pra dar uma sensação maior de imersão”.

Qual é o conceito? Conversei com Arthur sobre o disco e ele explicou o que foi possível explicar: “é um pouco subjetivo, como se fosse um lençol que pudesse conter todos os sonhos e todo esse mundo não-real; na verdade, eu creio que veio mais do conceito de espaço-tempo da física, como se esse fabric, tecido, fosse exatamente o tecido do espaço-tempo”.

Indo mais longe: “Einstein, quando veio com a Teoria da Relatividade, precisou criar esse conceito de espaço-tempo, que seria mais ou menos um ‘tecido’ que compõe todo o universo, e que em qualquer ponto em que você esteja, a noção de espaço como dimensão e de tempo, também como dimensão, estão sempre sempre atreladas. Sou engenheiro, mas leio muito sobre física, sou encantado por isso”.

É difícil dizer se as pessoas vão sacar essa viagem, mas o próprio Arthur tem noção da subjetividade de interpretação: “pois é, talvez (as pessoas) não (vão sacar), realmente, por se tratar de algo muito específico, mas acabei dando uma certa ‘dica’ pelo nome de algumas músicas, como ‘Singularity Point’, ponto de singularidade, que é um conceito físico sobre buracos negros”.

Quem conhece o trabalho da Team.Radio notará diferenças aqui. “De cara, acho que é possível notar que a proposta de interação com o ouvinte é diferente. A Team.Radio sempre procurou trabalhar muito em arranjos, usar instrumentos mais orgânicos, tentar fazer algo que soasse mais ‘ao vivo’ mesmo. No meu caso eu quis abordar um ambiente mais eletrônico, mais etéreo, que pudesse passar a sensação de uma imersão ambiental e etérea, sem me preocupar em conquistar o público através de arranjos complexos, ou de técnica musical, ou de uma harmonia muito bem montada”, diz Arthur.

O resultado é assertivo: faz o ouvinte mergulhar na música, e assim, de repente, está balançando a cabeça, batendo o pé e aquele som de fundo não toma todo o espaço; é música ambiente, às vezes quase musak, electropop oitentista; trilha de cinema.

Trilha de cinema. As trilhas de filme modernos foram inspiração pra Azoubel: “levei bastante em conta o meu gosto pessoal; curto muito trilhas sonoras, curto muito dream pop, chill out; alguns compositores de trilha, como Mark Isham, e bandas como Washed Out, The Radio Dept… Sou um cinéfilo de carteirinha, e adoro muito curtir esses aspectos de um filme que atuam no “backstage“, digamos… Uma tentativa de misturar o conceito cinematográfico com um pouco sobre a filosofia dos sonhos, exatamente pra trazer esse ambiente mais etéreo e subjetivo. A trilha de Mark Isham pra ‘Crash’ (‘Crash: No Limite’, ALE/USA, 2004), pra mim, é sensacional demais; também gosto muito da trilha de ‘Uma Mente Brilhante’ (‘A Beautiful Mind’, EUA, 2001), de James Horner; a de Daft Punk pra ‘Tron: O Legado’ (‘Tron: Legacy’, EUA, 2010) também ficou incrível…”.

Apesar de ser um trabalho solo, Arthur ganhou ajuda preciosa do companheiro de banda Roberto Kramer, que co-produziu o disco, além de masterizar e mixar. Na Team.Radio, Kramer normalmente chegava com algum tema montado e cada instrumentista ia dando forma à música final. Um trabalho coletivo. Aqui, Azoubel pode desabrochar musicalmente: “fora que a Team.Radio tava num hiato de quase dois anos, então bateu uma vontade de trabalhar em algo”.

O disco foi gravado de dezembro de 2013 a agosto 2014 no estúdio Monkey Business, em Recife. Arthur tocou guitarra, violão, percussão, piano e sintetizador, além de baixo em “Living”. “Reconheço que não tenho uma técnica tão aprimorada nos outros instrumentos que não seja a bateria”, assume, de modo que Kramer tocou baixo nas outras faixas.

A grande surpresa pro ouvinte é, depois de saber da paixão de Azoubel por cinema, descobrir que a bela voz feminina na faixa de abertura, a linda “Call The Keys”, não é sampleada de filme algum, é da irmã de Azoubel, Deborah Bonfá, recitando um pequeno texto escrito por ele. Ela canta também em “Singularity Point”.

Outra bela voz é a de Rebecca Simões em “In The Blink Of An Eye”.

A melhor faixa do disco é a derradeira, “The Real End”, tema instrumental que é um daqueles pop perfeitos (que a Team.Radio também tem a manha de fazer), pra qualquer compositor suspirar. Ilumina o dia.

No dia 4 de janeiro de 2015, de maneira independente, o disco chegou ao público. Você pode ouvir na íntegra aqui:

“Fiquei bastante satisfeito (com o resultado do disco). Como você pode ver, as gravações terminaram em agosto e eu só fui lançar agora em janeiro, nesse meio tempo fiquei bastante preocupado se realmente estava bom, se iria agradar etc. É aquela coisa, você fica muito acostumado com teu próprio trabalho e acaba perdendo aquele encanto inicial, mas quando outros escutam, parece que a coisa toma gosto novamente, a chama reacende”, diz.

Pros fãs da Team.Radio, junto com “The Dream Fabric”, vem outra boa notícia. Embora Roberto Kramer vá morar por um ano no Canadá e baixista André Maranhão tenha ido pra Argentina, também por um ano, a banda lançará um disco novo ainda no primeiro semestre de 2015, um trabalho que foi gravado há um ano e meio.

É o intervalo dos sonhos.

Abaixo, a lista de músicas e a bela capa criada por Fernando Athayde, com arte de Carolina Buononato.

1. Call The Keys
2. Traffic Flows
3. The In Between
4. In The Blink Of An Eye
5. Living
6. Singularity Point
7. The Real End

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