BEMÔNIO – LUZ AZUL

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“Cavaco, pandeiro, cuíca / Ganzá, tamborim, violão / E o samba, que coisa mais rica / E o surdo batendo no coração / Deixa / Tomo um trago e lavo o coração / Deixa / Que essa queixa não tem solução”. A cuíca, que coisa mais rica, não está no samba apenas, na bossa nova, nos partidos, em Vinícius, Elizeth ou Beth e Zeca. Está no Bemônio, em sua “Luz Azul”, rico e batendo no coração, no cérebro, na pele.

O oitavo disco do Bemônio chegou ao mundo em 13 de agosto de 2020, pelas mãos da QTV, etiqueta carioca de música torta, com essa mistura de noise e samba deteriorado e ácido.

Há um conceito por trás do disco, como é explicado na nota oficial à imprensa: “a dualidade do conceito de ‘Luz Azul’ guia o álbum em variados espectros. Se por um lado esse comprimento de onda luminosa é usado para tratar insônia e depressão, por outro pode trazer danos permanentes à visão”.

O que eles chamam de “um ponto fora da curva dentro do histórico do projeto”, eu diria que é um ajuste de capacidades e expansão de criatividades.

O disco tem a “cuíca envenenada” de Paulinho Bicolor como ponto alto, mas é um disco do Bemônio, como quem aprendeu a apreciar o Bemônio espera, especialmente em “Ato Idiota” e na atormentada “A Torre Da Derrota”.

O caso é que a cuíca faz toda a diferença – enriquece e aquece o coração, segundo Vinícius de Moraes, o que não deixa de ser verdade inclusive aqui.

Nas impossíveis (porque despropositadas) discussões sobre as possibilidades do samba na música popular, jovem, radiofônica, indie, torta, experimental, o que for, há um argumento que é sempre contundente e definitivo a favor do samba: basta colocar uma cuíca na lista de instrumentos e tudo muda.

Mudou aqui. Talvez tenha deixado até mesmo o Bemônio mais contido e soturno (como se fosse necessário), mas deixou também mais intrigante.

“O conceito surgiu em uma jam session em que Paulo Caetano e Eduardo Manso convidaram Bernardo Oliveira. O músico contribuiu com seus instrumentos de samba – pandeiro, tantan e chocalho -, além de incorporar elementos como tímpano virado, folhas secas, grelhas percutidas sobre mesa de ferro e gravações de campo disparadas do celular”, diz a nota à imprensa.

Eu, como apaixonado pelo samba, desde o “de raiz” até o muitas vezes caricato “de avenida”, ouço “Luz Azul” com inflada satisfação pelo o que os músicos conseguiram fazer.

“Roda Esse Corpo, Processe A Dor”, diz a música de abertura. “Como se fosse fácil”, eu diria. “Como se fosse fácil”, diriam eles diante dos desejos de se juntar tais instrumentos em intenções barulhentas e abstratas.

Nunca é facil. Mas quando dá certo, enriquece e bate no coração.

A mixagem e masterização são de Renato Godoy.

A produção é do trio Manso, Caetano e Oliveira.

A satisfação é do ouvinte.

1. Roda Esse corpo, Processe A Dor
2. A Base Do Teto Desaba
3. Livre Do Poder Vil
4. Ato Idiota (clique aqui pra ver o vídeo)
5. A Torre Da Derrota
6. O Medo Do Certo É O Treco Do Demo
7. Rezar Pede Prazer

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