BOREALIS – SIEMENSDREAM

borealis

Numa situação em que depois de uma bebedeira homérica, o cidadão acabe sendo acordado, ainda sem noção das coisas, com o quarto disco do Borealis, “Siemensdream”, no ouvido, seria o caso dele checar se ao invés de terem lhe roubado o rim não o colocaram numa máquina do tempo, que o transportou até a Alemanha setentista da Guerra Fria ainda bombando repetidamente na cabeça de ocidentais e orientais.

As notas repetidas, o sons cíclicos, os aspectos metálicos, tudo leva a um suspiro profundo.

“Siemensdream” causa uma boa impressão, tanto quanto “Omnia”, de 2019 (ouça e leia aqui), mas sua amplitude é maior (o Front 242 afanado em “Nichtclubbing” – e, claro, a batida Information Society do meio pro final, é uma reviravolta na própria construção narrativa).

Marco Antonio Barbosa, a mente e notas por trás do Borealis, precisou ele mesmo descrever o que representa o disco, de tantos detalhes contidos ali.

E o Floga-se pediu a eles, modo livre total, que assim o fizesse

QUEM SOU EU
Marco Antonio Barbosa, jornalista (leia seu Medium), consultor em sustentabilidade e, desde 2015, músico – no Borealis (vá ao site), que chamo de meu projeto de música eletrônica instrumental ruidosa.

Já gravei quatro álbuns, dois EPs e um single sob o nome de Borealis, tá tudo lá no site (ou, se estiveres numa de colaborar financeiramente com o projeto, basta visitar o Bandcamp e pagar quanto quiser pelos lançamentos).

Tudo caseiro: um laptop, um fone de ouvido, uma guitarra, um tecladinho, e é o que basta.

O QUE É “SIEMENSDREAM”
É o quarto LP do Borealis.

É o primeiro no qual eu cheguei perto de fazer um “álbum conceitual”, se vocês me desculpam a pretensão.

São oito músicas (nove faixas: uma das músicas é dividida em duas partes, abrindo e fechando o álbum) que fazem alusão à Alemanha. Uma Alemanha que eu conheci principalmente por meio de discos, filmes e livros, mas que eu também vi ao vivo (passei umas semanas de férias em Berlim, em 2017).

E ESSE FUNK TRONCHO AÍ?
Tem dois electro-funks, “Nichtclubbing” e “Tele-Funk-En” (olha o trocadilho aí de novo!).

Fiz essas músicas como experiências dançantes e intencionalmente mais acessíveis. E também pra lembrar a conexão entre o Kraftwerk e o electro, que chegou no Miami bass, que chegou no funk carioca… Mas também tem outras coisas. Tem uma homenagem explícita ao Neu! (“New!”, hehehe) – a ideia era soar como aqueles temas eletrônicos de telejornal dos anos 70.

Tem umas coisas mais pós-punk, como “Berliner” (que é inspirada no Joy Division) e “Hit”, tem uma faixa mais “drone” e soturna (“Zentropa”) e tem “Traum”, que foi a última música a ser composta e que resume o disco: o drone analógico, o loop meio funkeado que vira um motorik.

FALANDO EM LOOPS…
Tem seis samples de artistas famosos no disco. Nem todos são alemães. Uns são mais óbvios, outros não. Mais não digo, pra não tomar processo.

MAS POR QUE A ALEMANHA?
Minha ligação com a música alemã vem de longe. Ouço Kraftwerk há mais de 30 anos, e a partir deles eu vim conhecendo mais coisas.

O krautrock sempre foi uma grande influência no Borealis, particularmente o Neu! e o Can, mas também Tangerine Dream, Faust… E depois me embrenhei em Stockhausen, ali tem um mundo a desbravar.

Sempre ouvi os desdobramentos desses sons em outros artistas e estilos: Afrika Bambaatta, New Order, Primal Scream, Spacemen 3, Suicide, toda a turma do electro e do tecnopop. Então a ideia era fazer um disco reinterpretando esse universo, de uma forma meio lúdica.

E O TÍTULO?!
É uma piada com o disco dos Smashing Pumpkins e com a Siemens.

É um aspecto importante do conceito do álbum: a tecnologia alemã, sem a qual o país não seria a potência que é, e sem a qual o Kraftwerk não existiria.

E como o álbum também fala de uma Alemanha meio sonhada, eu (que não resisto a um trocadilho) cheguei a esse nome. Admito que é um trocadilho meio merda, porque só funciona lendo (e não falando) e a pessoa tem que ter a referência dos Pumpkins, ou seja, tem que ser um indie velho…

DAQUI PRA DIANTE
Não pretendo parar de fazer coisas com o Borealis.

Gostaria mesmo de chegar mais longe, tenho planos para divulgar “Siemensdream” na Europa e nos EUA e queria – antes da pandemia – testar o repertório ao vivo, fazer um lançamento de verdade. Ainda não dá, mas vamos levando.

Este disco já chegou bem longe, guardadas as devidas proporções, saíram matérias em sites legais, as pessoas estão elogiando.

Hoje em dia fazer e lançar música é um negócio angustiante porque não há dinheiro, a economia da atenção exige um ritmo brutal de produção e divulgação, o artista vira escravo das métricas. Sei que é um clichê, mas pra mim é verdadeiro: faço as músicas que eu quero ouvir, e se alguém mais gostar, já estou no lucro. Vem mais coisa aí.

O disco foi todo composto, produzido e executado por Marco Antonio Barbosa. Ele foi gravado em 2019, mas o lançamento é de 16 de novembro de 2020, pelas mãos do Scream & Yell.

E, sim, como ele sugere na sua página no Bandcamp, é pra tocar no volume máximo.

1. Endless…
2. Traum
3. Berliner
4. Nichtclubbing
5. Zentropa
6. Tele-Funk-En
7. New!
8. Hit
9. …Endless

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