RESENHA: BOREALIS – OMNIA

Depois de dois discos e uns EPs, especialmente “Swoon”, de 2018, que entrou nessa nossa lista, o Borealis chega com “Omnia”, acariciando experiências sonoras bem pessoais que evocam desde os sons eletrônicos mais simplórios dos anos 1980, até camadas de guitarras que se agrupam pra levar o ouvinte ao shoegaze subterrâneo dos anos 1990.

Mas o resultado também se faz, por vezes, distante a tais referências: é easy listening, ambient na essência (até mesmo no começo infernal de “Event Horizon”, é música pra contemplar e deixar o tempo passar. Nos dias de hoje, não é uma tarefa fácil, note-se. Parar pra ouvir um disco de cabo a rabo é uma tarefa renegada aos momentos de total ócio e não um divertimento em si. É a última alternativa. Mas o Borealis oferece uma saída pra isso: largar o celular, deitar no sofá e forçar o ócio.

Porque contemplar a si próprio é contemplar tudo, o todo, como insinua o título da obra, se a gente for caminhar por análises aninhadas com o mais raso discurso da auto-ajuda. Porém, não fuja por isso. “Omnia” capta a excelência experimental dos eletrônicos e guitarras que o artista foi desdobrando nos seus EPs (aqui, temos “Swoon” e “Haçienda”) pra construir um universo particular que, na essência das artes, é um universo pra todos – e pra tudo.

Aqueles minutos em que podemos (ou devíamos, ou costumávamos) parar pra ler, pra apreciar um quadro, uma fotografia, propõe-se o mesmo pra música, tão esquartejada em singles e canções descartáveis “pro verão”, “pro carnaval” ou sabe-se lá pro quê, como se uma obra de arte tivesse prazo de validade pré-determinado pelo próprio criador. A indústria pode ter se alterado a esse nível, a meras playlists em serviços de streaming, mas a música não é só isso, obviamente.

Marco Antônio Barbosa, a cabeça que dá vida ao Borealis, é jornalista experiente e tem estrada pra conseguir captar suas referências sem se fazer reverente ao extremo. Ele parece apreciar a ideia de experimentar e produzir sua ginástica sonora. Ele pode tudo, o que quiser, a partir do momento em que utiliza sua capacidade de composição sem grandes pretensões, e tal flexibilidade acaba gerando maravilhas como “Ride”, o “épico” de oito minutos, no qual guitarra, bateria eletrônica e microfonias sintetizam a teoria de algo como uma “liberdade-de-fato” (aquela liberdade pra além de estereótipos e necessidades de mercado ou exigências sociais), a liberdade pura.

A sua música eletrônica contemplativa e “ruidosa” ao mesmo tempo, com traços de pop, de synthpop (o início de “Turf Rock” é uma delícia), expõe a obviedade de que a música, como toda arte, não está fechada na clausura das obrigações. O seu “tudo” não é só um unificado de sua produção anterior, mas o seu “tudo” como artista e seu “tudo” de experiências, com toda a liberdade. Um apanhado que serve pra um bocado de gente, cujo único esforço necessário é esquecer a paranoia do mundo ao redor e apreciar.

01. Swallowed
02. Almost There
03. (Breaking) The Waves
04. Haçienda
05. Swoon
06. Ride
07. Event Horizon
08. Summer
09. D.B.
10. Turf Rock

NOTA: 9,0
Lançamento: 10 de janeiro de 2019
Duração: 56 minutos e 06 segundos
Selo: Scream & Yell
Produção: M.A.Barbosa

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