CRUSADER DE DEUS – RELAÇÕES PÚBLICAS EP

Como falar sobre superávit primário, dívida pública, problemas econômicos, sem ser num economês enfadonho, se você não é a Lilian Witte Fibe?

Clara Zettel (bateria), Gabriel Guerra (vocal e guitarra) e Thiago Rebello (baixo) fazem isso com o CRUSADER DE DEUS, banda que, tirando esse EP “Relações Públicas”, lançado de maneira independente, dia 24 de setembro de 2015, talvez você nunca mais ouça falar.

Parece piada de universitário (e universitários adoram expor suas piadas internas), mas levanta uma discussão interessante, no fim das contas: quem é de fato o detentor do poder nas economias mundiais?

O trio responde de bate-pronto: os bancos.

Nas três canções de “Relações Públicas”, os jovens utilizam-se do pós-punk oitentista pra falar sobre esses assuntos que manchetam cadernos de economia e que pouca gente da idade deles lê (a bem da verdade, não só da idade deles).

Gabriel Guerra você conhece do Séculos Apaixonados e do Dorgas. Aqui, ele canta (embora seja preciso um certo esforço pra entender) letras como “Aqui veio / Aqui se fará / Uma forma de crédito que nunca para”, em “Excelente Manual”, que também rouba uma frase melódica de “Olhar 43”, do RPM; “Dolo ou culpa / Ação ou omissão / Crimes praticáveis / Homicídios próprios / Homicídios impróprios / Crimes materiais / Crimes formais / Crimes de mera conduta”, em “Crimes De Mera Conduta”; “Existe alguma forma de eu gerar mais liquidez? / Existe alguma forma de eu poder parar com essas malditas metáforas fiscais?”, em “Microempreendedorismo Individual”.

As fotos promocionais são em frente a agências bancárias de três dos maiores bancos do país (Itaú, Citibank e Caixa). São fotos não-profissionais, como se fossem amigos posando diante de um ponto turístico. E é o que essas instituições representam: assim como construções do poder dominante de séculos e séculos atrás – das igrejas, das monarquias – e que hoje são admiradas mundo afora, os bancos são hoje os donos do poder e têm suas construções pra posteridade, mesmo que a posteridade dure até a necessidade de rearranjo econômico.

Daí, o próximo passo, a capa. Uma foto de uma câmara municipal expõe as ligações promíscuas do poder econômico com as atuais democracias.

“Quase todas as letras são relacionadas a taxa de juros e oferta monetária e as consequências disso pra quem não dá a minima ou não quer se relacionar com isso, como a gente”, diz Guerra ao Floga-se.

“Era bem mongol tirar foto na frente do banco, nenhuma banda faz isso… Viemos de família com uma boa renda, deveríamos ligar pra isso… A gente vai ficando mais ‘velho’ (eu sou o mais velho, com 22) e vai vendo que não tem muita saída dessas coisas; então, falar disso de formas que não precisam ser acadêmicas é melhor, e que nem precisa cair em simples crítica por crítica, escrever letras no estilo reclamações de consumidor mesmo, ou ‘o que está acontecendo?'”, diz.

Os três gravaram o disquinho na casa de uma amiga, ao vivo, em agosto de 2015. A mixagem é de Guerra e Isabela Bastos. O trabalho tem apenas seis minutos e meio. Tiro curto, econômico.

O resultado é talvez menos importante do que a própria mensagem passada de forma lúdica. Mas ela tá lá. Precisamos falar sobre economia, sobre bancos, sobre dívida pública. A molecada, principalmente. O Crusader De Deus taí fazendo a sua parte.

Ouça:

1. Excelente Manual
2. Crimes De Mera Conduta
3. Microempreendedorismo Individual

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