ENGRENAGEM #13: AUFGEHOBEN – FRAGMENTS OF THE MARBLE PLAN

O Aufgehoben é um quarteto de noise/improv britânico, com uma discografia deveras consistente. Entenda bem que quando falo em noise, é o termo propriamente dito, não a vertente “pop” com guitarras adocicadas que o pessoal costuma compartilhar. É o tipo de banda que pelo som dificil que faz é apreciada e disseminada por poucos. Eles mais do que merecem fazer parte da Engrenagem porque o disco que lançaram esse ano é uma pedrada de valor inestimável.

Confesso que fiquei mesmerizado ouvindo “Fragments Of The Marble Plan”. Temos aqui duas baterias, uma guitarra e eletrônicos. Algo extremo pontuado por silêncios e ansiedade, por detalhes, pequenos ruídos, instrumentos que ora são tocados com sutileza, numa ambientação dadaísta que procura ignorar as noções básicas dos próprios instrumentos, ora numa linguagem percussiva e atonal. É importante salientar que os silêncios aos quais me referi, no disco significam “perigo: algo está por vir!”.

Os espasmos destruidores do Aufgehoben não ficam devendo em nada pras linhas de baixo destruidas do Japanoise mais extremo. Portanto, cuidado, ouvir no volume máximo pra tentar perceber cada detalhe dos momentos silenciosos não é muito recomendado, a destruição que virá é massiva e pode afetar sua audição.

Referencias que me remetem direto ao free-jazz de discos como “Topography Of The Lungs” (N.E.: de Evan Parker, Derek Bailey & Han Bennink, lançado em 1970 e considerado um dos marcos do gênero) mostram que os fragmentos do titulo não são à toa, assim como a capa. Você também vai sentir as pedras sendo jogadas contra seu cerebro e as imaginará se encaixando no decorrer das músicas.

Embora a linguagem seja a do improviso, é visivelmente um processo de composição desgastante do improviso, com cortes artificiais que trazem toques abruptos na construção não-linear das faixas, provocando ainda mais confusão ao cerebro. A destruição aqui é levada a sério, e vai cada vez mais fundo a ponto de desnortear e te deixar sem fôlego, temendo o que está por vir. O que torna os momentos silenciosos ainda mais impactantes e belos, porque são neles que você tem tempo pra perceber o que acabou de acontecer; ou melhor, quase perceber, porque o disco não vai te dar trégua.

Ouça “Ethicsisanoptics (TI23)”:

A parte de pós-produção do baterista e idealizador do quarteto, Stephen Robinson, é quase um quinto elemento na banda, e cria uma lógica própria na espontaneidade. Processo similar de “composição da improvisação” também foi bem utilizado num disco nacional desse ano, “Worm Love”, do Chinese Cookie Poets. Pra quem não ouviu ainda, vale a experiência.

Se você gostou do “Fragments Of The Marble Plan”, vá atrás dos outros discos do grupo. Vale muito a pena. Aconselho a ir direto pro Khora, de 2008.

Enfim, caso 2012 seja nosso último ano aqui na Terra, terá sido um ótimo ano.

LADO A
1. ActsRoman(s)
2. Whataboutwhen (med3)
3. Ethicsisnoption (TI23)
4. Fruitsofcouncils/shrewed (362b)

LADO B
1. CuriosityVanityExpediency
2. Interruhig
3. Thatwealldothatwedo (1102s2-3)
4. MeOn
5. Schollum159

Data de lançamento: 3 de abril de 2012
Gravadora: Holy Mountain
Produtor: Stephen Robinson
Tempo total: 90 minutos e 52 segundos

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Comentários

comentários

Um comentário

  1. […] Uma pedrada. Um monolito. Extremo. Um disco de improvisação/noise criado por músicos incríveis que valeu 2012. Esse merecia ser ouvido por muitos, mas acredito que poucos conseguem e que também seja meio doloso aos ouvidos (leia texto completo no Engrenagem #13). […]

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