ENTREVISTA: KID FOGUETE – UM INVESTIMENTO PRO FUTURO

O nome da banda vem do conto de Henry Charles Bukowski Jr., “Kid Foguete no Matadouro” (leia aqui), algo um tanto inusitado.

A história trata de um ex-boxeador que acaba trabalhando em situações degradantes num matadouro. Ele acaba chutando tudo pro alto e indo tomar uns birinaites que é, enfim, o que ele melhor sabe fazer.

Mudanças e adaptações. Talvez seja essa a lição do conto aplicada a Rafael Carozzi, vocalista e guitarrista do Kid Foguete, que até chegar a criar o grupo, passou por outras bandas e projetos, até sossegar, por enquanto, sob a égide do shoegaze.

Sozinho, criou o primeiro EP do projeto, “Asteroids”, de 2013. Depois, junto com André Garbin (guitarra), Felipe Petroni (bateria), Pablo Turazzi Vilanova (baixo) e Piero Locatelli (sintetizador), lançou o mais recente EP, “Pure Places”. Tudo muito novo, muito no começo, ainda passível de muitas adaptações e mudanças de rumo.

Por enquanto, o Kid Foguete, com esses dois lançamentos, impressiona pelo caráter internacional da criação. Chamou a atenção de quem está de olho na movimentação subterrânea da música brasileira.

O Floga-se teve uma longa conversa com Carozzi pra entender um pouco da história da banda e aonde o quinteto quer chegar. A história se repete, com as mesmas dificuldades, baixas expectativas pro futuro e mais investimentos do que retorno.

Carozzi até brinca: “o disco (‘Pure Places’) foi caro de fazer. Não foi um investimento. Acho que seria um péssimo investimento”. Porque, como de praxe no mercado brasileiro quase não há mercado, quase não há dinheiro, quase não há recompensa.

“Eu sempre falo do Calypso. É o Fugazi do Pará. Os caras chegaram no Faustão sendo independentes”, diz Carozzi analisando que mesmo pra música superpopular brasileira há dificuldades e há exceções. Ele ainda fala sobre bobagens em geral, sobre shoegaze (com uma boa teoria), sobre cantar em inglês, e sobre o Fora do Eixo, que recebeu um baita baque por conta de uma matéria escrita pra Carta Capital por um dos integrantes da banda.

Se o trabalho pesado não for recompensador, sempre sobra a opção de largar tudo e sair tomar umas e outras. Ao contrário do Kid Foguete de Bukowski, o Kid Foguete brasileiro já deixou uma obra pra história.

Floga-se: Queria começar com a história do nome… Como surgiu essa ideia da história do Bukowski?

Rafael Carozzi: O nome vem de uma época em que eu estava meio cansado de bandas. Tinha saído da banda que tocava na época – a Solo (ouça aqui), que era uma continuidade da Sonora – e comecei a compor coisas mais pro violão. Como o projeto nasceu de uma desistência, achei o nome pertinente. No conto, o tal Kid Foguete pede demissão de um trabalho que estava muito pesado pra ele mas que ele se recusava em assumir por orgulho. Uma coisa interessante é que foi o irmão do André, nosso guitarrista, que me apresentou o Bukowski, quando éramos moleques.

F-se: Vocês imaginavam que o nome acabasse gerando algumas piadinhas bobas com o tal ator famoso?

RC: De quem você ta falando? (rindo)

F-se: Kid Bengala.

RC: Sim, eu sei (ri). Quando eu dei o nome pro projeto, o único Kid que existia era o Foguete. Mas, de fato, quando retomei o projeto depois de sair e outra banda – o Todo Mundo E Seu Pai (ouça aqui) – o Kid Bengala já estava por aí. Os amigos em geral fazem (muita piadinha), humor masculino é a eterna quinta série, né? Eu acho até engraçado. Quando começamos a escrever em inglês, pensamos em mudar o nome, mas em nenhum momento a piada foi motivo… Era mais “vamos cantar em inglês e ter nome em português?”.

F-se: Quantas bandas cruzaram seu caminho antes de chegar ao Kid?

RC: A primeira banda que tive mesmo foi a Sonora. Começou screamo e acabou math rock sem distorção. O André, o Felipe e o Pablo – que são, respectivamente, guitarrista, baterista e baixista do Kid – tocaram na Sonora em diferentes épocas. Isso foi de 2001 até 2006. Tocávamos bastante até. Abriamos pro Polara e pro College de vez em quando. Foi um período bem legal. Acho que o último link pros sons do sonora morreu com o Trama Virtual. Eu baixei tudo e guardei só como marco de uma época, mesmo. Eu não lembro bem porque Sonora acabou. Acho que o Felipe saiu e a gente não achou legal manter o nome sem ele. Daí, a mesma galera formou o Solo, que durou pouco e acabou quando assinamos com uma gravadora trambiqueira que desestruturou a gente total. Rolavam algumas outras tretas com drogas no mesmo período, ninguém mais se aguentava. Entre o Sonora e o Solo, o Kid Foguete nasceu. Com o fim do Solo o Kid voltou, mas parou pro Todo Mundo E Seu Pai começar. Esse som era bem legal, acho que o pessoal ainda toca, não sei. Esse eu saí porque voltei com o Kid e resolvi me dedicar inteiramente ao projeto. Nesse meio tempo, o Pablo estava tocando comigo em todos os projetos e o André tocou com o Minnuit.

F-se: Que gravadora trambiqueira era essa?

RC: A Piraquara Records (risos). Vendo agora, é tão obviamente trambique que da até vergonha. Mas a gente era novo, tava na vontade. Eles tinham um esquema de negócios meio “World Music”. Então, era uma coisa que a gente não manjava. Apresentaram todo um plano de negócios e tal…

F-se: (risos) O que eles prometeram de tão atrativo? Qual era idade de vocês?

RC: Cara, a banda ia de 18 a 24, 25 anos, acho. Eles (da gravadora) nem falaram nada muito atraente, era só um lugar pra se enfiar e ter algum apoio como músico. (Disseram que) fariam agenda de show, venderiam a música com um repasse “xyz” pra gente…

F-se: Mas serviu como ensinamento ou hoje vocês buscam isso ainda?

RC: A gente achava que trabalhava muito na banda e não entendia porque não rolava. Hoje, vejo que a gente não trabalhava nada (risos). Hoje em dia, a gente é mais consciente das nossas limitações. Todo mundo se respeita mais no sentido de entender como a banda representa coisas diferentes pra cada integrante e cada um se esforça o quanto ta afim. Não temos um grande projeto. A maior preocupação é fazer música boa e se apresentar bem… Então, sempre rolam aquelas coisas de “pô, tem que estudar mais essa passagem, tem que treinar mais…”. Mas não é uma coisa que coloque a banda em frente de tudo. A gente ta com 27 até 30 anos, tem vida, mulher, carreira…

F-se: E o que ela representa exatamente? É um hobby, um desafogo, uma expectativa de se tornar trabalho ou o quê?

RC: Eu não posso falar por todo mundo (da banda). Mas minha relação com música é terapêutica… Eu costumo exagerar demais no sentimentalismo nas minhas relações interpessoais (ri)… Então, transformar em música acaba sendo mais aceitável pra trabalhar esse monte de coisa que fica passando na minha cabeça o tempo todo. Não que resolva, mas dá uma vazão mais produtiva. Eu nunca parei de compor e espero não parar. Ainda falando só de mim, o Kid é a primeira coisa que eu fiz e que quando eu ouvi eu fiquei satisfeito. É a primeira banda em que eu mesmo canto apesar de também sempre ter criado as letras nas outras. Tem mais entrega, dá mais medo… Se eu falar que é hobby é mentira, se eu falar que é trabalho, também. Eu tento fazer o melhor que consigo e ver onde isso vai levar.

F-se: E o estilo? A Kid tem alguma coisa a ver com as bandas anteriores? Como vocês chegaram no “som da Kid”?

RC: A gente costuma se referir como O Kid. Não sei se é por ser mais um projeto do que uma banda… A gente nunca tocou esse tipo de som em nenhuma outra banda. Quando reuni os caras, a gente tocava uma coisa meio Superchunk em português… mas a coisa foi desandando, foi faltando vontade e eu resolvi que ia gravar sozinho em casa. Foi quando nasceu o “Asteroids”. O som desse EP é mais condição do que opção. Eu nunca tinha gravado nada sozinho, nem baixo eu tinha. O baixo no disco é uma guitarra com a afinação baixada no Logic (programa de gravação). Quando eu fui gravar o vocal, eu nunca havia cantado antes, então atolei de efeito pra ficar audível. Durante o processo, fui vendo que tava meio shoegaze e comecei a pesquisar mais, só conhecia o básico antes. E aí os caras ouviram o resultado, curtiram, eu fui mostrando referências, eles foram devolvendo coisas que eles já curtiam e que tinham a ver… Tipo o Piero, que toca synths, mostrando o quanto de ambiência tem nesses eletrônicos atuais, tipo Burial, ou o André insistindo que Deftones tinha tudo a ver com shoegaze, até eu parar pra prestar atenção, de mente aberta, e sacar que “sim, tem tudo a ver” (Rafael destaca isso). Então, o legal é que nenhum de nós pirava nesse som antes. A gente conhecia, mas foi aprendendo a sacar as sutilezas conforme fomos fazendo.

F-se: (rindo) Deftones shoegaze… Essa é uma visão nova pra mim.

RC: Cara, pega a massa de guitarra, pega o quanto ele alonga os vocais, o volume que tá a voz, o quanto a batera é mais simples e cíclica que tudo da época. Certeza que eles piravam num My Bloody (ri).

F-se: (rindo) Boa teoria. Então, quais passaram, a partir daí, a ser as referências de vocês?

RC: As coisas que a gente curte junto mesmo são mais modernas… Tipo DIIV, Weekend, Wild Nothing, Cloud Nothings… Acho que das antigas a que a gente mais pira é o Slowdive. Atualmente, a gente tá numas post punk também. Até nas musicas novas já tá aparecendo.

Ouça “Asteroids” na íntegra:

F-se: Sim. O “Asteroids” é claramente mais shoegaze que o “Pure Places”. Foi uma mudança não tão sutil…

RC: Tem a coisa de ter banda mesmo, né? As músicas têm uma coisa de ficar vários minutos só de instrumental, crescendo pro fim. A gente foi ver isso gravando…. Todas têm esse crescendo meio krautrock, post rock.

F-se: Mas como vocês mesmos se definem, se é que isso é importante ou relevante?

RC: A gente curte quando falam que somos shoegaze (risos). Sei lá, eu curto. Mas a gente não se define muito, não. Tomamos cuidado pra não ficarmos muito roqueiros. Pensamos bem o BPM das músicas pra não ficar tudo acelerado. Seguramos bem a mão em tudo. A regra no ensaio é sempre tocar menos. Quanto menos a gente tocar deixando a música cheia, melhor.

F-se: Mas já confundiram vocês com o quê? Acho que li que vocês pareciam até o Oasis…

RC: Cara, falaram que era emo revival, eu até entendi, a gente começou a tocar nessa época… Mineral, Sunny Day, Jawbreaker… Acho que isso aparece nas temáticas e progressões até hoje. Mas a coisa com o Oasis eu não entendi. Ninguém na banda curte Oasis, e, te juro, que depois que falaram que parece eu fiquei com medo de ouvir e pensar “cacete, parece!” (risos). Então, acho que nunca mais vou ouvir Oasis.

F-se: Como são os shows do Kid? Eu consegui perder os do Walden, infelizmente. São mais violentos ou o ouvinte recebe uma cópia fiel ao vivo do que ouviu em estúdio?

RC: A gente toca alto (ri). Tentamos fazer bem próximo ao disco, mas ao vivo tudo acaba ficando um pouco mais rápido. Tomamos um cuidado especial nas músicas mais lentas mesmo, tipo “Ocean Deep” e “Going Out”. Elas tendem a soar mais fiéis ao disco nessa coisa de tempo mesmo. A gente tocou super pouco, acho que foram cinco shows só… Tem muito ritmo de palco pra pegar ainda. A parte bacana da banda como um todo é ter essa consciência, saca? Ok, representa coisas diferentes pra cada um, mas, se a gente se propõe a se apresentar, tem que soar bem.

F-se: A banda começou em 2013 mesmo, certo? Digo, “oficialmente”…

RC: O “Asteroids” foi gravado no meu quarto no fim de 2012. Em 2013 começamos a tocar com essa proposta que o “Asteroids” solidificou. Antes a gente tinha tentado, mas nem considero parte da coisa pois era outra proposta. Antes, eu digo, início e meio de 2012.

F-se: Vamos falar das letras. Primeiro, há sempre aquela história do “cantar em inglês”. Vocês estão confortáveis com isso?

RC: No colégio eu compunha em inglês e ninguém queria tocar porque era aquela onda de CPM22 e tal. HC BR. Eu mudei pro português pra conseguir tocar. Então, foi um retorno. Mas eu acho legal, acho que tem a ver com o som e me sinto mais confortável de cantar. Acabo falando muita coisa íntima ou pensamentos meio vergonhosos acabam escapando pras letras… Me sinto um pouco mais protegido em inglês (ri).

F-se: Mas a pecha de “derivativo” do “rock inglês”, inevitável no entendimento de alguns jornalistas mais consagrados, não incomoda? Digo, vocês são brasileiros, mas não há nada de brasileiro na criação de vocês… Ou isso é um assunto já morto e enterrado?

RC: Cara, eu acho que a gente tá tão confortável com o que estamos fazendo que essas coisas só passam pela nossa cabeça quando alguém fala. É tipo fazer a piada do Kid Bengala. Outra coisa engraçada, o DIIV, Weekend, Wild Nothing, que são influências bem diretas, estão todos na Califórnia, Nova Iorque. E nos citaram algumas vezes como a banda mais britânica que está aqui. A gente tem um entendimento muito claro de que cada um fala a partir do seu próprio repertório. E eu respeito o repertório das pessoas. Não me sinto impelido a desmentir ou explicar. Tipo a coisa do Oasis também… Parece? Sei lá… Vai que parece mesmo… Já me convenceram que Deftones tem shoegaze no meio (risos), tem caixa que é melhor nem abrir…

F-se: E sobre o que você fala nas letras, qual a inspiração?

RC: O primeiro disco foi bem menos consciente que esse. Tem uma readaptação de vocabulário e é bem mais subjetivo. Em geral, fala relacionamento interpessoal. Estar apaixonado, terminar um relacionamento e ter que voltar a dar rolê e perceber que tá velho…

F-se: As pessoas prestam atenção a essas letras, comentam com você? Ou crê que o idioma possa, nesse caso, ser uma barreira na comunicação, na arte?

RC: Acho que no novo (EP) tá tudo mais na cara. Acho legal que quem ouve toma pra si, né? Quem tava comigo na época deve sacar exatamente o que cada coisa significa. E o som tá tão conectado com a letra que eu acho que a energia da música já tá dizendo muita coisa. Eu gosto muito do meio pro fim da “Red-Bellied Thrush”, que parece que já deu tudo que tinha que dar e volta mais caída e tenso ainda… Acho que tem muita coisa que não precisa falar pra sentir.

F-se: Qual a distância pro Kid começar a dar grana pra vocês? E qual o investimento que vocês fazem e já fizeram pra banda se manter?

RC: Cara, nem quero pensar nisso, sério. O disco foi caro de fazer. Não foi um investimento. Acho que seria um péssimo investimento. Eu não vejo muita gente vivendo de banda por aqui. Até tem um pessoal produzindo e vivendo de música, mas o mercado brasileiro é pesado, né? Lá fora rola não porque tem mais cultura ou mais espaço, é só uma questão de ter mais grana girando. Nosso ultimo show custou vinte reais pra entrar. Você pagaria isso pra ver uma banda que nunca ouviu falar na vida?

F-se: Eu pagaria. Mas eu tenho um site e preciso conhecer e ver coisas novas. Não sou parâmetro.

RC: É, a gente nunca é (risos). Mas eu nem falo isso como reclamação ou choradeira. É a realidade que a gente tem. Se a gente resolveu peitar, tem que peitar.

F-se: Mas a pergunta é em outro sentido: o que vocês precisariam pra viver disso? Já fizeram essa conta?

RC: Cara, nunca nem falamos disso. Assim, já conjeturamos tipo… Sonho… Ah, ganhando metade do que eu ganho, mas pra tocar, eu ia… saca?

F-se: Sim, entendo. Pergunto isso, porque a maioria das bandas com quem falo, nem sabe exatamente que conta fazer, pra a partir daí, sonhar, planejar e ir atrás de tal montante… Porque minha teoria é que, dependendo da pessoa, da ambição da pessoa, nem é tanto dinheiro assim…

RC: Na verdade, quando você falou eu me senti meio mal de não saber a quantia. Deixa a coisa muito no plano do sempre-impossível.

F-se: O Kid Foguete faz planos? Como a banda se movimenta pra se promover?

RC: A gente tá começando a pensar nisso agora. Tivemos a felicidade de ter alguma cobertura do lançamento do disco, o que fez a gente ver que, talvez, não seja tão complexo. É só fazer algo de qualidade que alguém vai falar. É muito romântico isso? (risos)

F-se: Sim, é muito romântico (risos). Acho que vocês precisarão de mais do que só qualidade, infelizmente.

RC: E que foi do “nada” pro “alguma coisa”, né? (ri) A diferença entre 0 e 1 é muito maior do que a entre um e um milhão

F-se: Sim, sem dúvida… Mas então cabe a pergunta: o que é “sucesso” pra vocês? Qual a nota de corte pra vocês olharem pra si e pensarem: “pô, acho que a gente finalmente conseguiu algo”?

RC: O sorriso de uma criança (risadas) Acho que cada um deve ter sua conta, a minha deve ser a mais baixa porque preciso desse reestímulo, saca? Acho que acaba dando uma conta boa porque quando um acha pouco, o outro ponto de vista pesa e o faz ver como conquista, e quando outro acha demais, alguém coloca mais o pé no chão. Pra mim, viver disso seria a coisa. O dia que meu trabalho for o Kid, aí sim, sucesso.

F-se: E quais os próximos passos do Kid, de pois do “Pure Places”?

RC: A gente já tá com sons novos… As coisas vão rolando. Na verdade, o grande objetivo atual seria gravar o próximo sem assaltar o próprio bolso. E tocar bastante.

F-se: Quais bandas nacionais atuais vocês admiram?

RC: Eu parei de ouvir coisas nacionais lá nos idos de 2005… Polara, College, Wee, Butchers, Hurtmold. E veio aquela onda Studio SP/Novos Paulistas que eu nunca engoli muito bem. Voltei a ouvir depois que saiu o primeiro do Kid, meio que buscando algum som que tivesse a ver com a gente pra tocar junto mesmo. Aí, conheci o trabalho da Transfusão Noise Records e algumas bandas soltas tipo Soundscapes e Loomer – que eu acho que são as coisas que mais tem a ver conosco atualmente.

F-se: Até onde a música pode levar vocês? O público brasileiro médio está disposto a encarar o Kid Foguete?

RC: Não sei se essa pergunta tem uma resposta que eu possa dar. Seria pretensão. Talvez a resposta seria que se a gente estivesse pensando numa pré concepção do que é o público médio, provavelmente não seria esse o som. Então, claramente, essa não foi uma preocupação em nenhum momento.

F-se: Esse tipo de música, ou correlata, pode um dia, chegar a ser mainstream no Brasil, no nível da música superpopular brasileira?

RC: É muito chato ficar respondendo que não sei? (ri) Eu acho que é muito mais uma coisa social do que de tipo de som, sabe? Tem muita gente que curte sons completamente fora do mainstream por aqui. Mas é uma questão de grana, de acesso. Até pras bandas se sustentarem.

F-se: A música subterrânea vai ficar sempre restrita ao subterrâneo, então?

RC: Eu não sou muito presente no underground. Não sei nem como anda a estrutura das coisas atualmente. Quem ia imaginar que o CPM22 iria do Hangar pro Faustão, saca? Ou o NxZero… Ok, não são exemplos de bandas que eu admiro, mas é um reflexo do profissionalismo deles. Porque durou tão pouco? Isso só gera mais perguntas, né? Eu acho que conforme as pessoas têm mais grana as coisas melhoram. O equipamento melhora, as casas de show melhoram, as gravações melhoram… Cara, eu sempre falo do Calypso. É o Fugazi do Pará. Os caras chegaram no Faustão sendo independentes (ri). Talvez a gente esteja olhando tanto pra um modelo de fora que não tem uma percepção real do que é possível fazer aqui.

F-se: E alternativas como o Fora do Eixo, o que acha?

RC: (rindo) Cara, queria muito que a entrevista fosse com a banda inteira agora. Sabe aquela matéria de capa da Carta Capital sobre o FdE? Foi o tecladista do Kid que escreveu (rindo). Eu acho que essa visão de que artista tem que se foder é um atraso. É um trampo, é visceral, é pesado… Eu já fiz uma análise que parte muito da minha vivência… Mas o cara – da minha geração – que compra uma Epiphone lá com seus 14 anos e começa a tocar, muito provavelmente é de classe média… tem aquela criação de estudar – faculdade – trabalho, então qualquer coisa que não seja isso é vagabundo. E ainda rola essa romantizada no artista perturbado e sofredor… Então, se assumir artista já é um passo grande. Já é uma “saída do armário”.

F-se: Mas nem todo artista é de classe média, né?

RC: Sim, fiz um recorte bem específico. Tem muito a ver com criação, né? Não só com dinheiro.

F-se: O problema do Fora do Eixo não seria em duas frentes: a politização com uso da cultura e do trabalho dos outros pra esse fim, e a falta de transparência pra justificar os meios empregados?

RC: O maior problema deles é: “ou fecha conosco ou é inimigo”. Não é que você passa batido: falou mal eles infernizam… Tem o tal “choque pesadelo” (uma das melhores expressões que eu já ouvi na vida). Qualquer coisa feita por obrigação é nociva. Mas nem curto falar disso, é outra coisa que não me preocupa.

Veja o vídeo de “Atma Este”, de “Asteroids”:

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Comentários

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2 comentários

  1. Ótima entrevista. Me fez entender o quão difícil pode ser se tornar uma banda famosa, ao menos em boa parte do Brasil. O mais legal é que eles não tem pressa. E acho que é assim que deve ser. Pois, os melhores filmes são baseados em longas leituras. Ou seja, muita calma, análise e tem que sentir o clima, todos da banda estarem em harmonia. E desejo sorte! para serem recompensados pelas longas horas dedicados. Aproveitando essa longa e divertida vida. E pensar que eu achei vocês pesquisando “zoeiras com shoegaze”. Tocam de novo no Espaço Walden?!

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