ENTREVISTA: OBSERVER DRIFT – OBSERVADOR DISTANTE

Quando “Corridors” surgiu na Internet, nos primeiros dias de 2012, e a belíssima “Warm Waves” invadiu nossos ouvidos, aquele frescor de música nova e vibrante ficou reverberando por um bom tempo. Que maravilha seria aquela? Quem seria a mente por trás dessa maravilha?

Eu e o amigo de bons sons João Vítor Medeiros (sempre vasculhando pra ver se descobre coisa boa nos confins da Internet) começamos a fuçar e descobrimos Collin Ward como um cara extremamente simples, que logo topou falar conosco, com exclusividade, sobre o disco, o início de tudo e sobre umas amenidades.

Descobrir de onde ele tirou o nome foi o mais surpreendente pra esse rapaz nascido ainda na década de 1990, aparentemente solitário e introspectivo, mas com respostas vibrantes – por perceber que criou algo pra posteridade, uma exigência que muita gente faz de si mesmo, mas que infelizmente a maioria morrerá sem conseguir.

Ward é, nesse caso, solitário apenas pra fins de corroborar com o nome escolhido, como um observador não participante da ação. Ele criou suas canções e fica ali observando as reações à sua intrigante música, que, veja só, é baseada num protagonista claro: ele mesmo. “A maioria das letras do meu disco são sobre a minha infância e os sonhos que tive”, disse certa vez, numa entrevista.

Nessa entrevista ao Floga-se, ele contou sua surpresa pela reação ao álbum. Não dá mais pra ser um “observador não participante”. Ele é protagonista, ele faz parte da ação, mesmo que ainda tente, de dentro de sua casa, manter certa integridade pelo isolamento, como “observador distante”. O sucesso do seu Observer Drift não permitirá essa realidade por muito tempo.

O mundo aqui fora está puxando Collin Ward. E o rapaz parece já ter se decidido: vai participar ativamente, mesmo sem saber até onde isso tudo vai levá-lo.

Floga-se: Quando você decidiu começar a fazer música?

Collin Ward: Comecei a escrever minha própria música por volta dos quinze anos de idade. Nunca as gravei, até depois do colegial, quando a banda em que eu estava acabou. Peguei o nome Observer Drift numa aula de psicologia. Foi um termo que curti o significado (veja a seguir) e cuja combinação de palavras se mostrou bastante apelativa pra mim.

N.E.: “Observação não participante” – termo que em psicologia que determina aquela observação que pode ser oculta. O observador não se mostra, recorrendo, por exemplo, a circuitos fechados de televisão ou a um sistema de teleobjectivas colocadas em lugares estratégicos e bem camuflado. É muito útil, por exemplo, em casos de escolha de candidatos pra lugares-chave em empresas pois o observador pode estudar em pormenor cada atitude dos elementos a observar. A observação científica é a procura da resposta pra uma questão. Pra se realizar uma observação científica dever-se-á descrever o fenômeno e verificar todas as características que ajudem a compreendê-lo, verificar as circunstâncias a que deve a sua existência e verificar os resultados que poderá produzir. O observador tem pois à sua frente uma tarefa semelhante à do experimentador, pois a questão posta de início nada mais é que uma hipótese, à qual se seguirá um controle de variáveis durante a observação, sendo o objectivo a generalização dos resultados.

F-se: Quem é o Observer Drift? É só você ou houve ajuda na gravação de “Corridors”?

CW: Sim. Observer Drift sou só eu. Se tivesse mais alguém envolvido, faria questão de que todos soubessem. Mas esse projeto foi criado todo por mim. Todas as composições e gravações foram feitas por mim, na casa onde cresci.

F-se: Quando você gravou “Corridors”, achou que teria essa repercussão?

CW: De jeito nenhum! Nunca imaginei que teria a atenção que consegui. Tem sido meio doido ouvir minha música no rádio e as críticas sobre ele. É estranho porque escrevi todas essas canções em casa, por conta própria, onde ninguém mais poderia ouvi-las.

F-se: Alguma gravadora já entrou em contato pra um contrato?

CW: Algumas sim. Mas não tô me mexendo muito nesse sentido ainda.

F-se: Acha que o fato de ter colocado o disco pra download gratuito por um breve período contribuiu pra essa repercussão? Aliás, por que você passou a cobrar por ele?

CW: Nunca quis cobrar nada por ele. Nem achava que valia alguma coisa. No Bandcamp, mensalmente você só tem um número limitado de dias pra downloads gratuitos que as pessoas podem usar. Depois que esses dias acabam, você precisa colocar um preço, então eu pus um bem barato.

F-se: Você ainda estuda, certo? Quais suas intenções em termos de carreira, agora que o Observer Drift ganhou certa visibilidade?

CW: Definitivamente, vou terminar meus estudos. Não tenho certeza até onde esse projeto vai me levar, então acho que talvez você deva fazer essa pergunta daqui a uns seis meses (risos).

F-se: Andrea Swensson, da Current (rádio de Minnesota, Esteites), aproxima o Observer Drift ao Washed Out e ao Toro Y Moi, mas eu diria que está mais próximo do Beach Fossils, do Wild Nothing, e, mais atrás, do Radio Dept. Você concorda com qual relação? E você gosta dessas bandas?

CW: É um elogio ser comparado a essas bandas e esses artistas. Eles são muito talentosos. Nunca ouvi falar de algum deles até começar com o Observer Drift. De fato, acho que o que mais me aproximo é do Wild Nothing. Nunca havia ouvido sobre ele até alguém escutar minha música e dizer pra eu ouvir a dele. Jack Tatum, o líder do Wild Nothing, faz uma música realmente incrível, eu acho.

Ouça “Warm Waves”:

F-se: Quando dizem e reforçam que você está no começo da sua terceira década de vida (20 e poucos anos), isso parece ser mais espantoso que sua própria música, como se jovens não pudessem ser contemplativos, introspectivos e reflexivos na criação de sua arte. Parece que esperam sempre um Libertines, um Nirvana, um Strokes, música de jovens que querem extravasar energia, o que não é o seu caso, não no sentido de animar uma festa ou desabafar na base do esporro. Você se incomoda com isso? E como você acha que Collin Ward será daqui a dez anos?

CW: Acho que minha música faz um bom trabalho em resumir como eu sou como pessoa. Como você disse, não é agressivo e “na sua cara”. Escrevo toda minha música sozinho, no silêncio. Isso desempenhou um grande papel na forma como o disco saiu. Em dez anos… Realmente não tenho ideia. Talvez eu esteja por aqui comendo um cheeseburger ou algo do tipo (risos).

F-se: Por outro lado, a letra de “Corridors” fala da escuridão da solidão, mas que tem um final positivo, feliz (“so we can dance, to make things right”). É o tipo de otimismo inerente aos jovens. Nesse sentido, você acha que sua música fala à sua geração?

CW: Não acho que eu fale por uma geração toda, mas acho que minhas letras podem se relacionar com um monte de gente da minha idade, que tenha sentimentos parecidos e visões sobre relacionamentos e outras coisas que minhas letras falam. Espero, até certo ponto, que algumas pessoas possam se relacionar com as letras das minhas músicas e se sentir próximas a elas. Isso seria bacana.

Ouça “Corridors”:

F-se: Você gravou “Corridors” em casa, num estúdio portátil. Essa facilidade (de hardwares, softwares e canais de distribuição gratuitos, como Bandcamp, Facebook, Soundcloud) contriubuiu pra que ele fosse lançado sem depender de ninguém, de uma “estrutura”. Dá pra manter essa independência e fazer o que bem entender? Depois desse impacto positivo, você acha que terá que seguir os passos estruturados pela indústria: assessoria de imprensa e agentes profissionais, videoclipes feito por produtoras etc.?

CW: Por ora, adoro ter o controle total de onde minha música vai estar e do que eu faço. Se a proposta certa chegar, posso agarrá-la (como uma gravadora). Mas por enquanto você pode fazer tudo meio por conta própria. Acho que se você tiver ajuda das pessoas certas, pode ser benéfico.

F-se: Já está se apresentando ao vivo? Como são os shows?

CW: Não, ainda não. Em breve, acho.

F-se: Recentemente, uma banda de Mineápolis, o Howler, foi bem hypado pela NME, seguida por outros veículos. Eles tocaram aqui no Brasil, inclusive, dia desses. Conhecem os caras e como é a cena aí, pras bandas novas?

CW: Mineápolis tem uma cena bem bacana. O Howler está ficando grande e isso é incrível. Fiquei orgulhoso de mim mesmo por ter conseguido um pequeno espaço na NME. Mineápolis ajuda toda a música local. A Current, rádio local, tem tocado um bocado da minha música, o que é um bocado bacana.

F-se: Podemos esperar ver o Observer Drift no Brasil em breve?

CW: Algum dia, quem sabe! Seria inacreditável.

F-se: Conhece a música brasileira?

CW: Na verdade, alguns brasileiros me contataram, pelo YouTube, uma vez e pediram pra eu ouvir a música deles. Foi bem legal. Sei que o Brasil é um lugar bonito e adoraria visitar um dia.

F-se: E o que o Observer Drift tá fazendo agora?

CW: Estou seguindo com o meu trabalho nas músicas novas e batalhando pra conseguir juntar tudo num show ao vivo.s

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