ESQUIZOFRENIZANDO #2: LAUTMUSIK – LOST IN THE TROPICS

Cerca de três anos passaram-se desde o último lançamento da Lautmusik, o EP “A Week Of Mondays”, de 2008 (o primeiro EP é “Black Clouds With Silvers Linings”, de 2007). As expectativas criadas em torno do que viria a surgir das mãos de Alessandra Lehmen (vocais, letras e moog), Cássio JD (guitarra), Murilo Biff (guitarra), Guilherme Nunes (baixo) e Rodrigo Prati (bateria) foram enormes e digo isto por tratar-se de uma das bandas mais admiráveis surgidas no underground brasileiro nas últimas décadas.

Confesso que rolou um certo frio na barriga ao ouvir os relatos dos próprios integrantes de que a banda iria tomar rumos e algumas influências diferentes dos trabalhos anteriores neste primeiro full lenght, lançado recentemente e intitulado “Lost In The Tropics”.

Mas logo nos primeiros instantes de “Afraid To Fly”, faixa de abertura, os vocais de Alessandra investem em dosagens mais agudas e o clima soturno presente nas obras antecessores dá lugar a uma roupagem mais up: a carga de credibilidade já depositada na banda retorna a seu nível máximo, tornando a experiência tão satisfatória quanto as primeiras audições dos dois EPs anteriormente lançados.

“Mai”, a segunda faixa do disco, segue o caminho proferido pela banda desde o seu início, transitando de forma eficaz e pungente entre o post-punk clássico, influenciado por nomes como Siouxie And The Banshees, Joy Division e The Cure, e o shoegaze de bandas como Cocteau Twins e My Bloody Valentine. Além da peculiaridade de ganhar uma letra em alemão (fato já presente em algumas faixas de outros trabalhos), “Mai” foi escolhida como a primeira canção a ganhar um clipe:

E “Lost In The Tropics” segue firme. “Kino Kosmos”, a terceira faixa, ganha de assalto ao ecoar estilhaços de Black Rebel Motorcycle Club através das guitarras de Murilo e Cássio, seguida de “Jellybean” e sua carga de urgência post-punk ao melhor estilo inglês do início da década de 80.

“Tugboat” surge como o ponto alto do disco, evocando claras evidências da talvez maior influência da banda, o Joy Division, alinhando melodias densas a soundscapes climáticas, a servir como um refúgio aconchegante e convidativo aos cuidados da voz entorpecente de Alessandra Lehmen.

“Lost In The Tropics”, canção que dá título ao disco, imerge na urgência instrumental e no desabafo poético de Lehmen assegurando o posto de música mais incendiária da obra, ao lado de “Merge”, uma amostra perfeita e eloquente do poder de sincronia da banda.

“Cloud Nine” transborda intimismo e lirismo em sua estrutura e, apesar de sua harmonia assoviante, o clima introspectivo ainda segue presente ao longo da faixa. “White Cliffs Of Dover” nos captura através de sua melodia suave e viciante, facilmente ganhando o posto de segunda melhor canção do álbum, numa demonstração gritante da beleza que ronda as composições da Lautmusik.

“Gorky Park” novamente nos remete ao universo de bandas como Black Rebel Motorcycle Club e seu rock’n’roll de pegada desconcertante e suja, abrindo caminho pra “Walk The Walk”, faixa que encerra esta obra-prima e transparece todo o universo idiossincrático proposto pelos cinco integrantes em forma de música – ou pura e simplesmente, arte da melhor categoria possível.

A Lautmusik (“música alta”, em alemão) enfim, retorna após três anos pra brindar-nos com um dos maiores e mais belos trabalhos de 2011, gratificando-nos com seu post-punk e shoegaze de primeira linha. E, seja em seus discos anteriores ou neste recente presente, seu nome brilha entre os de maior talento neste país, transpondo arte com inteligência e estruturação, num terreno fértil, porém onde poucos conseguem se consolidar.

Olha o serviço do disco:

01. Afraid To Fly
02. Mai
03. Kino Kosmos
04. Jellybean
05. Tugboat
06. Lost In The Tropics
07. Merge
08. Cloud Nine
09. White Cliffs Of Dover
10. Gorky Park
11. Walk The Walk

Todas as músicas por Lautmusik. Todas as letras por Alessandra Lehmen. Gravado em Porto Alegre, em 2011, nos estúdios 7, Mubemol e Marquise 51. Produzido por Eduardo Suwa. Masterizado em Tampa, Flórida, Estados Unidos, por Black Dog Mastering Studios. Arte da capa por Murilo Biff.

Ouça o disco na íntegra:

PERFIL

Lautmusik
Cidade – Porto Alegre (Rio Grande do Sul)
Alessandra Lehmen – voz, moog
Cassio Forti – guitarras
Murilo Biff – guitarras, backing vocals
Guilherme Nunes – baixo
Rodrigo Prati – bateria
Contato – Facebook e Twitter

DISCOGRAFIA

Álbum – Black Clouds With Silver Linings EP
Selo – Independente
Lançamento – 2007
Pra baixar – Sussurros E Escarros

1. Sunny Skies
2. Self-Deserter
3. Pandora
4. Head Down
5. Eagerness Is A Distorting Mirror
6. Restless

Álbum – A Week Of Mondays EP
Selo – Independente
Lançamento – 2008
Tempo total – 17 minutos e 40 segundos
Pra baixar – Sussurros E Escarros

1. Bury my Heart In Warsaw
2. Invisible Shield
3. Zeitgeist
4. Jigsaw

Al Schenkel é a mente criativa do Starfire Connective Sound e editor do blogue Sussurros e Escarros.

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Comentários

comentários

6 comentários

  1. Granda banda. Pessoal competente principalmente Sr Murilo Biff mestre das guitarras e que já tocou em 80% das grandes bandas de Porto Alegre.

  2. MUITO obrigados pelas palavras, ficamos honrados.

    Arlen, agora o chamamos de Sr. (especialmente depois que ele foi tocar de fatiota ontem) Murilo RIFF! 🙂

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