FELLINI NO SESC BELENZINHO – COMO FOI

“Amor Louco” é o quarto disco do Fellini. Data de 1990 e foi o escolhido pra banda tocar na íntegra no “Projeto Álbum”, do SESC. Não considero o melhor, mas entendo o motivo de ter sido escolhido: é o mais bem gravado e aquele que o grupo melhor caracterizou sua mistura ainda única de samba com pós-punk.

Ao vivo, virou um quinteto: o mesmo que gravou o álbum – Thomas Pappon (guitarra e vocal de apoio), Jair Marcos (guitarra e vocal de apoio), Renato Salvagni (baixo) e Cadão Volpato (vocal e gaita) – acrescido de um batera em carne e osso, Lauro Lellis.

Foi perceptivo como o grupo estava feliz se apresentando pra fãs que ganhou ao longo da décadas. Fez mais fãs quando já não existia mais, conforme a fama e o mito foi encorpando. Na comedoria do SESC Belenzinho, nesse sábado, dia 2 de abril de 2016, a plateia deveria ter umas trezentas pessoas, pra mais, entre velhos adoradores, lá dos anos 80, familiares, amigos e novos curiosos, que não haviam nem nascido quando “Amor Louco” foi lançado.

Pra quem nunca viu o Fellini ao vivo, não devia saber o que poderia encontrar. Uma banda tímida, como pressupõem os discos? Nada disso. Cadão Volpato é um desinibido ator (e apresentador). Apesar de desengonçado na dança e um vocalista sem nenhuma habilidade, é um espetáculo, sua um bocado e se entrega, se diverte, brinca como se estivesse com trinta anos a menos, quando o Fellini era o queridinho da imprensa “cabeça”.

Suas letras são incompreensíveis, embora não existam pra serem compreendidas. Boa parte da plateia sabe de cor, canta junto, há uma interação emotiva, como a banda nunca viu em seus shows pra meia dúzia de gatos pingados trinta anos atrás. Deixar de existir fez muito bem ao Fellini. É a melhor banda, digamos, “alternativa” que o Brasil já produziu. E tem alguns dos melhores discos já feitos nos subterrâneos da produção nacional.

Embora “Amor Louco” não tenha a importância e a estranheza de “O Adeus De Fellini” (1985), “Fellini Só Vive 2 Vezes” (1986) e, principalmente, de “3 Lugares Diferentes” (1987), é um disco respeitabilíssimo. Canções como “Chico Buarque Song”, “Clepsidra”, “LSD”, a neworderiana “Love ‘Til The Morning” são divertidas e empolgantes. E possui os sambas-pós-punks “Amor Louco”, “Samba Das Luzes” e “Città Piú Bella”. Difícil apontar um defeito.

Em cima do palco, é ainda mais cheio, um disco mais vigoroso.

A banda não tocou as músicas na ordem do disco. Fez outra ordem e acrescentou a faixa extra “É O Destino”. Depois, encerrado o disco, mostrou canções dos três anteriores: vieram “Pai”, “Massacres Da Coletivização” e “Teu Inglês”, seu grande sucesso (todas do terceiro disco); “Nada” e “Rock Europeu” (do primeiro), cantadas num bom coro da plateia; e “Tudo Sobre Você”, talvez a melhor canção do grupo, do segundo trabalho.

No bis, a banda ainda tocou mais uma vez “Chico Buarque Song”, já que não havia ensaiado mais nenhuma. Coisas de Fellini.

Ver um show desses tinha tudo pra ser um exercício de nostalgia. E, pra mim, é difícil dissociar isso. Mas não foi. Há uma enorme vitalidade naquelas canções de quase três décadas atrás. O que prova o quanto o Fellini estava a frente do seu tempo. O o quanto a banda é atemporal.

01. Città Piú Bella
02. Amor Louco
03. Cidade Irmã
04. LSD
05. Você É Música
06. Kandinsky Song
07. Samba Das Luzes
08. Chico Buarque Song
09. Grandes Ilusões
10. É O Destino
11. Clepsidra
12. Love ‘Til The Morning
13. Massacres Da Coletivização
14. Nada
15. Pai
16. Rock Europeu
17. Teu Inglês

Bis
18. Tudo Sobre Você
19. Chico Buarque Song

Fotos: André Yamagami

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Comentários

comentários

Um comentário

  1. O show foi maravilhoso, sem palavras. Só de terem tocado Tudo Sobre Você, que é a minha música preferida deles, valeu muito. Fiquei muito a fim de assistir outro show deles.

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