GEORGE MICHAEL E O VÍDEO DE “FREEDOM ’90”: EM BUSCA DA LIBERDADE

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As pessoas têm certa atração a astros que recusam a fama. Grande parte delas gostaria de estar no lugar dessas estrelas, desfrutando o reconhecimento público (e a grana), mas não percebem que tudo tem um custo. No caso de George Michael, era a própria liberdade.

“Listen Without Prejudice Vol. 1” foi lançado em 3 de setembro de 1990. Nesse momento da história, Michael já era um dos artistas mais amados dos Estados Unidos e do mundo.

“Faith”, o disco anterior, de 1987, sua estreia solo, trazia na capa aquele homem loiro, barba por fazer, brinco na orelha e jaqueta de couro, com o peito aparente, que enlouquecia homens e mulheres.

O disco vendeu vinte milhões de cópias em todo o mundo e não era a primeira experiência de Michael com o sucesso. Era uma consequência.

No Wham!, dupla que formou com um grande amigo, Andrew Ridgeley, vendeu outras trinta e cinco milhões de cópias e ficou conhecido em todo o planeta pelos sucessos pop “Wake Me Up Before You Go-Go”, “Careless Whisper” e “Freedom”.

“Careless Whisper”, com aquele sax horrorosamente marcante, virou um dos símbolos dos anos 1980:

Só que George Michael queria se libertar dessa de ídolo juvenil e partiu pra carreira solo. “Faith”, porém, foi uma armadilha.

Agora ele era ídolo de jovens adultos e tinha criado um estereótipo pra si mesmo: a própria capa do disco.

Foi esse processo de frustração que moldou a cabeça de Michael quando ia promover o segundo disco, “Listen Without Prejudice Vol. 1”. Ele simplesmente não queria sua imagem, rosto, corpo, brinco, barba, jaqueta, cabelos bem penteados, associado às músicas.

Como ele explicou mais tarde ao Los Angeles Times, “em algum momento de sua carreira, a situação entre você e a câmera se inverte. Por um certo número de anos, você a corteja e precisa dela, mas, no final das contas, precisa de mais, e é um pouco como um relacionamento. No minuto em que acontece, você desliga”.

disse ao Los Angeles Times: “todo mundo quer ser uma estrela. Eu certamente queria, e trabalhei muito pra conseguir. Mas eu estava infeliz e não quero me sentir assim novamente”.

Michael, então, tomou uma posição: sem fotos e sem mais videoclipes.

Mas eram os anos 1980-1990, quem mandava, por mais que você fosse George Michael, era a gravadora. E a gravadora, a Columbia, queria fotos e queria videoclipes.

“Praying For Time” foi o primeiro single, ganhou um clipe oficial que é a letra da música, implorando, como no título do álbum, pra ser ouvida “sem preconceitos”.

A faixa foi número um nos Esteites e já fez a gravadora abrir sorrisos de “quero mais”.

O segundo foi “Waiting For That Day” e só então veio “Freedom ’90”.

A letra da música é um símbolo do que Michael passava à época: queria ser reconhecido pela arte e não pelo seu “rosto bonito”, não pelas roupas que vestia.

Ele queria se libertar de todo e qualquer estereótipo que havia colocado nele.

Mas isso não é fácil (e continua não sendo).

A gravadora insistiu pelo vídeo de “Freedom ’90”. E Michael bateu o pé que não queria aparecer.

A canção, inclusive, ganhou o “’90” nela, pra se diferenciar de “Freedom”, o sucesso do Wham!. Pra se libertar de estereótipos, era preciso se libertar do passado, mesmo que o passado fosse bastante recente.

Até que deu de cara com a capa da Vogue britânica de janeiro de 1990, uma das mais icônicas dos mais de cem anos da revista.

A primeira edição da revista na nova década, a última do milênio, trazia estampada as cinco maiores supermodelos da época e talvez de todos os tempos: Naomi Campbell, Linda Evangelista, Tatjana Patitz, Christy Turlington e Cindy Crawford.

Era aquilo que ele queria. Cinco super-rostos, cinco super mulheres, cinco exemplos do que ele mesmo vivia – fama, dinheiro, puxação-de-saco, consumo em alta rotatividade, futilidade, rostos bonitos e nenhum conteúdo relevante a não ser a aparência.

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Junto delas, estariam o modelo masculino John Pearson e o fotógrafo Mario Sorrenti.

A música dizia que se você tem que ser bonito pra vender música, vamos colocar rostos indiscutíveis ali. Não precisa ser o de Michael.

Ter supermodelos em vídeos musicais estava longe de ser novidade. O que Michael propunha, entretanto, era que elas fizessem o papel delas mesmas na intimidade e não da “namorada” ou “parceira romântica” do músico.

A transferência de protagonismo foi um dos argumentos pra tentar convencer os cinco maiores cachês da moda a participar do projeto, mas não o único. O outro é até risível, ao se ouvir pela primeira vez.

Linda Evangelista contou que ele dizia que “o clipe nos faria grandes, que seria bom pra nós. Eu pensei: ‘ah, pera lá, nós já estamos aqui. Já chegamos lá!'”.

De fato, o próprio cachê delas mostrava esse era um argumento falho. Annie Veltri, que representou quatro delas na Elite (menos Turlington), disse que elas receberam US$ 15 mil por dia pra participar do clipe, filmando ou não filmando, o que era ainda uma ninharia perto do que elas recebiam por trabalho.

Havia um outro argumento, esse especialmente importante, que também fez os olhos das mulheres brilharem: David Fincher.

O diretor já era bastante conhecido pelo que havia feito em clipes de Madonna, Paula Abdul, Steve Winwood, Ry Cooder, Sting (no classudo “Englishman In New York”), Aerosmith (em Janie’s Got A Gun”), Billy Idol e tantos outros. Ele tinha estilo, mas ainda não era o cara duas vezes indicado ao Oscar (por “A Rede Social”, The Social Network, 2010; e “O Curioso Caso de Benjamim Button”, The Curious Case of Benjamin Button, 2008), nem havia dirigido os agora clássicos “Seven, Os Sete Pecados Capitais” (Se7en, 1995) e “Clube Da Luta” (Fight Club, 1999).

Veltri deixou claro: “não havia nenhuma dúvida real sobre se deveríamos aceitar: eram George Michael e David Fincher; você não perde isso por nada”.

O clipe foi filmado em um edifício em Merton, um bairro de Londres, onde fica Wimbledon.

Ali, o diretor montou sua equipe de criação pra uma filmagem de vários dias. Camilla Nickerson, depois editora da Vogue, estilizou as roupas; Guido Palau, fez os cabelos; e Carol Brown, a maquiagem. Cada um deles havia trabalhado com uma ou mais das supermodelos em anúncios e projetos editoriais, mas nunca tinham visto um cenário na escala do que Fincher encomendou.

“Foi épico”, diz Nickerson. “Tinha uma grandeza e uma sensação meio de ‘Blade Runner'”. Ela usou muitas de suas próprias roupas nas gravações, já que a maior parte do orçamento foi usado pra adquirir o lençol de linho que fica enrolado em Turlington.

“Tive que conseguir o lençol de linho de que Christy precisava. Tinha que ter 18 metros de comprimento e um pouco de linho irlandês com fios de lã específicos. Fincher foi muito específico sobre tudo”, ela contou.

Guido Palau é agora um cabeleireiro aclamado, mas “Freedom! ’90” foi uma grande oportunidade pra ele. Mais tarde, disse: “não tinha feito um vídeo antes e, pra ser honesto, havia na época cabeleireiros maiores e melhores, então foi um golpe de sorte pra mim”.

Embora a história dê a impressão de uma turma de amigos se reunindo pra um fim de semana em uma mansão abandonada, na verdade o storyboard de noventa e dois esboços exigia que cada modelo filmasse em dias separados, com exceção de Evangelista e Turlington, que aparecem em uma cena juntos.

“Eu estava sozinha, não vi nenhuma das outras garotas”, disse Patitz.

Ela chegou de Nova York pelo Concorde, que hoje não voa mais. “Aqueles dias eram tão incríveis. Definitivamente, não era nada mal”, disse, quase implorando pro tempo passar a rodar ao contrário.

Cada modelo recebeu um verso para dublar. Mas a vida daquelas estrelas era difícil, quase não sobrava tempo pra preparações.

Christy Turlington lembra da expectativa de chegar pra gravar o vídeo em Londres. “Foi um redemoinho”, disse ela. “Eu voei de Los Angeles e direto direto pro set. Não peguei a fita cassete da música até chegar em Londres. Eu ouvi a faixa repetidamente durante todo o trajeto até o estúdio. Eu mal tinha decorado a letra quando filmamos”.

“Lembro-me de George ser meio tímido”, revelou ela à Rolling Stone em outra ocasião. “Ele era uma pessoa que certamente estava no controle… sua aura. Ele entrou com um boné de beisebol. Ele não tinha uma comitiva ou algo parecido. Toda a produção parecia bastante reduzida, em retrospecto”.

Elas, que estavam bastante acostumadas a um mundaréu de gente ao redor, estranharam a produção “enxuta”.

“George estava lá o tempo todo e muito envolvido. Minha primeira tomada, que foi eu rastejando atrás de uma placa de papel com uma fenda, revelando apenas uma parte do meu rosto. Sempre que não conseguia me lembrar das palavras, me abaixava pra baixo pra que apenas meus olhos fossem visíveis”, lembra. “No final das filmagens, a música não saía da minha cabeça!”.

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Mas foi no refrão da música que Fincher entregou o que George Michael realmente queria. Enquanto se ouvia Michael cantando “All we have to do now / Is take these lies and make them true somehow / All we have to see / Is that I don’t belong to you / And you don’t belong to me, yeah, yeah / Freedom! Freedom!”, ele imaginou totens da carreira de Michael explodindo: uma guitarra, uma jukebox e a jaqueta de couro que ele usou em seu vídeo “Faith” de 1987 (no momento em que a letra diz “Sometimes the clothes do not make the man”).

Era a liberdade explosiva que o artista desejava, mas um recado que talvez as pessoas não fossem perceber. Isso é culpa da própria ideia de Michael: aqueles cinco rostos e corpos chamavam atenção demais pra se reparar nesses símbolos. Além disso, a música era empolgante o suficiente pra que muita gente estivesse de olhos fechados, pulando e cantando alto o bastante pra nem se ater ao que se passava mais no vídeo.

Aliás, a percepção que muita gente teve foi que as modelos queriam se libertar das amarras do mundo cancerígeno da moda, das suas exigências e as “mentiras transformadas em verdade” eram o trabalho dos enganadores publicitários.

Era uma época pós-yuppies inescrupulosos, que se preocupavam com dinheiro e imagem apenas. Gordon Gekko estava por todo canto ainda, apesar do fim de sua era; e Patrick Bateman ainda não tinha surgido nas telas, mas sua loucura certamente transitava pelos muitos modelos nas altas rodas.

Um tempo de consumo exacerbado e exageros quetais.

“A moda estava se movendo em uma direção muito vampiresca e grandiosa”, lembrou Nickerson. “As mulheres brincavam de ser grandes estrelas de cinema”.

E elas estavam ali, vivendo um outro mundo – não o do cinema, mas o da música. O glamour delas não atingia este público específico.

Linda Evangelista disse em 2015 que “quando alguém me conhece pela primeira vez, traz aquele vídeo. É isso que se lembram”. Não das capas de revista, passageiras, nem dos editoriais de moda ou desfiles. Do clipe. Então, sim, George Michael estava certo quando afirmou que elas iam para o topo.

Um outro topo. Um que elas não conheciam ainda.

As supermodelos desfilaram pela passarela outono-inverno de 1991 de Gianni Versace sincronizando os lábios com “Freedom! ’90”, tal a imagem que se colou nelas.

O videoclipe de “Freedom! ’90” agora é conhecido como um dos mais icônicos de seu tempo.

Cindy Crawford também não sabia o impacto que a peça promocional poderia causar. “Em primeiro lugar, era a própria música e a mensagem e declaração de ‘liberdade’ pro próprio George. Na época, não tenho certeza se percebi a longevidade e o impacto deste vídeo, mas obviamente, ainda persiste”.

Linda Evangelista contou que, “anos depois, este o vídeo – e não as capas de revistas – é o que as pessoas mais mencionam quando se aproximam de mim na rua. É incrível”.

Mas naqueles dias em Londres, perto de Wimbledon, as cinco beldades milionárias não faziam ideia no que estavam se metendo em termos de longevidade cultural.

“Eu vim para o set no primeiro dia em que eles estavam filmando”, disse Naomi Campbell em entrevista pra Harper’s Bazaar. “Ai, meu Deus, foi uma loucura! Foi durante as coleções de moda; então, vim direto de Paris, fiz quatro ou cinco desfiles no dia anterior e terminamos às 2 horas da manhã”.

“Na época eles não tinham o Eurostar. Foi uma operação chegar. Não dormi – fui do avião pro chuveiro e pro set”, lembrou.

“Todas as modelos e eu conhecíamos George Michael – acho que já tinha feito uma sessão de fotos com ele em algum momento antes”, tentou recordar a alemão de 1,80 metro e à época 25 anos Tatjana Patitz.

“Quando filmei meu segmento, era só eu em Londres… Eu estava contra a parede com esse manto de leopardo”, seguiu. “O cabeleireiro fez meu cabelo ficar encaracolado – eu pensei, você está tentando me fazer parecer que coloquei meus dedos em uma tomada? E então (o diretor David Fincher) também me fez deitar naquela espreguiçadeira e fumar”.

Patitz, que aspirava ser atriz, pronunciou as palavras da música repetidamente enquanto se encostava em uma parede pingando água. Em outra cena, ela posou em um sofá soprando timidamente a fumaça de um cigarro, o que não foi um desafio especial, já que ela era fumante na época.

Já Cindy Crawford passava a maior parte do tempo sem camisa e revestida de glicerina, sentada em uma banheira vazia.

“Alguém me explicou que minha primeira tomada seria na banheira”, lembrou Cindy Crawford. “Eles passaram óleo em mim e me colocaram em uma banheira vazia com uma máquina de fumaça pra parecer que havia vapor. Tive que sentar em uma caixa de maçã porque você não podia me ver do outro lado da banheira”.

Se a configuração não era exatamente confortável, ela nunca pensou em reclamar. “Eu me lembro de ter sentido um pouco como, ‘oh, por que eu fiquei presa na banheira? Eu quero aquele cabelo grande e glamuroso. Eu quero estar usando salto alto ou soprando anéis de fumaça legais, como Tatjana’. Mas se você estivesse trabalhando com pessoas incríveis, você simplesmente fazia o que eles pediam”, disse Crawford.

Por ordem do diretor, a maquiagem de Crawford deveria parecer “completamente destruída, como se ela estivesse em uma atmosfera úmida”, revelou Carol Brown. “A pobre garota devia estar congelando porque não estava quente lá. Lembro-me dela atravessar o estúdio com tanto medo e orgulho, sem dar muita importância ao fato de estar usando apenas uma tanga”.

Ela certamente não se sentiu sexy esfregando seu corpo numa banheira, em cima de uma caixa de maçãs.

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Cindy recordou-se também de quando viu de novo o vídeo com os filhos: “eles estavam tipo, ‘ei, nós conhecemos essa música!’. Acho que resiste ao teste do tempo e ainda parece incrível hoje”.

Apesar de toda a sua suposta indiferença ao lance da autopromoção, Michael era uma presença constante no set e uma pessoa feliz. “Bebíamos vinho tinto e cantávamos músicas à noite, porque meio que ficava tarde, e George era como um membro da equipe, nos trailers, curtindo”.

No último dia de filmagem, foi a vez de Evangelista: “fui a última, e eles estavam muito preocupados com certos pontos da música que os outros não haviam acertado em sua dublagem, então eu tive que conseguir isso. Lembro que tiraram o vinho de George e de mim, e ele ficou bravo”.

“Éramos um pouco travessos fora do set, à medida que avançávamos tarde da noite”, contou Evangelista.

“Durante a maior parte do dia de mais de dezesseis horas de trabalho, Christy esteve conosco – mas se comportou melhor do que eu e George”, ela disse à V Magazine.

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George Michael roubava o vinho escondido pela produção, pra dar pras meninas. “Eu paguei por isso! Eu paguei por isso!”, ele gritava, se divertindo.

“Tornamo-nos amigos íntimos a partir de então e nos veríamos sempre que podíamos”, disse com saudades Linda Evangelista.

Todas as modelos relembram o vídeo em retrospectiva e mostram o impacto que ele ainda tem em suas carreiras três décadas depois.

“Pra mim, o efeito de aparecer no vídeo foi que de repente fiquei conhecida fora do mundo da moda e em outras mídias que não pertenciam à moda. Isso foi incrível”, empolgou-se Evangelista.

Pra Christy Turlington, “a música foi um clássico instantâneo. Sempre que é tocada em um lugar que estou, sinto olhos se voltando pra mim.”

Já o único modelo masculino, John Pearson, lembra como o vídeo ajudou a torná-lo o modelo mais famoso de seu tempo: “foi provavelmente o trabalho mais falado da minha carreira. Lembro-me de estar em um bar em Miami fazendo uma sessão de fotos quando da estreia foi na MTV. Eu estava animado pra ver o corte final e me perguntando se havia sido cortado. Mas, então, veio o vídeo e eu estava ‘cantando’ a primeira linha… toda a equipe ao meu redor enlouqueceu. Desde então, nunca ouvi nada negativo sobre esse trabalho.”

Nem poderia. “Freedom! ’90” teve um impacto cultural duradouro.

Talvez seja difícil juntar tantas estrelas em torno de um projeto tão menor quanto um videoclipe. Talvez no cinema ou até mesmo na música seja mais fácil. Mas num único videoclipe promocional, não.

Eram as cinco maiores supermodelos da época, algo que uma marca qualquer de moda não teria cacife pra conseguir, mais um diretor de cinema promissor e um astro da música da envergadura de George Michael.

Como Evangelista disse em uma entrevista de 2013: “nós atingimos outro público lá. Não importa onde eu fosse no mundo, eles me conheciam do vídeo de George Michael e não de minhas campanhas”.

Em 2016, a Vogue homenageou o vídeo gravando uma nova geração de modelos dublando a música de Michael em Nova York. A essa altura, as modelos certamente não tiveram problemas em decorar a letra, que já está na memória de quase todo ser vivo.

Sobre o vídeo, Elton John chegou a dizer: “mudou toda a cara de como os vídeos eram feitos: o vídeo dizia tudo. Foi genial. E foi uma coisa revolucionária”.

Para além disso, “Freedom ’90!” tornou-se um hino LGBTQ.

O próprio Michael se revelou gay publicamente em 1998, e uma parte da letra revelava o óbvio: “There’s something deep inside of me / There’s someone I forgot to be”.

Embora a homofobia, associada ao medo da AIDS e do HIV, que Michael enfrentou quando jovem não seja mais a mesma, o preconceito ainda existe e segue matando.

Mas naquele ano, quando tinha 34 anos, George Michael foi parar nas páginas policiais por um episódio que ficou marcado em sua biografia.

Ele foi preso em Beverly Hills após se envolver em um “ato obsceno” (assim mesmo, entre aspas, porque foi como a prisão foi declarada pela polícia) em um banheiro público por um policial disfarçado.

Michael “foi pego durante uma varredura policial no Will Rogers Park”. Ele estava sozinho e o oficial observou o “ato obsceno” e o prendeu.

Embora o guarda não tenha revelado se Michael havia se exposto, ele afirmou que “estava ciente de que estava sendo observado. Acreditamos que Michael sabia que havia outro indivíduo que entrou no banheiro e estava ciente de sua presença”.

A investigação foi iniciada depois que houve relatos de “atos obscenos” em parques frequentados por famílias e crianças.

A Rolling Stone noticiou assim: “pouco antes das 17:00h (hora do Pacífico) o ex-Wham! – que deu à polícia seu nome de nascimento, Georgios Kyriacos Panayiotou, e disse-lhes que era cantor – foi preso e levado pra delegacia, onde foi preso. Ele foi liberado por volta das oito da noite, após pagar uma fiança de US$ 500”.

Michael não contestou a acusação e foi multado em US$ 810 e condenado a oitenta horas de serviço comunitário.

O crime levou à revelação de Michael. Após sua prisão, ele admitiu à CNN que era realmente gay.

“Por alguma razão estranha, minha vida depois de assumir não ficou mais fácil. Na verdade, aconteceu o oposto. A imprensa parecia ter algum prazer em dizer que eu tinha uma ‘audiência heterossexual’ e comecei a tentar destruí-la. E acho que alguns homens ficaram frustrados porque suas namoradas não desistiram da ideia de que George Michael simplesmente não havia encontrado a ‘garota certa’. Que ainda é o que muitos da minha família ainda pensam!”.

Aparentemente, Michael sofreu duplamente na sociedade hipócrita: por admitir ser gay e porque muitas pessoas não acreditaram nele.

George Michael encerrou um relacionamento de treze anos com o parceiro Kenny Goss em 2011. Eles começaram em 1999.

Cinco anos depois, em 25 de dezembro de 2016, George Michael morreu, aos 53 anos. Na época, tinha um relacionamento com Fadi Fawaz, que achou o músico morto, na cama. A causa foi cardiomiopatia dilatada com miocardite e esteatose hepática.

Nenhuma das cinco modelos pôde comparecer ao enterro, reservado a poucos.

Uma liberdade tardia.

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