HIEROFANTE PÚRPURA LANÇA “TRANSE SÓ” EM CD, COM VÁRIOS EXTRAS


Foto de Kbça Cornetti

HIEROFANTE PÚRPURA. Costumo dizer que bandas boas nem sempre precisam ter um nome vistoso, bacana, sacadinho, legal e tals. Mas ajuda. Danilo Sevali (vocal, baixo e piano), Gabriel Mattos (guitarra) e Diogo Menichelli (bateria) conseguem duas coisas: um nome que traduz com estilo o psicodelismo e o intimismo de suas músicas e, ao mesmo tempo, no sentido contrário, canções que fazem jus a esse nome (a banda deu uma ótima entrevista que fala, inclusive sobre o nome, pro Miojo Indie, leia).

O trio de Mogi das Cruzes, São Paulo, tem a cor sonora a que o título induz. Principalmente no mais recente EP, o “Transe Só”, de quatro músicas, lançado em março de 2011 – um disco que, acredite, lembra no horizonte o mais recente do Midlake, “The Courage Of Others”. É o quarto EP do Hierofante Púrpura.

Pois “Transe Só” está sendo lançado em CD essa semana. Do online para o físico, um ganho pra banda, um desejo conquistado pelo trio. Mais do que isso, um trabalho extraordinário em se tratando de uma banda independente, graficamente e musicalmente.

O “Transe Só” no formato físico terá nada mais, nada menos, do que mais dois discos incluídos: os EPs anteriores “Adubado”, de 2009; e “Crise de Creize”, de 2009/2010; totalizando só aqui doze canções que dão uma panorâmica fiel da carreira de quase seis anos da banda.

Mais do que isso, vai contar com cinco faixas ao vivo e um projeto gráfico soberbo de Renan Cruz: uma capa em tamanho de vinil, com o CD num berço dentro (quando der pra investir um pouco mais, a banda lançará também em vinil).

O disco terá lançamento conjunto das irretocáveis Transfusão Noise Records, do Rio de Janeiro; e Popfuzz Records, de Maceió, dia 10 de junho de 2011. Pra celebrar, a banda toca nessa sexta-feira, com os “parceiros do Alarde” (segundo descrição do trio), no Espaço Serralheira, em São Paulo (veja aqui o belíssismo cartaz e os detalhes do show). Ao vivo, a loucura é ainda maior.

Prova disso está nas cinco canções ao vivo, gravadas das maneiras mais inusitadas possíveis, com resultados imprevisíveis, que o Hierofante Púrpura fez questão de sublinhar e que o Floga-se divulga em primeira mão. É uma banda orgânica, orgástica, como dá pra perceber.

“Casa” (Pedreira de Salto – Guerrilha Gerador)

“Semelhante ao EP ‘Crise de Creize’, a sessão de bootlegs se inicia com a música ‘Casa’. Gravada ao ar livre e num cenário inusitado, de peculiar beleza, a Pedreira de Salto, que fica ali pelos lados loucos de Sorocaba. Diferente da música original gravada em estúdio, com todo o controle de tempo, clima, amparados pelo aconchego das salas, lá estavamos reunidos (em uma comunhão das mais psicodélicas) aos amigos da banda INI, finalizando as gravações do DVD ‘Projeto Guerrilha Gerador’. Várias lendas circundavam o local, de cemitério pra carros (o velho golpe do seguro) ou pra pessoas (caguetas, laranjas, pilantras e afins), merecedores de tal destino. Todos os instrumentos foram posicionados na beira de um precipício com uns 20 metros de altura, ao fundo a imponente Pedreira; abaixo, uma água de tons verdes cristalinos e de absurdos 70 metros de profundidade, explicam-se as catacumbas naturais. Tudo foi gravado com o que de melhor ofereciam os estúdios Mustachi, do Peu Ribeiro, e o Machine Action, do Hugo Falcão, que na época dominava as baquetas do Hierofante Púrpura. A sala da técnica foi montada dentro da nossa Kombi, a Tota. Uma tarde bastante especial para todos os envolvidos, entre passeios aquáticos em boias de caminhão, pulos corajosos pra dentro d’água, cenas de divina natureza estilo ‘Live At Pompei’, e uma chuva com corre-corre para não molhar os equipos. O resultado você confere agora. Perceba ao fechar os olhos e imaginar tal cenário naturista, e viaje nesses climas oníricos de uma noite mal dormida, como num filme de Resnais”.

“Sujeito Sem Brio” ao vivo no CCSP (Ao vivo no CCSP – Outubro Independente)

“Quando fechamos esse show com o pessoal do Centro Cultural São Paulo, a empolgação foi enorme. Logo de cara, eles já perguntaram se havia o interesse de utilizar o Piano de Cauda que o Auditório Adoniran Barbosa oferecia. A resposta de imediato foi positiva, mesmo sem nunca antes ter tocado com um desses numa apresentação ao vivo do HP. Em vista do momento oportuno, desenvolvemos um repertório especial para a apresentação, tocaríamos três músicas especialmente ensaiadas e desenvolvidas para o tal instrumento caldoso. Uma das escolhidas foi exatamente ‘Sujeito Sem Brio’, que originalmente foi gravada em um piano. A música é encontrada no nosso EP ‘Adubado’, lançado em 2009, e não conta com uma linha grave de baixo. Completo como só um piano pode ser, todo o peso sentido na composição é originado por suas teclas de multiuso percussivo e melodioso. Já pra apresentação talvez essa lógica não funcionasse tão bem, e acabamos por convidar um baixista e grande parceiro da banda, o Ivan Pires, que gravou esse precioso registro ao nosso lado. A apresentação no CCSP foi uma experiência única na vida de cada um que tocou naquela noite, convidei até a minha mãe! Foi o primeiro show que ela viu da banda em cinco anos de existência do projeto, ficou bastante emocionada, até me chamou de “artista” no dia seguinte… mãe é mãe, rola uma suspeita. Nos shows atuais do Hierofante, procuro levar meu Kurzweil (que possui um som bastante característico de piano) e quem nos brinda com seus graves grooves, é a Helena Duarte, baixista do projeto solo do Jair Naves”.

“Rainha do Universo” com a formação original (Ensaio – Quarto dos fundos da casa do Diogo M.)

“Esse tal ‘quarto dos fundos da casa do Diogo M.’ nada mais é que um estúdio improvisado que deu muita dor de ouvido e de cabeça para os integrantes da família Menichelli e vizinhança, menos pro menino filho do meio, o Dioguines, porque era ele própio o culpado por gerar som de tamanho volume – ele e mais três meliantes, denominados como Hierofante Púrpura. Nessa época, em idos de 2007, éramos quatro, contávamos ainda com nosso amigo e fundador da banda, Felipe Lima. Esse take foi gravado com um microfone meia-boca da Leson, posicionado no meio do quartinho, captado por um multi-pista k7 Tascam. Aquela sonoridade clássica da acústica proporcionada por caixas e mais caixas multicoloridas para o transporte de ovos de galinha caipira, tá aí a explicação da nossa psicodelia rural, só não me levem tão a sério. Mas que tudo aconteceu ali, aconteceu! Basicamente todas as composições nasciam nesse ambiente, e ‘Rainha do Universo’ foi mais uma delas. Nota-se uma presença mais marcante do vocal de Felipe Lima, recortada pelos macios timbres de sua Danelectro cor púrpura. Eu entro rasgando no final, ‘PAPAPARA PAAA’. E fez-se mais uma criação lo-fi e naturalmente misteriosa do então quarteto mogiano”.

“Qualquer Um Toca Isso Hoje Em Dia” (Ensaio – TV Trama – pra ver o vídeo, é só clicar aqui)

“Momento bastante especial da banda, onde nos apresentamos pela primeira vez numa transmissão ao vivo, participando da TV Trama. Lembro que o nervosismo batia forte no peito, todas aquelas cores e câmeras, um Fender Rhodes e um Piano de Cauda utilizado nas gravações de um disco do Raul Seixas, aí é sacanagem. Além disso, ainda contávamos com a ilustre e confortante presença do Ronaldão e do Paulo, dois figuras de extremo carisma e profissionalismo. Deixaram o som tinindo, redondo mesmo, uma lida e uma parceria que ja se firmou nos primeiros minutos de contato, ainda mais quando eles nos apresentaram um outro parceiro deles, o Capetão! Foi complicado executar as músicas naquela vibe do ‘quem sabe faz ao vivo’, mas me satisfaz bastante o resultado obtido, mostra bem a postura dedicada de ensaios que mantinhamos na época, no rancho da família Falcão, em Ibiúna. Entrosamento, experimentalismo improvisado e melodias maravilhosamente captadas dentro de um templo sagrado da música em São Paulo, os estúdios Trama. Vai sem medo e deixa o Capetão tomar conta da sua alma. Ta curioso pra ver o estúdio?”.

“A Carta Que Eu Recebi do Presidente” (Ao vivo no Pico do Urubu – Guerrilha Gerador)

“Tava rolando a edição de 2011 da Virada Cultural Paulista em Mogi das Cruzes. Fomos agraciados com uma sagaz curadoria que nos ofereceu nada menos que um show com os heróis eternos da música alternativa mundial, o Superchunk!! O lance é que algumas semanas antes, uns malucos do projeto ‘Selo sem sê-lo’, inspirados pela ideia do tal projeto Guerrilha Gerador, decidem organizar uma apresentação lá nas alturas, no topo dos topos. Ao vivo no Pico do Urubu… Só de pensar ou ler esse título um turbilhão de imagens e sensações me explodem na cabeça. Tocar no Pico foi sem dúvida a maior experiência subversiva e questionadora pra banda ou qualquer pessoa presente naquela madrugada de ventos cortantes, frio congelante, um gerador, caixas amplificadas, uma bateria, microfones, baixos e guitarras, alguns cobertores, uma fogueira que não pegava fogo, meia dúzia de Baurets, whisky nacional, conhaque, muita mas muita neblina e toda aquela natureza imponente que nos circulava. Entramos debaixo do toldo que improvisava um palco pros músicos e já se passavam das cinco e meia da manhã. C|ontava-se por volta de uns vinte sobreviventes, entre amigos e seres místicos das esferas. A farra tava armada, seria difícil dos coxinhas impedirem esse ato de verdadeira e festiva anarquia. Pra quem não conhece o episódio, no ano de 2010, na mesma Virada Cultural Paulista em Mogi das Cruzes, com o mesmo projeto Guerrilha Gerador, fomos impedidos pela polícia de dar continuidade à nossa manifestação cultural/musical, por mera conduta padronizada de conter expressões espontâneas de arte. É um papo meio comprido, deu bastante pano pra manga na época. O importante é que dessa vez decidimos tocar no topo duma montanha, na serra do Itapeti, cenário absurdo e de extremo valor poético pra aqueles que um dia já estiveram por lá. Felizmente temos bastante cuidado e interesse em documentar tais momentos. Você pode visualizar esse cenário de um todo lisérgico e friorento nesse link – e deixa o mundo ser torto”.


Vídeo de Priscila Ynoue

É um projeto como pouco se vê no Brasil – inclusive com uma gravadora parruda segurando as pontas. O Hierofante Púrpura mergulha numa ousadia louvável – e que sirva de exemplo pra outras bandas.

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