M.TAKARA & CARLA BOREGAS – LINHA D’ÁGUA

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Alguém já disse que a gente deve analisar a vida pelo momento que vivemos. É como se o passado tenha sido só um devaneio deixado pra trás e o futuro venha a ser tão somente um momento que ainda viveremos. Um segundo e o segundo atrás já é passado e não dura nada mais do que um segundo pra que esse segundo deixe de ser o momento.

Escapa-nos pelos dedos e pela compreensão, ok. A linha que separa o passado e o futuro é simplesmente o tempo que não conseguimos compreender, mas é o momento em que unicamente vivemos e estamos presos.

A “Linha D’Água” da dupla M.Takara (Hurtmold) e Carla Boregas (Rakta) se sublinha como no poema de Carlos Drummond de Andrade, “Tudo foi prêmio do tempo / e no tempo se converte / Pressinto que ele ainda flui / Como sangue; talvez água / de rio sem correnteza”.

E nós vamos juntos. Nosso tempo, o de agora, é um tempo esquisito. Quando a dupla gravou a obra, em 2019, era um tempo esquisito, mas não tanto. Nada é como agora, com a proximidade e a sociabilidade representando os maiores perigos da sociedade.

Se o tempo é o momento que nos escapa, não palpável, ele pode ser encaixável também. Como um joguinho de montar, o que se sentia antes pode ser adequado pro que se sento “no agora”, mesmo esse “agora”, breve, já tenha e sempre vá se tornar passado.

Essa “Linha D’Água” da dupla, cheia de climas, como em “Mãe D’Ouro”, nunca é plana, totalmente plana, a ponto de conseguirmos enxergar como uma linha reta. Ela é influenciada pela nossa presença e se mexe, impossível de ser, enfim, alinhada.

As batidas de M.Takara, os sintetizadores de Boregas e os barulhinhos e brinquedinhos eletrônicos de ambos buscam de alguma forma o impossível momento do alinhamento desse tempo. Mas a linha d’água não se alinha, tempo que se move, água que se mexe com nossa presença.

O disco foi gravado e mixado no Estúdio El Rocha, em São Paulo, durante 2019, por Fernando Sanches. A masterização é de Scotty Hard, em New Iorque, Esteites.

“Linha D’Água é um disco de explorações e descobertas, de curiosidade e diálogo, e talvez mais do que tudo, uma grande homenagem ao encontro, à parceria, ao construir junto. As oito faixas foram gravadas num único dia no estúdio, mas é fruto de mais de dois anos de colaborações”, escreve Guilherme Werneck na apresentação do disco.

O lançamento é do selo Desmonta, de 16 de março de 2020. Pra todo sempre. Pra quem conseguir captar.

1. Linha D’Água
2. Rosa De Areia
3. Elipse
4. Traçado Entre Duas Linhas
5. Mãe D’Ouro
6. Bocca Chiusa
7. Execução
8. Constante De Distância

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