MAVKA TOCANDO SONIC YOUTH – COMO FOI

O Mavka tocando Sonic Youth talvez não tenha o mesmo peso em importância do que o Loomer tocando My Bloody Valentine, semana passada, no mesmo Asteroid Bar (dentro do projeto Big Bands). É um redondo engano pensar assim.

Apesar de bem menos tempo de estrada que o Loomer, o Mavka abraçou a causa do Sonic Youth com tanta paixão quanto os gaúchos abraçaram a causa microfônica do My Bloody Valentine, e deram conta do recado da mesma maneira. Porque a banda de Thurston Moore, Lee Ranaldo, Kim Gordon e Steve Shelley é uma tremenda inspiração e influência pro quarteto de Sorocaba. É algo sanguíneo.

No sábado, 16 de julho, após semanas de ensaio e ansiedade, coração na boca, nervosismo justificado, o Mavka subiu ao palco – um altar que poderia ser considerado a jaula dos leões. Do outro lado, uma plateia faminta por Sonic Youth, de frente a uma banda certa de ser alvo de comparações. Havia amigos, por certo. Muitos A lotação lhe era um conforto nesse sentido, talvez na mesma medida. Mas de nenhuma forma a responsabilidade seria diminuída.

Ela poderia, no máximo, ser repartida. E aí estão novamente os amigos e admiradores em ação. Admiradores como Fernando Dotta, vocalista e guitarrista do Single Parents, que não só aceitou o convite pra cantar com o Mavka (no caso, “Incinerate”), mas pra resenhar esse desafio aqui no Floga-se (Bea Rodrigues, baixista e vocalista do Mavka já havia feito o mesmo ao resenhar o Loomer tocando MBV, afinal se banda toca banda, a ideia é que banda resenhe banda também, e tudo se completa).

É esse relato de quem percebe todas as dificuldades de se enfiar nessa “encrenca” e sabe, ao mesmo tempo, exaltar as delícias dos louros conquistados.

DE VOLTA AOS ANOS 90
Texto por Fernando Dotta. Fotos por Theo Portalet.

“O projeto Big Bands, no Asteroid, não se trata só de uma homenagem a uma banda, mas sim um grande teste para quem se propõe a participar.

Porque tocar e cantar igual a bandas como My Bloody Valentine e Sonic Youth não é, definitivamente, tarefa pra qualquer um. Tem que gostar e entender o som, conhecer as referências, ir atrás de pedais de efeito e microfonias similares (tarefa das mais complicadas) e se preparar para diferentes afinações. Afirmo isso porque sou músico e fã incondicional de toda a discografia de Thurston Moore e companhia, inspiração máxima em meu trabalho. Tive a oportunidade de ver dois shows da banda (Claro Que É Rock 2005 e Planeta Terra 2009) e estarei esse ano no SWU, simplesmente porque a experiência de vê-los ao vivo é algo fora do comum.

E o que eu vi neste sábado em Sorocaba foi o Mavka fazendo tudo isso de forma magistral. Um dia para entrar na história da banda e de todos presentes.

Confesso que conhecia pouco do trabalho deste quarteto e fui conferir recentemente dois shows deles em São Paulo, um na Casa Dissenso e outro na Livraria da Esquina. Depois de duas músicas tocadas, já deu pra sacar as referências de bandas como Nirvana, Hole, e o próprio Sonic Youth nas músicas do primeiro EP homônimo, executadas de forma despretensiosa mas agressiva no formato baixo, bateria, guitarra e teclado.

Neste sábado quente, Asteroid lotado, o Mavka conquistou o público com um setlist agitado e ao mesmo tempo comovente, com um belo apanhado do melhor da carreira da extensa discografia do SY. Sabemos que a escolha dessas músicas foi sofrida, pois todos da banda são grandes fãs e sabiam que na platéia estariam admiradores, querendo ouvir as mesmas linhas vocais e timbres. Além de uma série de ensaios durante semanas seguidas, para realizar este show a banda precisou de nove guitarras, NOVE, devido às inúmeras afinações usadas por Thurston e Lee Ranaldo, além da presença fixa e essencial das guitarras de Marco Ruiz, integrante da banda Iansã (de Sorocaba também).

Como uma porrada na cara, ‘Cross The Breeze’ inicia o repertório com barulho intenso e vocais gritados de Bea, muito semelhantes aos de Kim Gordon. Depois veio ‘Kool Thing’ para fazer o povo mexer a cabeça e cantar junto o refrão, apreciando cada movimento da banda, sempre precisa e mantendo o ritmo intenso. Os teclados de Duda Caciatori tornaram o noise todo ainda mais bonito, seguindo linhas vocais e dando ambiência às distorções das guitarras. Duda cantou pela primeira vez no Mavka em ‘Sunday’, uma das canções mais sutis do Sonic Youth, que emociona pelas guitarras e que ganhou atenção com seu videoclipe (marcou a volta do ator Macaulay Culkin às telas).

Um dos grandes momentos do show foi ‘100%’, com destaque para a bateria tocada em força máxima por Gringo, que parecia dar o sangue em cada música. Foram vários os clássicos tocados e cada música iniciada era uma vitória. Vale dizer que, em poucos shows do cenário independente, é difícil ver uma platéia lotada admirando daquele jeito o que acontece no palco, durante todo o show. Mavka+Sorocaba parecem realmente funcionar juntos. Em ‘Dirty Boots’, o cenário do videoclipe estava ali, levando todos de volta aos anos 90 com camisas de flanela e camisetas de Pearl Jam e Nirvana.

O show contou também com participações especiais de Fefa Brito, em ‘Bull In The Heather’, e minha, em ‘Incinerate’, umas das minhas favoritas.

Para fechar a catártica apresentação, o grupo escolheu ‘The Diamond Sea’, uma das mais emocionantes canções do Sonic Youth, representando assim uma banda que, desde 1981, consegue cativar o público com ousadia em performance e nas composições e que inventou um estilo próprio numa sinfonia de distorções, tornando-se eterna referência na história do rock alternativo”.

O setlist:
01. Cross The Breeze
02. Kool Thing
03. Mote
04. 100%
05. Sunday
06. Teenage Riot
07. Bull In The Heather
08. Incinerate
09. Stones
10. Dirty Boots
11. Purr
12. The Diamond Sea

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