NOME AOS BOIS 25 ANOS DEPOIS

Lá se vão 25 anos. “Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas” é o que eu costumo chamar de “o segundo melhor disco do Titãs” (não é necessário, mas vá lá: o melhor é “Cabeça Dinossauro”, de 1986). Era o segundo de um trilogia não intencional que culminou com “Õ Blésq Blom”. Depois disso, melhor esquecer (tem esse texto divertido que o Barcinski escreveu pra Bizz, em 1993, sobre o “Titanomaquia”, que dá uma ideia do que o Titãs se tornou).

“Jesus Não Tem Dentes…” aprimora o discurso de “Cabeça…”, com mais ironia (o antecessor era mais direto e cru) e, quiçá, inteligência. Mas não só isso: já havia um apontamento em outra direção. Jogava atenção pras relações interpessoais e pra falta de foco da juventude já não tão contestadora, como em “Corações E Mentes” e “Diversão”. “O Inimigo”, em poucas linhas, questiona essa geração: “O inimigo sou eu / O inimigo é você / Às vezes você tem razão, Às vezes não”.

Porém, o disco se cerca ainda de problemas sociais amplos, no rastro do recém-encerrado governo militar. “Mentiras” alerta pro momento confuso de transição: “Querem me ensinar, querem me julgar pelo que eu fiz / Querem me julgar, querem me ensinar como se diz”. “Desordem” é mais direta. “Comida” centra-se nas liberdades essenciais do ser humano, alertando a Assembleia Constituinte que escreveria a nova Constituição no ano seguinte, em 1988: “A gente não quer só comida/ A gente quer comida / Diversão e arte / A gente não quer só comida / A gente quer saída / Para qualquer parte… / Desejo, necessidade, vontade”.

E “Nome Aos Bois” aponta os pulhas e ignóbeis figuras que nos fizeram chegar a esse ponto. Lista trinta e quatro nomes de pessoas que ajudaram o mundo a ficar a merda que está, ou que usaram a intolerância e a truculência pra expor suas ideias e princípios.

A poesia construtivista, no sentido de não-formal, não-objetiva, sem formas puras, assinada por Nando Reis
Marcelo Fromer, Arnaldo Antunes e Tony Bellotto, e cantada por Nando Reis, enumera esses nomes por cima de um rife simples e pegajoso.

Por algum motivo, a canção fora dos padrões quedou-se perfeita na história. “Nome Aos Bois” é a melhor música já escrita pelos Titãs e gerou até um filhote divertido mas dispensável, “O Pulso”, de “Õ Blésq Blom”, enumerando doenças.

Ouça “Nome Aos Bois” aqui:

Aqui tem a lista dos motivos que levaram cada um dos integrantes a merecer espaço na letra (algumas descrições estão falhas, ok). Mas isso era 1987. Vinte e cinco anos depois, um bocado de gente poderia entrar nessa também (um ou outro por terem sido “esquecidos” pelo Titãs).

O Floga-se fez outra lista de trinta e quatro nomes que mereceriam uma “Nome Aos Bois 2”. Duas décadas e meia depois, é uma atualização merecida.

José Luiz DATENA (1957-)
Vive dizendo ser contra a pena de morte no seu programa na TV Bandeirantes, mas se pudesse ele mesmo apertava o botão da cadeira elétrica. Reaça apostólico romano, prega contra o ateísmo e faz circo com a desgraça alheia.

Fernando COLLOR de Mello (1949-)
O “caçador de marajás” foi único presidente cassado da história do Brasil tem a seu favor apenas o fato de ter iniciado a abertura da economia e impulsionado a democracia, ao expor a roubalheira do seu governo, que teve traição familiar, drogas, esportes radicais e amigos malandrões, e acabar no olho da rua a pedido do povo (a grosso modo). Governou de 15 de março de 1990 a 29 de dezembro de 1992. Foi tarde, mas já voltou. Como senador eleito de Alagoas. Vai entender o brasileiro…

Paulo César P.C. FARIAS (1945-1966)
O tesoureiro da campanha de Collor à presidência foi também o mafioso que o colocou pra fora da presidência, ao ser apontado com o chefe do esquema de lavagem de dinheiro, pelo próprio irmão do presidente, Pedro Collor de Mello, em entrevista história à revista Veja, em 1992. Acabou morto em julho de 1996, em circunstâncias ainda não esclarecidas. Foi o símbolo máximo da maracutaia pós-ditadura.

Jair BOLSONARO (1955-)
Acredite, esse cara tem fãs. Note, não eleitores, mas fãs. O paulista de Campinas é Deputado Federal pelo Rio de Janeiro há seis mandatos consecutivos, com um discurso ultra-conservador. É militar da reserva e defendeu numa entrevista à revista Istoé a tortura a no caso de tráfico de drogas e sequestro. É homofóbico de carteirinha.

George Walker BUSH (1946-)
O 43º presidente dos Estados Unidos da América governou o país por oito anos e meteu a gringolândia em trocentas guerras e enfrentou a maior crise da nova era, o 11 de Setembro, de maneira reticente, longe de ser um estadista, e de modo a dar dinheiro ao máximo de empresas que colaboraram com suas campanhas. Até hoje as armas de destruição em massa não foram achadas no Iraque. Mas os Esteites continuam por lá (e no Afeganistão) ao custo de quase uma dezena de trilhões de dólares.

Osama BIN LADEN (1957-2011)
Diz a lenda que ele morreu, mas os Esteites do Osama nunca apresentaram o corpo. Não importa, um dos maiores patrocinadores da Al-Qaeda (líder e fundador) entrou pra história como o cérebro maligno que arquitetou o pior ataque ao solo estadunidense, às torres do World Trade Center. Matou duas mil e quinhentas pessoas só nos ataques, sem contas as consequências.

John CHARLTON HESTON (1923-2008)
O cara foi Ben Hur, El Cid, e, veja só, Moisés no cinema. Foi também um cara centrado, ativista pelos direitos civis aos negros, apoiando Martin Luther King durante a famosa Marcha pelos direitos civis a Washington, em 1963, mas lá pelos anos 1980, pirou: apoiou Ronald Reagan à presidência e assumiu defesa total das armas de fogo, chegando a ser presidente da National Rifle Association. Virou um reaça de primeira.

Mahmoud AHMADINEJAD (1956-)
O presidente iraniano é doidão. Tá batendo de frente com o mundo inteiro (salvo exceções pouco louváveis, como Coréia do Norte, China e… errr.. Brasil) ao insistir em enriquecer urânio, dizendo que é pra fins pacíficos. Ok, daria pra acreditar se ele não fosse um truculento chefe de governo que restringe direitos civis e diz publicamente que “Israel deveria ser varrido do mapa”.

José Ribamar Ferreira Araújo da Costa SARNEY (1930-)
Virou o 31º presidente do Brasil, o primeiro pós-ditadura, sem ser eleito diretamente e sem sequer ser o cabeça da chapa. Herdou o cargo após a morte de Tancredo Neves, que pôs o país pra chorar. Lançou o Plano Cruzado em março de 1986, que só fez água diante de uma inflação de 87% no MÊS de fevereiro (sim, isso existiu). Seus currais eleitorais, Maranhão e Amapá, perduram desde antes de Pedro Álvares Cabral, provavelmente. É o símbolo da velha e mal cheirosa política brasileira.

Anders Behring BREIVIK (1979-)
Esse é o xarope que planejou e executou os ataques na Noruega em 2011: numa explosão na zona de edifícios governamentais da capital, Oslo, e num tiroteio ocorrido poucas horas depois, na ilha de Utøya (no lago Tyrifjorden, Buskerud). Setenta e seis pessoas morreram. Você sabe tudo dessa maluquice aqui.

SADDAM HUSSEIN Abd al-Majid al-Tikriti (1937-2006)
Governou o Iraque por 24 anos e foi o mandante de diversos massacres de curdos e xiitas. Os curdos sofreram uma “limpeza étnica” entre 1986 e 1989. Dizem que ele matou mais duzentas mil pessoas. Enfrentou três guerras no Golfo, duas delas contra a família Bush.

Silvio BERLUSCONI (1936-)
Foi primeiro-ministro italiano por três vezes. Três. Claro, é o dono da Itália: a Mediaset, a Rede Globo deles lá, e o Milan, o time, são deles, só pra ter uma ideia. Mulherengo, seu governo acabou sendo conhecido mais pelas aventuras extra-conjugais. É outro reaça de mão cheia.

CORONEL UBIRATAN Guimarães (1943-2006)
Coronel da Polícia Militar paulista responsável pela invasão ao Complexo Penitenciário do Carandiru, em 1992 (leia mais aqui), que resultou na morte de 111 detentos. Dessas coisas que não se entende do brasileiro, o coronel foi eleito posteriormente deputado estadual por São Paulo com 56.155 votos, em 2002. Seu número? 14111. O coronel foi morto em seu apartamento em São Paulo num crime ainda não esclarecido.

PASTOR Silas Lima MALAFAIA (1958-)
É o líder da igreja Assembleia de Deus e Vitória em Cristo. Com esse papo de ser cristão se dá o direito de maldizer os homossexuais e ser truculento contra os defensores do aborto. Foi um dos maiores ativistas contra a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Só por isso, já merece estar nesta lista.

GOLEIRO BRUNO Fernandes de Souza (1984-)
Campeão brasileiro pelo Flamengo, em 2009, o Goleiro Bruno acabou mesmo reconhecido como o mandante do assassinato da ex-amante-namorada-sei-lá-o-quê Eliza Samudio. Está preso desde 2010, alegando inocência. O corpo da moça nunca foi encontrado.

Alfredo STROESSNER Matiauda (1912-2006)
O general governou o Paraguai “só” entre 1954 até 1989, após depor Federico Chávez. Curtia uns ex-nazistas, como Josef Mengele. A Cidade Del Este se chamava Porto Stroessner por determinação sua. Mas após a saída do ditador, voltou ao seu nome normal.

Francisco SOLANO LÓPEZ (1827-1870)
Por muito tempo ensinou-se nas escolas brasileiras que Solano López foi um pobre coitado massacrado por interesses ingleses na Guerra do Paraguai. Não foi. Era um doido, ditador, que quase levou o país a morrer (literalmente) de fome. Sua morte foi em batalha, na Guerra do Paraguai: foi fácil identificá-lo entre os seus, porque era o único soldado com aparência saudável – era o único que comia.

Paulo Salim MALUF (1931-)
É deputado federal por São Paulo, estado que governou durante a ditadura militar. Foi prefeito da capital também no regime militar, e eleito pelo voto direto apenas uma vez, em 1993. Atribui-se às suas ligações às empreiteiras o fato de São Paulo ser uma cidade voltada aos automóveis e não ao transporte público. Acusado de intimidar uma testemunha, foi preso por 40 dias na Polícia Federal, por causa de denúncias de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção e evasão fiscal. Tem um dinheirinho aí nuns paraísos fiscais.

Slobodan MILOSEVIC (1941-2006)
O maior pulha da transformação da ex-Iugoslávia. Foi presidente do país e acusado de genocídio. Ele é sérvio e não gostou quando, em 1992, os bósnios declararam independência. Sua perseguição aos bósnios culminou no Massacre de Srebrenica, uma de 8.373 bósnios muçulmanos, em 1995, sob o comando do General Ratko Mladi? (que merecia uma menção aqui também). É considerado o maior massacre em massa desde o fim da Segunda Guerra. Milosevic morreu na cadeia. Conselho: se for a Sarajevo, nem pense em mencionar os nomes deles por lá.

Nicolae CEAUSESCU (1918-1989)
Governou a Romênia entre 1967 e 1989. Era um líder comunista, mas adorava juntar uma grana, que nem era dele, era do Estado, enquanto os romenos morriam de fome e eram calado com umas bordoadas e torturas afins. Em 1989, ao ordenar que o exército disparasse contra os manifestantes anti-comunistas, se deu mal. O exército se recusou, aliou-se aos manifestantes e Ceausescu teve que se picar, sequestrando um helicóptero. A fuga não deu certo. Ele e a esposa foram presos e fuzilados por diversos crimes.

Muammar Abu Minyar al-GADDAFI (1969-2011)
Em 1969, deu um golpe de estado e depôs o rei Idris I, que tava entregando o petróleo líbio de mão beijada aos EUA. De cara, o povo até curtiu a sua imposição conservadora aos preceitos islâmicos, mas as liberdades individuais foram limadas – e por quarenta anos. A revolução de 2011, tirou-o do poder e da vida.

IAN Warwick BLAIR (1953-)
Ele é cavalheiro inglês, aclamado pela rainha: Sir Ian Warwick Blair, Barão Blair de Boughton. É também policial civil aposentado, e foi Comissário da Polícia Metropolitana de Londres quando da desastrosa operação que culminou na morte de Jean Charles de Menezes, em 2005. Seus policiais confundiram o brasileiro com Hussain Osman. Até hoje, não admite o erro. Veja o caso todo aqui.

Eric HARRIS (1981-1999) e Dylan KLEBOLD (1982-1999)
Esses dois moleques foram os responsáveis pelo Massacre de Columbine, em 1999. A escola fica no Condado de Jefferson, Colorado, Estados Unidos. Morreram treze pessoas (doze alunos e um professor) e vinte e uma ficaram feridas. Depois da atrocidade, cometeram suicídio.

Paulo SETTE Câmara (?-)
Ele era o secretário de Segurança do Pará, no governo Almir Gabriel, em 17 de abril 1996, quando aconteceu o Massacre de Eldorado Dos Carajás, quando dezenove sem-terra foram assassinados. Tudo aconteceu porque 1500 sem-terra saíram em caminhada em protesto contra a demora da desapropriação de terras, na Fazenda Macaxeira. Eles obstruíram uma estrada e a polícia militar foi lá dar um jeito. As ordens do secretário foram de “usar a força necessária, inclusive atirar”. Ninguém está preso por isso.

HUGO Rafael CHÁVEZ Frías (1954-)
O cara é presidente da Venezuela desde 1999. Ele centralizou o poder, controlando a Assembleia Nacional, o Tribunal Supremo de Justiça, o Banco Central da Venezuela, as redes de televisão e jornais (com censura) e a indústria petrolífera. É, enfim, um ditador, embora Chávez e um bocado de gente ache que não. Seu discurso “anti-ianque” ainda lhe dá salvaguarda no atrasado pensamento político da América do Sul. Mas é um ditador e ponto.

Li PENG (1928-)
Era o Foi primeiro-ministro da China em 4 de junho de 1989, quando determinou que o exército acabasse na marra com os protestos na Praça da Paz Celestial (você certamente conhece essa imagem). O número de mortes vão de 400 (jornais estadunidenses) a sete mil (estimativa dos manifestantes).

Luiz Carlos ALBORGHETTI (1945-2009)
Alborghetti foi deputado estadual por dezesseis anos no Paraná. Dezesseis. Seus programas “Cadeia Sem Censura” e “Plantão Mais”, no rádio e na tevê, fizeram a fama do apresentador de porrete na mão, que chamava traficante de bundões e bichas. Foi ele que entrou com uma ação no Ministério Público do Paraná pra proibir o Planet Hemp de tocar no estado, por “apologia às drogas”.

EDÍLSON PEREIRA DE CARVALHO (1962-)
É a figura centra daquela que ficou conhecida como “máfia do apito”. Em 2005, recebeu uma grana pra alterar, na miúda, os resultados dos jogos que apitava. Uma reportagem da revista Veja, no mesmo ano, denunciou o esquema e onze jogos do Campeonato Brasileiro. O título ficou com o Corinthians. Edílson acabou escrevendo um livro sobre o assunto, que não explicou nada (nem em entrevistas).

JOÃO ALVES de Almeida (1919-2004)
Não só ele, mas outros deputados federais rodaram na CPI do Orçamento, em 1993. Dezoito no total. O baiano João Alves, porém, foi o símbolo dessa turma. Baixinho, virou anão do orçamento, que de tanta propina acabou justificando o aumento de sua renda pela sorte: ele ganhava demais na loteria. É sério.

RICARDO Terra TEIXEIRA (1947-)
Foi presidente da CBF de 1989 a 2012. No período, o Brasil ganhou duas Copas do Mundo e foi vice em outra. Mas nem mesmo o torcedor gostava dele. Ditador, dominava as federações estaduais na base de chantagem e isso atravancou a evolução do esporte como negócio no Brasil. Era truculento com a imprensa e o pior: enriqueceu muito com o dinheiro que a Seleção Brasileira ganhava.

Gilberto KASSAB (1960-)
Talvez seja o pior prefeito da cidade de São Paulo. Pior que o Pitta (Celso, morto em 2009)? Páreo duro. Kassab quer ficar pra história como o prefeito da proibição. Nada pode em São Paulo, nem mesmo fazer galeto assado na porta de padaria ou andar de moto nas Marginais. Pra ele, é mais fácil proibir do que resolver o problema.

GUILHERME DE PÁDUA (1969-)
Junto com a ex-esposa Paula Thomaz assassinou Daniella Perez em 1992, com quem atuava numa novela global escrita pela mãe da vítima. O crime comoveu o país e Guilherme foi condenado a dezenove anos e meio de prisão, mas só cumpriu seis. Hoje é “evangélico” e prefere, claro, o anonimato.

Nicolau dos Santos Neto, o LALAU (1928-)
Um dos maiores exemplos de como pensam os “homens do poder”no Brasil. Era juiz trabalhista em 1994, quando passou a presidir a Comissão de Obras do Tribunal Regional do Trabalho (TRT/SP). A ganância foi tanta que de 1994 a 1998 desviou R$ 170 milhões dos R$ 223,9 milhões destinados à construção. Foi preso em 2000.

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