O TEMPO PASSA, O TEMPO VOA…

Se você lembra dessa melodia do título, vai saber do que eu tô falando.

Tem gente que não se toca. O tempo vai passando e a pessoa não se toca. Sim, é óbvio: o tempo é inescrupuloso, implacável e inevitável. Tem gente que não percebe que o tempo tá passando e se acha moleque ainda. No mau sentido.

Lembro-me bem de quando comecei a gostar de música, lá no início da década de 80, em 1982, 1983. Eram tempos assim… nada ingênuos. O pós-punk imperava, as guitarras ainda gritavam alto e uma parcela de ingleses gostava de ficar deprê. Faz tempo… Muito tempo…

Eu acho que, apesar da idade, ainda sou jovem, tenho tempo e tempo é quase tudo o que sempre se tem. Me tô envelhecendo, dá pra sentir – e não quero dizer que amadureci, nem sempre é a mesma coisa.

Minha sensação de que o tempo tá passando e já vai longe minha “juventude” se dá em várias frentes. As ressacas, por exemplo, estão ficando cada vez mais insuportáveis, mesmo bebendo menos. As contas e responsabilidades são monstruosas. A paciência diminui consideravelmente e por aí vai.

Se o tempo vai pesando pra mim, imagine para jovens que fizeram algo importante, que deixaram sua marca pra posteridade (não que eu não tenha feito, de uma forma ou de outra, que eu não tenha contribuído o mínimo que seja). Mas veja o caso do Robert Smith, líder e dono do The Cure.

Lá pelo meio dos anos 80, ele era rei. Na Inglaterra, ele era o cara. Ele e Morrissey. The Cure, Smiths e New Order eram as bandas. Mas quem vendia mesmo era o The Cure. Quem falava com o maior número de jovens alternativos era o The Cure (sim, havia também o Van Halen e todas aquelas bandas-farofa americanas, mas elas não contam). O tempo passou para ele também.

Hoje, é possível identificar no Robert Smith uma caricatura de si próprio, daquele Robert Smith do auge. A mesma pintura, o mesmo cabelo, as mesmas roupas. Acho que ele não se toca. Ou quer que aqueles tempos voltem. Ou tá na dele e nem liga, sei lá. Provavelmente é isso.

A banda ainda existe, lança discos e tenta se reinventar, de uma maneira que ninguém percebe, porque pouca gente ouve, tirando fãs roxos.

Mas se o tempo foi implacável com Robert Smith, com sua música ele foi bondoso.  As canções do The Cure são cada vez mais atuais, as letras ainda fazem a alegria de jovens inocentes, os muitos sucessos ainda embalam festas, os shows ainda atraem muita gente.

Para se ter uma noção, basta entrar no site da Amazon.com e digitar “A Tribute To The Cure”. A página-resposta vai ser cheia. Surgirão pelo menos dez discos diferentes de tributos à banda, incluindo versões para cordas, para dance music, para coral etc e tal.

Mas quantidade nada quer dizer. Clicando num disco ou outro é possível ver a importância das bandas que fazem versões para músicas do The Cure.

No disco de 2008, “Perfect As Cats”, tem Bat For Lashes (“A Forest”), Dandy Warhols (“Primary”) e muitos outros. Foram lançados ainda “A Tribute To The Cure”, em 2007; “Stranges As Angels”, em 2004; “Fictional”, em 1995; “A Night Like This”, em 2003; “Our Voices”, em 2004; e mais duas que saíram este ano e que valem a pena conferir, muito por causa das bandas – embora as versões fiquem normalmente aquém das originais.

Em janeiro de 2009, foi lançado “Just Like A Heaven”, cujo serviço tá abaixo:

01. Just Like Heaven (por Joy Zipper)
02. The Lovecats (por Tanya Donelly & Dylan In The Movies)
03. Lovesong (por The Brunettes)
04. In Between Days (por Kitty Karlyle)
05. Fryday I’m In Love (por Dean & Britta)
06. Jumping Someone Else’s Train (por Luff)
07. Boys Don’t Cry (por The Submarines)
08. Close To Me (por Elk City)
09. The Walk (por The Rosebuds)
10. Pictures Of You (por Elizabeth Harper & The Matinee)
11. Let’s Go To Bed (por Cassettes Wont Listen)
12. Catch (por Devics)
13. A Night Like This (por Julie Peel)
14. 10:15 Saturday Night (por The Poems)
15. A Strange Day (por Violet Clark & Black Francis)
16. High (por The Wedding Present)

Just Like Heaven: A Tribute to the Cure

Atenção para a versão de “Catch”, do Devics, e de “High”, do Wedding Present.

Mas bom mesmo é o tributo que saiu em 25 de fevereiro, “Pictures of You”. Organizado pelo site NME, pra homenagear Robert Smith, que recebeu um prêmio do site, tem graaaandes bandas. Saca só:

01. Introdução (falado por Robert Smith)
02. In Between Days (por Mystery Jets and Esser)
03. Boys Don’t Cry (por Lostprophets)
04. Friday I’m In Love (por Marmaduke Duke)
05. Just Like Heaven (por Dinosaur Jr.)
06. Lovesong (por The Big Pink)
07. Lullaby (por Editors)
08. A Forest (por British Sea Power)
09. Primary (por Dandy Warhols)
10. Close To Me (por The Get Up Kids)
11. The Lovecats (por The Futureheads)
12. Catch (por Art Brut)
13. Facination Street (por Metronomy)
14. Cut Here (por Alkaline Trio)
15. In Between Days (por Get Cape. Wear Cape. Fly)

tributoaocure-picturesofyou

As versões do Dinosaur Jr. (“Just Like Heaven”) e do Dandy Warhols (“Primary”) são famosas e imperdíveis. Mas vale ouvir a do Art Brut (“Catch”) e a do Editors (“Lullaby”).

Na playlist, inclusive, tem o Dinosaur Jr. tocando “Just Like Heaven”, mas ao vivo.

O The Cure é coisa do passado, querendo ou não, por mais que continuem lançando coisas novas. Um passado genial. Pela quantidade de tributos, dá pra ver o quanto a música de Robert Smith fez e continua fazendo a diferença. Ele tá vivo, sagaz e cascudo ainda. Não sei se dessa cabeça ainda sai algum clássico, mas é bom ver que, ao contrário do Brasil, onde só os artistas mortos merecem homenagem, um bando de gente que tá movimentando multidões reconhece essa importância.

É uma daquelas bandas para quem o tempo só faz bem.

Dá para entender, então, a saudade que Robert Smith sente daqueles anos.

Para quem não sabe, o título deste post vem de uma propaganda do Banco Bamerindus.

E o Banco Bamerindus nem existe mais. Há anos.

E eu estou mais velho do que quando comecei a escrever esse texto.

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