PENSE OU DANCE: ROCK IN RIO DO GIGANTISMO E DA INCOMPETÊNCIA

Brasileiro tem uma mania esquisita de querer ser só o primeiro, só o maior, só o melhor. Ser o segundo maior, o segundo melhor, o terceiro, o quarto, independente do universo medido, não faz o menor sentido ao brasileiro. Pobres dos compatriotas esportistas, por exemplo, cujo esforço premiado com uma segunda colocação muitas vezes vale tanto quanto um septuagésimo lugar aos olhos do torcedor. Pobre também do consumidor de música que se vê diante do gigantismo da ambição de alguns empresários.

Com tudo o que aconteceu no Rock In Rio 2013, é difícil não voltar à velha discussão (“velha” aqui no Floga-se): é necessário fazer um festival tão grande e ambicioso como esse? Não dá pra fazer algo menorzinho, pra menos gente, com custos menores e, prêmio dos prêmios, mais conforto e respeito ao consumidor?

A resposta está no próprio slogan extra-oficial: “o maior festival de música do mundo”. Ou seja, não, não dá pra ser de outro jeito, de acordo com a visão dos empresários e, aposto, da imprensa e de grande parte do público que está ali mesmo só pelos superlativos, pra participar do momento.

Como chamam o local de “cidade do rock”, valho-me do paralelo com as metrópoles de verdade. A comparação da qualidade de vida em locais como São Paulo, Rio de Janeiro, Nova Iorque, Cidade do México, Buenos Aires, com de cidades de até cem mil habitantes é até covarde. Em verdade, nem há comparação. Ninguém consegue gerir aglomerados de milhões e milhões de pessoas sem fazer besteira, sem deixar a excelência de lado em muitas áreas. Em mega metrópoles, vive-se como é possível viver. Aceita-se tais condições na medida em que a vida permite ser levada.

E num festival de música, não seria óbvio que só houvesse excelência no trato do público? Obviamente que sim, mas, na mesma medida, quanto maior o festival, maiores são seus detalhes e possibilidades de problemas; quanto mais consumidores, mais gente pra agradar, mais condições pro desagrado.

Não parece tão difícil, porque estamos falando de condições básicas, como banheiros limpos e fartos a todos, assistência média apropriada, limpeza, higiene e segurança amplas, e transporte facilitado. Nada disso tinha no RiR.

Há festivais pelo mundo com o tamanho similar ou maiores do que o Rock In Rio, em torno de 85 mil pessoas por dia, e todos eles apresentam um problema ou outro, mas nada tão grave estruturalmente. O Lollapalooza Brasil, recém-criado, já cambaleia com a péssima organização (veja aqui e aqui). Precisamos de festivais, eles são bacanas, enriquecem o calendário, agitam o mercado, são necessários, mas é de se pensar se precisamos de algo com esse gigantismo.

Se a resposta for “sim, precisamos”, é de se questionar, pois, ser estamos preparados pra isso. A resposta tende a um sonoro “não”. Sempre há de existir problemas, os pontuais. É normal. É aquela velha história de não se conseguir agradar a todos – e não estamos falando de curadoria artistica, essa praticamente impossível (como falamos na primeira parte do especial RiR 2013).

Mas como todos esses mega eventos mamam um tanto no dinheiro público (via captação em incentivo fiscais) e conseguem uma boa grana de patrocinadores, onde que está a lógica de se colocar o conforto e o respeito ao consumidor em último plano, ainda mais quando se paga bem caro pelos ingressos? Aliás, esses eventos carecem mesmo de dinheiro de incentivo ao fomento cultural? A conta investimento versus retorno à economia da cidade fecha?

Não há regra ou matemática pra se determinar o tamanho certo de um festival, que alie qualidade artística (de acordo com a exigência de cada público) e respeito ao consumidor (com uma estrutura amigável). Sabe-se apenas que do jeito predador com que os festivais como Rock In Rio pensam e agem no mercado, quem sai perdendo é o público. E se o público ainda não tá reclamando com furor e aceita essas coisas, é porque está historicamente bem mal acostumado, graças ao péssimo trato dado pelos administradores públicos.

Roberto Medina, idealizador do RiR, parece concordar com isso: em 2015 venderá menos ingressos. Mas ainda falta competência pra lidar com o gigantismo típico do gosto do brasileiro.

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