REVISITANDO: PÄRSON SOUND – PÄRSON SOUND (1967-1968)

A alcunha “o Velvet Underground sueco” não é gratuita. O Pärson Sound é exatamente isso, pra efeito de situar o ouvinte. Mas não foi a banda de Lou Reed o estopim pro começo de tudo.

O grupo começou em Estocolmo, na primavera de 1967, logo após a visita de Terry Riley, compositor minimalista que apresentou à época seu “In C”. O guitarrista Bo Anders Persson, estudante da Academia Real de Música da Suécia, participou da apresentação e se mostrou impressionado com o que presenciou: experimentação, loopings, ruídos, dissonâncias, tudo aquilo que a quadradice da universidade não havia apresentado.

O conceito de improvisação nem era novo. A turma de Andy Warhol estava fazendo isso naquele instante, milhares de quilômetros de distância dali, onde o Velvet Underground iria lançar o histórico “The Velvet Underground & Nico”, ou “o disco da banana”. Mas muito antes disso, gênios do jazz já haviam assombrado o mundo, principalmente os músicos, com aulas de improvisação (alguns bons exemplos neste post).

Persson, então, se juntou a um colega de universidade, Arne Ericsson, violoncelista, pra formar o Pärson Sound. Juntaram-se a eles o baixista Torbjörn Abelli, também estudante de música; e o jornalista de rádio e poeta Thomas Tidholm, pra tocar saxofone, flauta e contribuir nos vocais. Mas os ensaios acabaram se tornando conhecidos rapidamente – por conta da reverberação que Tidholm dava – e logo a banda se tornou um coletivo, com outros músicas se juntando. Vieram Thomnas Mera Gartz, baterista; Urban Yman, violinista; Bengt Berger e jorn Fredholm, ambos na percussão e bateria; e o saxofonista Kjell Westling.

Com a fama local, a banda se apresentou em cafés e festivais de verão da cidade. Mas sua música hipnótica e ruidosa era demais até mesmo pra sempre avançada e liberal sociedade sueca. Aquilo não era música pop, deveria mesmo ser enquadrado na categoria de “arte”, se é possível fazer tal distinção.

De fato, em 1968, quando de uma exibição da obra de Andy Warhol no Museu de Arte Moderna de Estocolmo, a Pärson Sound foi chamada pra musicar parte do evento. Foi a única ligação física com algo próximo ao Velvet Underground.

A banda pouco durou. Nem chegou a lançar um disco oficial. “Pärson Sound (1967-1968) é uma compilação de singles gravados no período inicial de atividade do coletivo. São onze músicas compiladas num CD duplo, relançado pela Subliminal Sounds, em 2001.

Algumas delas possuem mais de vinte minutos de duração e são verdadeiras maratonas hipnóticas de sequências repetitivas e experimentais. Algumas têm vocais.

É possível achar quase o disco todo no YouTube ou nos mecanismos usuais de download. É só procurar.

Ouça na íntegra:

01. Intro
02. Tio Minuter
03. From Tunis To India In Fullmoon (On Testosterone)
04. India (Slight Return)
05. A Glimpse Inside The Glyptotec-66
06. One Quiet Afternoon (In The Kings Garden)
07. Sov Gott Rose-Marie
08. Skrubba
09. Milano
10. On How To Live
11. Blåslåte

Mas a história não acaba aqui. Ainda bem. Em agosto de 1968, a banda mudou de nome, pra International Harvester (foto que abre o post). Era praticamente a mesma equipe: Bo Anders Persson, Thomas Mera Gartz, Torbjörn Abelli, Thomas Tidholm, Arne Ericsson e Urban Yman.

Mas o som não era mais o mesmo. O grupo resolveu diminuir o radicalismo experimental e acabou lançando um disco, “Sov Gott Rose-Marie” (“durma bem, Rose-Marie”), que, embora fosse mais palatável, ainda era uma mistura doidíssima de psicodelia, folk, jazz, minimalismo, rock e… errr… sons da natureza. Ok, há de se pontuar: eram tempos hippies…

O disco, com canções – e dessa vez podiam ser chamadas de canções – não extrapolavam os limites da compreensão pop e só uma passava de dez minutos e outra de vinte. Ainda era desafiador, mas nada comparado à primeira encarnação da banda. Há uma versão com catorze canções (a lista está abaixo).

Assim como a compilação do Pärson Sound, é possível encontrar o disco do International Harvester com certa facilidade no YouTube e nas ferramentas de download. O mais recente relançamento é de 2001, em CD, pela Silence, com venda até pela Amazon.

01. Dies Irae
02. I Villande Skogen
03. There Is No Other Place
04. The Runcorn Report On Western Progress
05. Statsministern
06. Ho Chi Minh
07. It’s Only Love
08. Klockan Är Mycket Nu
09. Ut Till Vänster
10. Sommarlåten
11. Sov Gott Rose-Marie
12. I Mourn You
13. How To Survive
14. Skördetider

A história segue com mais uma reviravolta. Um ano após lançar “Sov Gott Rose-Marie”, a banda novamente mudou de nome. E de direcionamento musical. Simplificou de International Harvester pra apenas Harvester. E colocou mais um disco no mercado, “Hemåt” (que significa “caminho de casa”).

Bo Anders Persson conheceu Joel Jansson, hábil num tradicional instrumento de cordas sueco, que mistura o violino e a sanfona (!), e o som pendeu diretamente pro folk, ou algo próximo disso. Embora ainda haja uma boa dose de psicodelia, como se ouve em “Everybody Needs Somebody To Love”.

1. När Lingonen Mognar
2. Kristallen Den Fina
3. Kuk-Polska
4. Nepal Boogie
5. Everybody Needs Somebody To Love
6. Bacon Tomorrow
7. Och Solen Går Upp
8. Hemåt

E por fim, a última mudança, a quarta em três anos. Essa, definitiva. O Harvester muda o nome pra Träd, Gräs & Stenar (“árvores, grama & pedras”), com Bo Anders Persson, Torbjörn Abelli, Arne Ericsson e Thomas Mera Gartz. Vira um quarteto (ora quinteto) e passa a tocar algo perto do rock’n’roll basicão, setentista. Até hoje.

A banda ainda existe e já lançou sete discos. O mais recente é “Homeless Cats”, de 2009, lembrando muitas vezes o Pink Floyd.

Ouça “Punkrockarn”, desse disco:

A evolução errante dessa banda pode ter afastado os ouvintes do seu verdadeiro embrião. Normalmente lembrado como ex-International Harvester/Harvester, esquecem-se que a Träd, Gräs & Stenar veio do Pärson Sound, o “Velvet Underground sueco” – uma banda que todos deveriam conhecer e ouvir.

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