REVISITANDO: THE NEW GUINEA SCENE (1968)

Em 1968, o selo neo-zelandês Viking, de Murdoch Riley e Ron Dalton, lançou a coletânea “The New Guinea Scene”, com as primeiras bandas com relação estreita com a Papua Nova Guiné, seja cantando em hiri motu, seja nascida na ilha da Nova Guiné.

Participam da coletânea três bandas: The Kopy Kats, The Freebeats e The Stalemates.

The Freebeats era formada por australianos. Porto Moresby, a capital do país, fica a quatro horas de voo de Sidney, na Austrália, e os quatro integrantes do grupo se mudaram pra lá no início da década de 1960: Roy Turner, Neville Josey, Ray Michelle e Phil Neilson. No país natal, eles assinavam como The Statesman (em 1970, viraram The Combines), mas a convite do que viria a ser o quinto integrante, Graham Dunich, foram pra Papua explorar a nova onda que nascia com as transmissões comerciais locais de rádio.

Foi logo após o fim da Segunda Guerra que as guitarras e ukeleles se tornaram populares no país, bem como os ritmos estadunidenses, que logo foram assimilados pela juventude local.

Em 1949, Blasius ToUna gravou suas primeiras canções, na língua kuanua, do povo tolai. Ele tinha 25 anos e foi o primeiro “astro popular” da música da Papua Nova Guiné. Foi nesse ano que o primeiro disco comercial de música nacional foi gravado.

Mas foi só em 1962, com a liberação de bebida alcoólica aos habitantes da cidade é que criou-se um cenário de permissividade e uma ideia de “progresso social” que inspirou jovens a formar as primeiras bandas ao estilo ocidental. Em 1967 nascem a Gwandu e a The Freebeats. No ano seguinte, The Kopy Kats e The Stalemates.

A coletânea da Vinking pega esse “nascimento” – embora chame de “nova cena”, era, na verdade, a “primeira cena”.

Ambas The Freebeats e The Stalemates tinham mais vínculos com a Austrália do que propriamente com a Papua Nova Guiné e as suas participações na coletânea se dão basicamente com coveres de músicas de sucesso na Inglaterra e nos Esteites, como “By The Time I Get To Phoenix”, estouro na voz de Glen Campbell (1967); “Last Train To Clarkesville”, dos Monkees (1966); “The Mighty Quinn”, de Bob Dylan, as três na interpretação dos Freebeats; “Ten Guitars”, de Engelbert Humperdinck e Tom Jones (1967); “Love Is All Around”, a música símbolo dos Troggs (1967), as duas com o Stalemates.

Vale lembrar que Papua Nova Guiné conseguiu oficialmente sua independência da Austrália apenas em 16 de setembro de 1975, de modo que a coletânea foi um lançamento australiano, por um selo neo-zelandês, gravado e chancelado pela Comissão de Rádio Australiana.

A ideia, porém, não era fazer um disco que mostrasse apenas a ocidentalização da música jovem de Papua, mas sim dar ao mundo uma pequena amostra de algumas das mais de oitocentas línguas que são faladas no país (algo em torno de 12%, 13% de todas as línguas catalogadas e ativas na atualidade no mundo). As línguas oficiais de Papua Nova Guiné são o inglês (as placas de rua são todas em inglês), o tok pisin e o citado hiri motu.

Assim, cada uma das bandas canta num dos idiomas. The Freebeats aparece com “Tiare (Kekani Ani Mase)”. The Stalemates, com “O Kukulei”. Mas coube ao The Kopy Kats defender as línguas e culturas locais em mais peças.

A Kopy Kats foi formada em 1968, com Wilfred Blakemore, Henry Fabila, Andrew Hebei, John Oberleuter e Max Toua. A primeira canção do disco é deles, uma versão de “Walkabout Long Chinatown”, a música que virou símbolo nacional das Ilhas Salomão, o país vizinho.

A música é da década de 1950 e foi escrita pelo então eletricista Edwin Nanau Sitori, junto com Rone Naqu e Jason Que, em pijin, a língua de seu país e que tem falantes na Papua Nova Guiné. Foi um sucesso enorme e é celebrada até hoje, a ponto do governo Salomão a declarar como “hino não-oficial” do país.

Outra faixa é “Hoki Mai”, cujo título original é “Tomo Mai / Hoki Mai”, escrita pelo neo-zelandês Henare Waitoa, em 1949, e seu maior sucesso, popularizado pelo Howard Morrison Quartet (sobre eles, vale ver este vídeo). A música saúda a volta dos combatentes neo-zelandeses depois da vigésima oitava batalha de Maori, na Segunda Guerra Mundial.

Daí, vem “Heisi Emu Nega”, uma canção do povo Motu, de Papua Nova Guiné.

O resultado é uma proto-surf-music suave, que bem poderia estar em qualquer filme Elvis Presley, bem sessão-da-tarde, como se as três bandas fossem uma só (não há basicamente quase nenhuma diferença entre elas – a Kopy Kats é a mais “suave”).

Essas bandas foram o pontapé inicial pra que muitas outras viessem nas décadas seguintes.

No final dos anos 1970, surgiu a polêmica Black Brothers, que com seu rap/reggae/rock acabou deportada pra região de origem (a Nova Guiné Ocidental, que é parte da Indonésia). Anslom Nakikus é um nome de grande sucesso, com seu reggae. Mas é o hip hop e o rap que ganham mais as ruas e os ouvidos dos jovens. Há muitos nomes pipocando nas frequências locais (de O-Shen a 3KiiNgZ, são muitos). Esse é um mundo que merece umas horas pra vasculhar e descobrir.

Hoje em dia, não há nada da inocência da coletânea “The New Guinea Scene”, mas depois dela, nada mais foi como antes.

LADO A
1. The Kopy Kats – Walkabout Long Chinatown
2. The Freebeats – Tiare (Kekani Ani Mase)
3. The Stalemates – O Kukulei
4. The Kopy Kats – Hungry For Love
5. The Freebeats – By The Time I Get To Phoenix
6. The Stalemates – Skye Boat Song
7. The Kopy Kats – Hoki Mai

LADO B
1. The Freebeats – Last Train To Clarkesville
2. The Stalemates – Ten Guitars
3. The Kopy Kats – Heisi Emu Nega
4. The Freebeats – The Mighty Quinn
5. The Stalemates – Adventures In Paradise
6. The Kopy Kats – Menocino
7. The Stalemates – Love Is All Around

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