ROTEIROS DA BLOGOSFERA: RAIPER E VAIBER – EP. VIII

CENA 1 (noite – interna)
Vaiber está dormindo na cadeira em frente ao computador – ligado – com o corpo curvado sobre a mesa onde está o monitor. De repente, fortes batidas na porta. Silêncio. Novas batidas secas na porta. Vaiber desperta, assustado. Meio cambaleante, caminha até a porta da casa. Abre a porta e não vê ninguém. Aos seus pés, um papel cuidadosamente dobrado. Vaiber se abaixa, ainda sonado, pega o papel, abre e se espanta. Em letras recortadas de jornais e revistas, está escrito: “vc vai morrer seu critico de merda. seu corpo vai se encontrado com suas criticas enfiadas no seuseu disgrassado“.

CENA 2 (dia – interna)
Vaiber e Raiper estão no seu bar preferido, um pé-sujo, com mesas de plástico na calçada. Nesse dia, apesar do sol forte, estão bebendo no balcão. Vaiber segura o papel com a ameaça.

Raiper (em tom de apoio ao amigo): E aí, véi, o que vai fazer sobre isso?
Vaiber (sem demonstrar preocupação): Como assim? Não vou fazer nada.
Raiper (espantando-se): Como assim nada? Tá maluco? É uma ameaça de morte!
Vaiber: Eu sei, mas cão que ladra, você sabe… E, além do mais, isso é bom, não percebe?
Raiper: Não! Não percebo! Tá doido, véi? O que você tomou hoje?
Vaiber: Pensa: vamos é publicar isso no site. Imagina o mimimi que vai rolar? Tem jornalista que faz disso seu marketing, retuitando as ameaças no Twitter e todo mundo adora. Por que a gente não faz o mesmo?
Raiper: Boa! Podemos até mandar pra alguns sites amigos pra ampliar a discussão: “como os fãs são idiotas” (faz um gesto como se visualizasse a frase num letreiro de cinema).
Vaiber: E ampliar o lance: xingar o U2, o National, a Legião Urbana, o Restart, o Pink Floyd, o Arcade Fire, essas merdas…

A CAM se afasta, música sobe e vemos os dois conversando empolgados, rindo e bebendo. Em CAM lenta entra em cena um rapazola, aparentando uns 18 anos, com óculos de aro preto, cabelo desleixado, saca uma arma e atira na direção dos dois. Tumulto no bar. Todo mundo se abaixa, se protege. Calmamente, o rapaz guarda a arma na cintura e quando abaixa a camiseta pra enconde-la e sair calmamente, a CAM mostra o que está escrito nela: “ninguém fala mau do Wilco”.

CENA 3 (efeito – sobreposições)
Sobe música do Wilco. Clipe frenético de imagens: posts, programas de tevê, jornais contam a história da tentativa de assassinato, mostram o rapaz preso. Timeline no Twitter e Facebook mostram apoio ao criminoso, com frases como “Quem ele pença que é pra falar alguma coisa de alguém que tem talento”, “Que talento que esse ‘critico’ tem?”, “Ridícula as ‘análises’ desses ‘críticos’, véio. Enfia ela no cú. Wilco merece respeito. Babacas” (todos com erros absurdos de português) etc. Gráficos de audiência do site aumentam freneticamente.

CENA 4 (dia – interna)
Quarto de hospital. Vaiber está deitado. Familiares ao redor. Raiper ao seu lado.

Raiper: Seu tiro elevou nossa audiência às alturas.
Vaiber: Que beleza! Mais cliques, cliques, cliques. Que manchete você colocou no nosso site?
Raiper: Porra, o cara não sabia nem escrever! Daí eu mandei um “Fã maluco e analfa tenta assassinar crítico que falou mal de banda”… Mas eu fiquei pensando… A gente falou mal do Wilco, por acaso?
Vaiber: Que eu me lembre, não. Mas acho que merecia, né? Aquele último disco é ruim pra caralho.
Raiper: Ah, nem é tanto…
Raiper: Mas vai passar a ser. E o do Black Keys também, o próximo que lançarem.
Vaiber: Beleza! Acho que o do XX também, né? E o do Garbage? O do Radiohead!
Raiper: Boa.

Fade lento pra black.

FIM
Sobem créditos.

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