SETI – ÊXTASE

As coisas são cíclicas. No início da década de 2000, os jovens e suas bandas emulavam os anos 1980. Já do meio pro fim, uma boa parte virava os olhos pros anos 1990, principalmente pro grunge e pras guitarradas lo-fi. A Internet mais farta e acessível tratou de oferecer um canal pra esses novos artistas mostrarem o resultado de sua expressão musical. Na enxurrada de obviedades referenciais, faltava era vida inteligente de fato – quer dizer, ainda falta, e sempre faltará, já que mediocridade faz parte da equação tanto do mercadão, quando do subterrâneo.

Por isso, quando uma banda se projeta a partir de uma referência não óbvia, é pra se aplaudir. É o caso da SETI, duo de Campinas, interior de São Paulo, formado por Roberta Artiolli (voz e sintetizadores) e Bruno Romani (baixo e programação), que se apoiaram numa banda nada célebre e nada original: a Phantogram.

Roberta esteve no show do Phantogram no Brasil, em 2015 (leia aqui): “acho fantástico pegar uma banda que está a caminho de se tornar grande, num palco pequeno e tocando o set que está justamente deixando eles grandes; acho que nunca mais veremos o Phantogram nessas condições”, disse ao Floga-se. “Gosto muito deles e ao vivo ganha uma pegada muito boa, com a banda de apoio”.

Ao vivo, a SETI são só os dois.

Bruno, por sua vez, fez parte da Apside, banda de São Francisco, Esteites, que fez relativo sucesso alternativo por cá (o single “Collide” tocava na rádio Brasil 2000 de São Paulo), e veio ao Brasil em 2005, pro Campari Rock daquele ano, com MC5, The Kills e Dungen (veja mais aqui).

SETI, você deve ter imaginado, tirou seu nome de Search for ExtraTerrestrial Intelligence, ou Busca por Inteligência Extraterrestre), o projeto sem fronteiras que busca por vida inteligente universo afora.

A banda começou em 2012 e já lançou um EP, “Inviolável Fim”. Mas é com “Êxtase” que conseguiu mais atenção das antenas midiáticas do subterrâneo. O disquinho de seis músicas foi lançado em 15 de agosto de 2015, via Motim Records, com produção da dupla e de Ric Palma.

As canções, todas em português, fazem a alegria dos (poucos) fãs do Phantogram: teclados, bases eletrônicas, guitarra tímida e um vocal feminino espacial, tudo remete à dupla Sarah Barthel e Josh Carter.

As letras deixam a desejar e a referência ao Phantogram está mais pra “Voices”, o segundo disco da dupla estadunidense, de 2014 (“Eyelid Movies”, de 2009, é ótimo). A voz de Roberta às vezes aponta como seria se Paula Toller fosse jovenzinha e resolvesse começar agora. É uma bela voz pro que o projeto se propõe.

Os destaques vão pra “Arte Da Guerra”, “Dias Mudos”, a balada estranha e cheia de barulhinhos, e, claro, “Benjamin”, em homenagem a Benjamin Curtis, do School Of Seven Bells, morto em 2013 (segundo Roberta, “homenagem não: é uma música inspirada na morte dele”). As outras três, porém, também merecem toda a sua atenção.

Na busca por vida inteligente no subterrâneo da música brasileira, há muita coisa (garimpe aqui), muita gente pensando e bebendo em fontes diversas. Ainda bem. Mesmo que a Phantogram não seja exatamente um referência aplaudida pela crítica “séria”, já é um norte diferente.

1. Arte Da Guerra
2. Sinta-se/Perca-se
3. Benjamin
4. Extra Estelar
5. Dias Mudos
6. Gravidade Zero

Ouça na íntegra:

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Comentários

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2 comentários

  1. Arlen, valeu pelo toque. Realmente não havia ligado o nome à pessoa (na matéria, falei só com a Roberta). É uma boa curiosidade, de fato, já que a Apside chegou a causar um certo burburinho à época em SP. Fiz um adendo no artigo. Agradeço!

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