THE COSMIC RACE – A GOD THAT CAN DANCE EP

Foi em 1925 que señor José Vasconcelos Calderón publicou seu ensaio “A Raça Cósmica”, texto importante pra legitimação de toda a comunidade latino-americana em um momento de oposição ao nascente e crescente imperialismo e racismo estadunidense.

Pro acadêmico mexicano, a raça cósmica seria a raça unificadora de virtudes e conhecimentos de todas as outras raças que formam o homem ibérico na América Latina – o preto, o branco, o vermelho e o amarelo. É um processo de mestiçagem sobretudo espiritual. Uma reafirmação das novas nações surgidas independentes de um século pra trás até ali.

É daqui que nasce a dupla The Cosmic Race, formada por João Xavi (voz e beats) e Pedro Oliveira (guitarra, baixo e sintetizador). A dupla lança seu primeiro EP, chamado “A God That Can Dance”, no dia 12 de setembro de 2017. Oliveira, pra lembrar, é a mente que nos entrou as grandes obras do I Buried Paul (conheça aqui).

Os dois entregam três músicas que etiquetam como “afrorock”, uma música baseada em batidas não usuais e instrumental seco e “moderno-tribal”.

O impressionante no trabalho, porém, são as letras (em inglês), de autoria de Xavi. Eficaz nas metáforas e na construção dos cenários lúdicos, Xavi descreve na faixa-título, com um humor interessante, o “deus ideal”: “só acredito num deus que consiga dançar / só acreditaria num deus que consiga dançar”. O cenário fantástico elaborado pela letra, a celebração pela vitória de um jeito primitivo.

“Survivor” nos traz a pérola: “I got a patuá / it protects me / I got a patuá / oh I’m blessed”. Enquanto “Afoxé” reforça o sentido de pertencimento daqueles que “vieram pra ficar, então vão ficar”.

A sonoridade tenta abraçar a causa, a partir dos beats e das guitarras não-melódicas. E é aqui que o disco naufraga. A ótima poesia e a boa premissa, num mundo vendido como sem fronteiras mas cada vez mais exclusivo, onde imigrantes são como o demônio em pessoa (os dois são brasileiros moradores de Berlim), não encontram berço numa música que faça o ouvinte abraçar a ideia.

O disco soa como um Art Of Noise sem inspiração, um espirro dos eletrônicos mais esquecíveis dos anos 1980, algo perdido entre um Peter Gabriel e um George Michael em dias ruins de ensaio, apesar de buscar inspiração, como dizem os próprios compositores, em “William Onyeabor, Nação Zumbi, Massive Attack e Zamrock”.

Vale reforçar que o Xavi lançou em 2015 o disco “The Cosmic Race”, que tem ligação umbilical com “A God That Can Dance”, mas é mais efetivo na proposta. Você pode comparar ambas as obras clicando na de Xavi aqui e ouvindo a nova abaixo:

1. A God That Can Dance
2. Survivor
3. Afoxé

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