THE CURE NO HSBC ARENA – COMO FOI

Não sei quem foi o “gênio” que inventou esse local pra fazer uma casa de espetáculos maravilhosa como a HSBC Arena, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Ao lado do Complexo Aquático Maria Lenk e das futuras instalações do parque olímpico de 2016, a casa de vizinhos tão importantes surpreendentemente tem acesso difícil por uma estreita avenida, complicado pelo cada vez mais caótico trânsito da capital fluminense.

O resultado foi um atraso incômodo no show do The Cure, retornando ao Brasil dezessete anos após a apresentação no Hollywood Rock 1996. Previsto pra iniciar às nove e meia da noite, a preocupação com o público chegou logo aos ouvidos da banda, que resolveu subir ao palco meia hora depois, pra dar tempo pros fãs chegarem. Uma atitude digna – Robert Smith se mostrou um cara impressionantemente humilde pra um artista com sua história e envergadura (mais sobre isso em outra matéria especial sobre o The Cure no Brasil).

Não adiantou. Uma casa espetacular, com estrutura de dar inveja, recebendo uma banda importantíssima, terminou com bastante espaço vazio nas arquibancadas. A pista, com a irritante área VIP separando os fãs fervorosos e menos endinheirados dos ídolos no palco, em alguns bons metros – uma mania insistente dos produtores brasileiros – estava bem cheia e a visão do enorme palco era boa de qualquer local, entretanto os vazios nas arquibancadas altas incomodavam, à vista de todos.

O motivo da quantidade frustrante de público pode ser a localização da casa. Ou pode ser pelo show ter acontecido numa quinta-feira, num local sem acesso fácil, pra uma anunciada apresentação de mais de três horas que fatalmente acabaria após a meia-noite. Os cariocas não deram sorte nesse sentido (o show em São Paulo é num sábado e isso sempre ajuda, obviamente).

Até porque o que se viu no palco foi algo que poderia ser mais curto. Bem mais curto. O The Cure tem hits suficientes pra encher uma apresentação de uma hora e meia, duas horas até, e só com eles. Não se faz necessário tocar quarenta canções, escolha inexplicável, exceto pros fãs mais ardorosos. Mas essa turnê é assim, todos sabiam.

Antes, a surpresa da noite: a Herod Layne, banda paulista desconhecida do grande público (mas já dando boas passadas no subterrâneo), esquentou os ouvidos da plateia com um noise ensurdecedor, num set de quatro músicas baseado no seu próximo disco, “Umbra”, a ser lançado em maio.

Uma banda de abertura é sempre algo que mais incomoda do que agrada o público, disposto a amores apenas ao protagonista da noite, compreensivelmente, mas o esporro sônico e as ambiências floydianas dos paulistas parece que encantaram alguns ouvidos mais abertos a novidades.



Entre o show de abertura e o The Cure, uma hora de espera. Não foi o suficiente pra encher a casa, mas também não foi pra irritar profundamente os presentes. Só que a escolha do repertório causou desconforto, com o começo morno com “Open” e “High”, ambas do “Wish”, de 1992, disco que é mais conhecido pelo hit máximo da banda no Brasil, “Friday I’m In Love”, apresentada mais no final da primeira parte. Na sequência, “The End Of The World”, do disco homônimo de 2004. Nenhuma dessas diminuiu as conversas paralelas que estavam altas e empolgadas.

Daí veio a primeira leva de hits, provando que um show só com eles seria o mais acertado. “Lovesong” ganhou coro tímido dos fãs; “Push”, a estupenda “sinfonia” de guitarras que fecha o lado A de “The Head On The Door”, de 1985, apareceu meio raquítica, mas logo encorpou-se; “In Between Days” fez muita gente achar que valeu o ingresso; e a bela “Just Like Heaven” fechou essa passagem de fazer o coração bater mais forte.

Uma sequência menos animada, embora de músicas bem conhecidas, “Pictures Of You”, “Lullaby” e “Fascination Street” não manteve o ritmo. Robert Smith também não parecia se esforçar muito pra dialogar com a plateia. Nunca foi a dele. A “frieza” se aliou ao “arrastado” como bons modos de se descrever o espetáculo até aqui.

Mesmo assim, divertindo-se mais do que a plateia, a banda seguiu revisando a carreira, passando por pérolas clássicas como “Play For Today” (num arranjo mais lento), “A Forest” (lindíssima e lúgubre, auxiliada pelo telão ao fundo com imagens da capa do single de 1980), “Shake Dog Shake”, “Charlotte Sometimes” (melancólica e de arrepiar) e “The Walk” (pra dançarinos desajeitados como Smith).

Após “Friday I’m In Love”, outra sequência dispensável, apenas pra fãs realmente apaixonados, e finalmente aparecem os tão falados bises intermináveis. Mas nesse caso quem esperou até trigésima primeira canção, a que inciou o segundo bis, não se arrependeu. Essa segunda volta ao palco trouxe nove hits arrebatadores, “The Lovecats”, “Close To Me”, “Boys Don’t Cry”, “10:15 Saturday Night” e “Killing An Arab” entre eles. Uma sequência pra valer de fato o ingresso.

Noves fora, ficou claro, claríssimo, que o The Cure é uma banda como poucas na história e até seus problemas são típicos de quem tem bagagem: como escolher um repertório enxuto em meio a tantas opções? O Cure é uma banda que padece por ser boa – e ter uma obra longa e irregular?

Perto das bandecas que aportam por aqui com apenas um disco nas costas (ou nem isso – e que torcemos pra que continuem vindo), o Cure mostra que até num show equivocado vale o esforço pra ver o grupo em ação, porque fatalmente daquele palco muitas coisas boas vão sair.

01. Open
02. High
03. The End Of The World
04. Lovesong
05. Push
06. In Between Days
07. Just Like Heaven
08. From The Edge Of the Deep Green Sea
09. Pictures Of You
10. Lullaby
11. Fascination Street
12. Sleep When I’m Dead
13. Play For Today
14. A Forest
15. Bananafishbones
16. Shake Dog Shake
17. Charlotte Sometimes
18. The Walk
19. Mint Car
20. Friday I’m In Love
21. Doing The Unstuck
22. Trust
23. Want
24. The Hungry Ghost
25. Wrong Number
26. One Hundred Years
27. End

BIS 1
28. Plainsong
29. Prayers For Rain
30. Disintegration

BIS 2
31. Dressing Up
32. The Lovecats
33. The Caterpillar
34. Close To Me
35. Hot Hot Hot!!!
36. Let’s Go to Bed
37. Why Can’t I Be You?
38. Boys Don’t Cry
39. 10:15 Saturday Night
40. Killing An Arab

Veja “Just Like Heaven”:

Veja “Pley For Today”:

Fotos: Roberto Filho/AgNews (Fonte: Midiorama)

Leia mais:

Comentários

comentários

7 comentários

  1. Bom, você gastar 3 ou 4 parágrafos deste texto criticando o local do evento, até ai eu compreendo. Não estava lá, não conheço a infra-estrutura do lugar, então parabéns pela crítica, tomara que os donos do lugar leiam isso e melhorem o local pros próximos eventos que acontecerem lá.
    Só não entendi a reclamação pela quantidade de músicas e duração do show. Sinceramente, fã que é fã, que gasta de R$ 300,00 a R$ 600,00 reais em um ingresso (Não sei ai no Rio, mas aqui em São Paulo, eles enfiaram a faca nos preços) não vai pra show só pra ouvir HITs. Muito digno da parte dos caras se disporem a fazer cerca de 3 horas de show pros fãs que já estão a 16 ou 17 anos sem a banda. Muita gente até se deslocou de outros estados, gastaram com hotel, passagem, entre outras coisas por esse show, eu por exemplo, gastei no total R$ 318,00 pelo meu ingresso, então acho muito bom a duração do evento, muitas outras bandas, cobram até mais caro por apresentações mais curtas, deixando seus fãs com “gostinho de quero mais”.
    Quem é fã, ama de verdade e curte todas as músicas, não só os sucessos.
    A extenção do show ta bem proporcional ao que gastei, estou muito satisfeita até o momento e tenho certeza que não fui a única.

  2. Sinceramente, exceto pelas ruas estreitas de acesso à Arena HSBC, discordo de sua crítica. Gastei 330,00 em meu ingresso e ficaria por mais 3 horas assistindo eles, feliz. Detestei a banda de abertura e de equivocados aqui, apenas seus comentários.

  3. Já fui na HSBC assistir ao Iron Maiden e odiei. É longe, de dificil acesso, é sempre caro e ainda tem essa divisao de pista vip e pista comum. Esse foi o motivo pra eu nem ter tentado comprar o ingresso. Acho que organizadores podiam abrir mais os olhos pras casas mais bem localizadas e mais “democráticas” como o Circo Voador e a Fundição Progresso. Além disso há o recém (re)inaugurado Imperator que é fantástico.

  4. O comentario foi ótimo, mas o problema näo foi o local o ponto negativo do show foi saber que o pessoal da pista premium VIP, a maioria não éra fã do the cure, nem conheciam a Banda, eu estive la na pista simples e perguntei para om pessoal da pista VIP E DUAS PESSOAS me confirmaram que ganharam os ingressos, e alguns outros pior ainda, conseguiram os ingressos por não vender a tempo, tb com preços a 600 reais !!!!!Ai vcs me digam isso e certo pra quem pagou 300 reais e que säo os verdadeiros fäs??????Ainda a mais; vários artistas da Globo na pista VIP; esses vcs acham que pagaram, duvideodo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  5. o RJ ja enterrou, a muito tempo, o rock in roll!
    pena que os músicos tem tara pela cidade do RJ1

    **é verdade que o echo & the bunnymen, num show há anos atras, ñ lembro onde, foi quase + que 50 pessoas?!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.