THE TAPE DISASTER – OH! MYELIN

Myelin é mielina em inglês. O termo foi cunhado em 1865 pra descrever o “envoltório que isola eletricamente o axônio de certos neurônios, formado por várias voltas da membrana celular de oligodendrócitos ou células de Schwann ao redor do axônio”. É esse isolamento que permite e facilita a propagação de “potenciais de ação”, ou o transporte de informações entre os tecidos e, mais importante, é utilizado pelo sistema nervoso pra se comunicar com outros tecidos do organismo.

“Oh! Myelin” é uma curiosa maneira da banda gaúcha The Tape Disaster batizar seu disco de estreia, depois de dois EPs (“Realidade Aumentada”, de 2011, e “A Voz Do Fogo”, de 2012, ambos lançamento da mesma Sinewave que oferta esse primeiro disco cheio). É como se a banda só agora instigasse os impulsos elétricos através das suas notas e propusesse um “potencial de ação” a partir da sua música.

O quarteto formado em 2006 por Thivá Fróes (guitarra), Andres Araújo (baixo), Bruno Severo (guitarra) e Rubens Formiga (bateria) imagina que sua música vá fundo e estimule o ouvinte de maneira tão involuntária que isso se deva mais a intrincados processos biológicos do que a uma percepção cultural e vivencial.

Há de se ponderar que talvez toda a “cultura humana” foi construída de uma maneira que os estímulos sejam de fato basicamente involuntários – a noção do belo, mais do que “conceito”, definido por Aristóteles, a partir da ordem e simetria, abraçando uma ideia kantiana de que quando se afirma que algo é belo não é baseado num conceito que respeite essa afirmação, ainda que supostamente todo mundo compreenda tal conceito. Já o estímulo ao belo, essa é uma força que pode ser biológica, pois bombardeada por gerações e gerações de um determinado recorte de sociedade que induza a reagir de tal maneira diante daquilo que se considera belo.

Mas a biologia superficial e a filosofia rasteira aqui apresentadas não indicam se “Oh” Myelin”, em toda sua pretensão, é de fato uma obra boa – ou bela. Bem… É um disco de oito faixas, instrumental, viabilizado pelo post-rock que a banda tem preferência, que peca pela incapacidade de verdadeiramente estimular o ouvinte. Parece um ensaio gravado, muito bem ensaiado – o quarteto tem evidentemente uma sintonia invejável – e nada mais (a exceção é a exploração dos graves e do peso em “Turva (Noite)”, a melhor faixa).

O que falta à Tape Disaster nessa obra que invoca alguns estímulos mais profundos (e involuntários) do ser humano são momentos que causem no ouvinte justamente a explosão incontrolável que o título vende. As músicas são todas tão redondinhas e encaixadinhas que indicam mais exaustão do que inspiração (embora a inspiração seja um momento fugaz, como todos sabem).

São todos ótimos músicos (em especial o baterista Formiga), mas parecem presos e, talvez, mesmo que sabidamente não seja a proposta da banda, eles possam “se libertar” ao vivo, e alcançar a explosão sonora aqui ensaiada que produza o efeito dos tais “potenciais de ação”. A arte tem esse poder. A música tem esse poder. É certo que a Tape Disaster pode chegar lá.

O trabalho foi gravado durante um ano, de janeiro de 2016 a janeiro de 2017, em Porto Alegre, com produção da própria banda e de Sebba Carsin.

1. Le Satire
2. Condicionado
3. 3×4
4. A Sua Sorte
5. YOLT
6. Eu Não Vou Mais Voltar
7. Tsuru
8. Turva (Noite)

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