UM BILHÃO DE MOTIVOS PRA CELEBRAR A MÚSICA: AINDA É POUCO

Dia 6 de dezembro de 2016, o CEO do YouTube, Robert Kyncl, publicou um pequeno texto no blogue da empresa enaltecendo a quantia que o site de vídeos pagou pra indústria no ano que se encerra: um bilhão de dólares.

Acha muito? Pois representantes da indústria musical acharam uma ninharia. Querem mais. Muito mais.

“O ano passado foi brilhante pra música – após vários anos difíceis com receitas em declínio, a indústria começou a crescer novamente, estimulada em grande parte pelo crescimento dos assinantes de serviço de streaming“, escreveu Kyncl.

Ele tem razão. 2016 nem acabou ainda, mas o relatório preliminar da IFPI (sigla em inglês pra Federação Internacional da Indústria Fonográfica – veja aqui na íntegra) indica um crescimento de 3,2% nos ganhos, com as vendas digitais contribuindo com 45% do montante e passando pela primeira vez na história as vendas físicas, que contribuíram com 39%. Os serviços de streaming contribuem com 3,2% do montante (um crescimento de 45% de um ano pra cá).

O tamanho do mercado total? Quinze bilhões de dólares.

Desses quinze bi, o YouTube contribuiu com um bi, o bilhão que dá título ao artigo de Kyncl, “um bilhão de motivos pra celebrar a música no YouTube”.

“A indústria tem ainda mais razões para ser otimista”, ele continua. “Mesmo que as assinaturas de música tenham crescido mais rápido do que qualquer outro tipo de assinatura, a publicidade é outro poderoso motor de receita. De fato, nos últimos doze meses, o YouTube pagou mais de um bilhão de dólares pra indústria da música, apenas com publicidade, demonstrando que várias experiências e modelos estão acontecendo lado a lado uns dos outros”.

“E isso é só o começo. À medida que mais dólares migrem da publicidade da TV, rádio e impressos pra sites, a indústria da música vai gerar ainda mais receita. No futuro, o negócio da música tem uma oportunidade de se assemelhar muito à televisão, onde as assinaturas e a publicidade contribuem com quantidades quase iguais de receita, reforçadas pelas vendas físicas e digitais. Pra conseguir isso, há muito trabalho que deve ser feito pelo YouTube e pela indústria como um todo, mas estamos entusiasmados”, analisou ainda.

A resposta da IFPI não foi animadora, pelo contrário. Um artigo escrito no site da organização já demonstra a insatisfação logo no título: “O pagamento do YouTube à indústria musical – não há razão pra celebrar”.

A razão do desconforto é matemático: “os números desses pagamentos são inexplicáveis. Com oitocentos milhões de usuários de música em todo o mundo, o YouTube está gerando receitas de pouco mais de um dólar por usuário durante todo o ano”, diz a resposta.

Um dólar e vinte e cinco centavos por ano, pra ser mais exato, ou dez centavos por mês por usuário. Ninguém fica feliz com tal quantia.

“Isso é nada em comparação à receita gerada por outros serviços, como Apple, Deezer ou Spotify. Por exemplo, em 2015, o Spotify sozinho pagou à indústria cerca de dois bilhões de dólares, num montante de usuários bem menor, o que dá algo em torno de dezoito dólares por usuário por ano”, segue o comunicado curtíssimo (e seco), finalizando de maneira direta: “o YouTube, o maior serviço de música on-demand, não está pagando aos artistas e produtores uma quantia justa. Isso só destaca ainda mais a necessidade de ações legislativas pra lidar com o ‘baixo valor’ de retorno pelo trabalho deles”.

O cerne da questão aqui está nessa última frase. A IFPI quer literalmente mudar a lei de “porto seguro” (“safe harbour”), que diz que o YouTube e sites similares não podem ser penalizados quando usuários publicam material protegido por direito autoral, incluindo discos completos, que é uma das maiores procuras no YouTUbe, desde que tal material seja retirado do ar pelo usuário assim que solicitado. Mais do que isso, a IFPI acusa o YouTube de não se esforçar o suficiente pra rastrear e apagar tais materiais publicados.

Artistas como ABBA, Lady Gaga, Paul McCartney, Metallica, Coldplay e outros têm insistentemente escrito e apelado pros parlamentares estadunidenses pra que mudem a lei. Tudo com o apoio e a orientação da IFPI, é claro.

Os próximos capítulos prometem ser ainda mais intrigantes. É que o YouTube está em vias de precisar renovar os acordos com as três maiores etiquetas da indústria, Warner, Sony e Universal. Os dois lados vão medir forças nessa negociação e ver quem pode mais.

A briga de gente grande tem argumentos hipócritas, como bem sabem artistas, compositores, produtores e intérpretes. A indústria briga por mais milhões alegando que os artistas não recebem um valor “justo” pelo seu trabalho. O caso é que independente do que a indústria venha ganhar, seja nos serviços digitais, seja nas vendas ou seja nos novos acordos de reparte publicitário de sites como o YouTube, os artistas ainda vão ficar com a menor parte desses ganhos. Normalmente, com centavos de centavos.

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