VÍDEO: RUÍDO/MM – PETIT PAVÉ

É possível que o espectador mais atento perceba a semelhança deste clipe pra um bem conhecido.

O novo vídeo do ruído/mm, “Petit Pavé”, lançado nesse dia 22 de maio de 2013 simultaneamente em vários sites, tem um parentesco visual bem próximo ao de “House Of Cards”, do Radiohead, como é possível lembrar aqui.

É algo compreensível, como se verá a seguir.

“Petit Pavé” tinha o desafio de, segundo o diretor e editor Fábio Allon, buscar “algo que dialogasse com a música num sentido mais atmosférico”. Parece óbvio, já que a música é atmosférica bastante pra induzir a esse raciocínio.

Mas “atmosférico” é um adjetivo um tanto complexo e amplo. Allon conseguiu fugir do óbvio, partindo pra “videodança” e pro uso de uma tecnologia nova por essas praias: “identificamos uma vontade comum de trabalhar as imagens num sentido sensorial, ora mais cerebral, ora mais catártico, seguindo as linhas e camadas instrumentais que vão se revelando e se sobrepondo durante sua duração. Nossa gama de referências pesquisadas foi bem ampla (desde vídeos de terror, imagens do espaço sideral captadas pela Nasa, testes de escanerização tridimensional de objetos, imagens de campos eletromagnéticos e semicondutores, etc)”.

Ele segue: “a partir destas pesquisas, (…) decidimos assumir o risco de mergulhar numa tecnologia até então não dominada por nenhum de nós: a captação de imagens via kinect (aquela câmera do videogame X-Box que, através de um sensor infravermelho faz uma varredura tridimensional do espaço e capta os movimentos do jogador). Usando um software livre desenvolvido por pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology), captamos imagens de uma dançarina num ferro-velho e posteriormente as manipulamos num ambiente tridimensional, decompondo suas formas até que restassem apenas vestígios de sua presença”.

O resultado é fabuloso, belo por conta dos movimentos, mas macabro por conta das imagens que se formam nas linhas.

“Petit Pavé” faz parte do sensacional “Introdução À Cortina Do Sótão”, disco lançado em 2011 e é o segundo vídeo retirado do trabalho (o primeiro foi “Zarabatana”).

Veja aqui – e leia abaixo a longa e válida explicação conceitual completa do vídeo (por Fábio Allon):

“Último clipe do projeto ‘Radar Curitiba – Imagens e Sons’, realizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Curitiba, o videoclipe de ‘Petit Pavé’ partiu do conceito de videodança e do uso de algum tipo de tecnologia que nos desafiasse enquanto técnicos criadores. Desde o início buscávamos algo que dialogasse com a música num sentido mais atmosférico. Identificamos uma vontade comum de trabalhar as imagens num sentido sensorial, ora mais cerebral, ora mais catártico, seguindo as linhas e camadas instrumentais que vão se revelando e se sobrepondo durante sua duração. Nossa gama de referências pesquisadas foi bem ampla (desde vídeos de terror, imagens do espaço sideral captadas pela Nasa, testes de escanerização tridimensional de objetos, imagens de campos eletromagnéticos e semicondutores, etc), até que aos poucos fomos sintetizando essas ideias para resolvê-las enquanto proposta de videoclipe. A partir destas pesquisas, nos dedicamos então a encontrar uma forma de casar nossa proposta ‘temática’ – a videodança – e nossas referências estéticas selecionadas – formas mais abstratas. Decidimos assumir o risco de mergulhar numa tecnologia até então não dominada por nenhum de nós: a captação de imagens via kinect (aquela câmera do videogame X-Box que, através de um sensor infravermelho faz uma varredura tridimensional do espaço e capta os movimentos do jogador). Usando um software livre desenvolvido por pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology), captamos imagens de uma dançarina num ferro-velho e posteriormente as manipulamos num ambiente tridimensional, decompondo suas formas até que restassem apenas vestígios de sua presença. Num desdobramento de ‘Ponto e Linha sobre o Plano’, do russo Wassily Kandinsky, investimos numa forma de abrir uma veia de comunicação direta com o espectador através de um universo minimalista formado apenas de linhas e pontos oriundos de suas intersecções. Este conceito estético bem simples do clipe estabeleceu suas bases temáticas na luta deste corpo para ganhar forma em meio às amarras de linhas das quais surge, nas quais se debate para ter seus momentos de respiro e liberdade e para as quais forçadamente acaba sendo tragado de volta. Neste sentido, o clipe foi trabalhado ao longo da música em momentos distintos, criando-se seções com agrupamentos de informações, com um começo mais enxuto, mais mântrico mesmo, em que o espectador é levado de maneira mais cerebral a desvendar este emaranhado de linhas que se apresenta. Cada paisagem é explorada por mais tempo, numa busca de ordem no caos para que este mundo abstrato vá aos poucos ganhando forma e o ritmo passe a dominar, até que irrompam momentos mais catárticos de iluminação nas partes mais distorcidas da música, onde se criam paisagens mais sensoriais e onde nossa dançarina resplandece e seu corpo toma forma em sua plenitude, marcando assim divisões de forma incisiva. Entre estas partes, no que chamamos de mundo transitório da música, trabalhamos bastante com o conceito de mixagem e sobreposição de canais, com um nível de ruído ocupando mais ou menos o espaço de diagramação da tela e isolando grupos de informação estética, criando uma identidade distinta das outras partes, permitindo uma conexão mais sinestésica em vários pontos e inclusive aumentando o ritmo de cortes de forma à imprimir, pela velocidade, uma percepção mais direta mesmo, bem como aumentando as sobreposições no crescente, saturando a tela de informação até ela ficar muito clara/branca e desembocar no trecho final. Paralelamente, o nível de excitação das linhas em determinados momentos é trabalhado para que entre em vibração com a música. Ao final o mundo abstrato toma as rédeas e o corpo se dissolve novamente em linhas… Pelo uso de uma tecnologia de captação e manipulação de imagens ainda não muito explorado pelas bandas de cá, o resultado visual do clipe acaba sendo bem peculiar se distanciando um pouco do que estamos habitualmente acostumados a ver em termos de videoclipes nacionais”.

Leia mais:

Comentários

comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.