WALLACE COSTA – MOTH

É difícil não se curvar ao talento e à persistência de Wallace Costa. Ao leitor assíduo do site, devo parecer repetitivo, já que é uma afirmação que sempre faço quando de um novo lançamento dele – e “Moth” é o segundo de 2016 sob esse nome (antes, em maio, ele lançou “Written By The Bombs”, e ainda vem um novo trabalho do seu Frozen Institute por aí).

O caso é que Costa, sozinho e sem apoio algum – nem mesmo da imprensa subterrânea, dos blogues e afins – segue produzindo em alta qualidade, com canções de serrar o coração em pedaços miúdos. Mesmo que ninguém ouça, mesmo que ninguém dê a menor pelota.

Em “Moth”, temos mais um exemplo de um punhado de canções deliciosamente sofridas, de beleza outonal, frieza ríspida por vezes, mas de leveza insuspeita (vá e volte a “Lepidoptera”). A voz de Costa segue tão sussurrante (talvez pela limitação) quanto apaziguante. Sua guitarra e violão seguem dilacerantes de veias e glândulas (lacrimais, principalmente).

Suas composições em inglês talvez falem de algum propósito, e isso é o que menos importa. Ao autor não cabe o clichê do “vendaval de emoções”, embora os solitários possam se aproximar disso. A ele é mais apropriada a figura da mente que transborda desabafos. É como se ele vivesse isolado em algum canto que não fosse nessa dimensão e quisesse companhia, desejasse repartir o sossego, a solidão, as angústias, a felicidade, o inverno, o que seja com alguém.

Daí ele se arranha em guitarra com “Erebidae” e assopra com “Dynamite”, assim como sensualiza em “Noctuoidea”. Está tudo aí – como estava nos discos anteriores – e certamente estará nos (muitos) próximos álbuns que ainda virão.

E ele faz tudo sozinho, lá na dimensão dele: escreve, produz, grava, mixa, masteriza, compila e lança. Só não faz a divulgação – e sabe-se lá o motivo. Wallace parece querer ficar lá, mas gostaria que mais gente estivesse com ele. Como resolver esse dilema? Lançando discos como “Moth” (ou, simplesmente: compondo, gravando e lançando qualquer disco que ele queira lançar).

Assim, como nos trabalhos anteriores, não há exatamente uma música de destaque ou algo que vá grudar na nossa memória acostumado=a a refrões e rifes fáceis da música comercial. Tampouco há a ousadia de um ou outro experimentalismo. Há só o mundo extra-dimensional de Wallace Costa. Um mundo que todo mundo precisa explorar um pouco, vez por outra.

O disco saiu dia 17 de setembro de 2016, via Acácio Records, do próprio artista.

01. These Days
02. Lepidoptera
03. Waves
04. Erebidae
05. Dynamite
06. Fake Pillow
07. Invertebrate Love
08. Cards
09. Noctuoidea
10. Lunatics
11. Between
12. When My Life Is Gone

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