WARMEST WINTER – THE WORLD IS A TERRIBLE PLACE YET I’M A TERRIFIED OF DYING

O saudosismo é uma arma poderosa. E eu digo isso sem nenhuma intenção terceira a não ser assinalar o poder que tem sobre mim mesmo. Quem viveu os conturbados anos 1980, principalmente aqui no Brasil, saindo de uma ditadura militar, transitando pra uma democracia de coronelismo, em primeira instância, observava uma abertura inclusive de costumes um tanto tímida.

Embora o topless tenha se tornado comum nas praias como símbolo de libertação, as novelas passassem a ter certo tom crítico e a música jovem finalmente tenha conquistado a dianteira (com Legião Urbana, RPM, Capital Inicial, Titãs, Barão Vermelho e outros), ainda estávamos encarcerados numa prisão de produção cultural. De fora, pelo difícil acesso, a música ainda chegava através de poucos privilegiados – por ser cara e por ser rara.

Bandas como The Cure, Smiths, Bauhaus, Joy Division, Sonic Youth, REM, eram inacessíveis, salvo algumas rádios, algumas lojas, e pouca gente conhecia o caminho. E, todo mundo sabe, quando mais raro e difícil, mais interessante parece ser o alvo.

Não é de se estranhar que tantas bandas dos subterrâneos brasileiros no novo século, o XXI, tenham voltado seus olhos, ouvidos e corações pra aqueles dias. Não são poucas as que reverenciam o pós-punk, o shoegaze, o proto-indie. Há não só saudosismo na conta (muitas bandas nem sequer viveram a época), mas também uma apreciação genuína.

O caso dos fluminenses (de Niterói) da Warmest Winter, logo nos primeiros acordes de “Inferno Multicor”, que vão um pouco mais a frente, tateando o Interpol (que por sua vez já era saudosista), logo depois se embrenhando num misto de Joy Division com Jesus & Mary Chain e Loop, mostram que a coisa é séria.

“The World Is A Terrible Place Yet I’m Terrified Of Dying”, o disco, é uma fuga de qualquer pretensão de originalidade ou de caráter inovador. Parece o bom ensaio de uma banda cover – o início da faixa-título parece uma cópia mais grave de “The Hanging Garden”, do The Cure, antes do vocal sujo e vibrante entrar.

Faixa a faixa, parece que o Warmest Winter está apresentando a si próprio na forma de referências. É possível até pensar em Felt, nas acessível “We Should Go Out Tonight”, música pra assobiar e balançar o corpo.

O disco é um singelo catálogo de referências daquela época, um passeio ao passado sem nenhuma preocupação de atualização. Mesmo porque não se faz necessário. É um quadro empoeirado pra se observar quando se tem saudade de algo que não volta mais. Embora possa parecer um cenário bem triste e depressivo, há de se ressaltar que nem toda saudade é carregada de tristeza.

O ponto negativo do disco é sua produção, assinada pela própria banda (com mixagem e masterização de João Carvalho). Os vocais desafinados (em “Mary Ann” chegam a irritar) e equalização tosca dão uma má impressão que a obra não merecia.

Vale ainda um elogio à bela capa, assinada por Julia Debasse.

A Warmest Winter tem Tiago Duarte Dias (vocal e guitarra), Denny Visser (vocal e guitarra), Daniel Velluntini (bateria e guitarra) e Luiz Badia (baixo). Este é o primeiro álbum cheio da banda, que já lançou dois EPs, “Warmest Winter” (2015, ouça aqui), e “I Feel Your Absence” (2016, ouça aqui).

O disco foi lançado dia 2 de agosto de 2018, numa parceria entre os selos Lo-Slow Records e Salitre Records.

1. Inferno Multicor
2. The World Is A Terrible Place Yet I’m Terrified Of Dying
3. We Should Go Out Tonight
4. Mary Ann
5. Mother
6. Rotten Apples On An Untended Orchard
7. Broken People
8. I Might Be Losing Control (But God Forbid Me I’d Show)

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