OS ÚLTIMOS 50 ANOS DE CARNAVAL EM 80 SAMBAS DE ENREDO

O samba de enredo não encontra mais apoio nem mesmo entre a crítica especializada: virou um carro de F1 acelerado, em alta velocidade, sempre prestes a se esborrachar na lógica. Mas nem sempre foi assim. Os sambas de enredo do carnaval do Rio de Janeiro já produziram muita coisa boa, importante, memorável, irretocável, divertida e inesquecível.

Produziu músicas que ficaram no ideário popular, que se expandiram pro cotidiano das pessoas, músicas pop que eram (são). Nos últimos cinquenta anos, passou por todo tipo de cenário político e social e tentou, de uma forma ou de outra, traduzir isso de uma maneira alegre e descontraída, bem como muitas vezes crítica.

As oitenta músicas aqui listadas (totalizando seis horas (!) de música – e poderiam ser, sem muito esforço, cem sambas) são um retrato do nosso país nesse período e de como o samba evoluiu (ou se degradou, com a comercialização e industrialização).

É um estilo que só existe no Brasil e só existe pra uma finalidade, num momento. É algo único e aqui estão oitenta das mais importantes peças do estilo, em ordem cronológica, com o nome dos autores, a colocação na apuração do desfile do ano e com rápidas notas históricas sobre cada um.

Divirta-se:

(a descrição de cada faixa está abaixo):

001.
Samba de enredo: Carnaval Das Ilusões
Escola: Vila Isabel
Ano: 1967
Autor: Martinho da Vila e Gemeu
Classificação: 4ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Primeiro samba de enredo escrito por Martinho da Vila pra Vila Isabel; Chico Buarque foi jurado nos desfiles e só deu nota baixa para a escola, dizem até que Chico dormiu durante o evento; então, em resposta, Martinho compôs “Ciranda, Cirandinha”, cuja letra alfinetava “Caramba, caramba, nem o Chico entendeu o enredo do meu samba”

002.
Samba de enredo: Tronco Do Ipê
Escola: Portela
Ano: 1968
Autor: Cabana
Classificação: 4ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Em plena ditadura, o samba, disfarçado de exaltação à cultura nacional (José de Alencar), alertava pras diferenças sociais e pra violência do Estado

003.
Samba de enredo: Heróis Da Liberdade
Escola: Império Serrano
Ano: 1969
Autor: Silas de Oliveira, Mano Décio e Manoel Ferreira
Classificação: 4ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Saúda a abolição da escravatura

004.
Samba de enredo: Lendas E Mistérios Da Amazônia
Escola: Portela
Ano: 1970
Autor: Catoni, Jabolo e Waltenir
Classificação: Campeã (Grupo 1/Especial)
Nota: Tem o famoso refrão “Ô esquindô lá, lá / Ô esquindô lê, lê / Olha só quem vem lá / É o saci pererê”, sucesso nas rádios cariocas no ano

005.
Samba de enredo: Festa Para Um Rei Negro
Escola: Salgueiro
Ano: 1971
Autor: Zuzuca
Classificação: Campeã (Grupo 1/Especial)
Nota: “O-lê-lê, ô-lá-lá / Pega no ganzê, Pega no ganzá” foi o grande refrão daquele ano no carnaval do Rio e ainda hoje é lembrado (até a torcida do Barcelona canta nas arquibancadas)

006.
Samba de enredo: Samba Do Crioulo Doido – Homenagem A Sérgio Porto
Escola: Unidos De Padre Miguel
Ano: 1971
Autor: Nelson Oliveira e Duduca da Aliança
Classificação: 10ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: A sátira da sátira: “Samba Do Crioulo Doido”, de Sérgio Porto/Stanislaw Ponte Preta, ironiza a “obrigatoriedade” das escolas em retratar só fatos históricos, e foi um enorme sucesso na peça de sua autoria, com ajuda da interpretação de Mussum

007.
Samba de enredo: Nossa Madrinha, Mangueira Querida
Escola: Salgueiro
Ano: 1972
Autor: Zuzuca
Classificação: 5ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Música com letra muito simples, fez enorme sucesso nas rádios, com o refrão “Tengo-Tengo / Santo Antônio, Chalé / Minha gente /É muito samba no pé!”. Foi a última vez que uma escola homenageou outra

008.
Samba de enredo: Lendas Do Abaeté
Escola: Mangueira
Ano: 1973
Autor: Jajá, Preto Rico e Manuel
Classificação: Campeã (Grupo 1/Especial)
Nota: Mais um refrão que ficou na memória popular: “Janaína agô, agoiá / Janaína agô, agoiá / Samba curimba com a força de Iemanjá”

009.
Samba de enredo: O Mundo Melhor De Pixinguinha
Escola: Portela
Ano: 1974
Autor: Jair Amorim, Evaldo Gouveia e Velha
Classificação: 2ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Clara Nunes foi uma das intérpretes do samba e ajudou a popularizar a música (bem como havia feito com “Ilu Ayê, A Terra Da Vida”, em 1972, também da Portela

010.
Samba de enredo: A Morte Da Porta-Estandarte
Escola: Imperatriz Leopoldinense
Ano: 1975
Autor: Wálter da Imperatriz, Nélson Lima, Caxambu e Denir Lobo
Classificação: 8ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Não teve nenhum apelo popular, mas foi o último samba a colocar a palavra “morte” em seu título; baseado no conto homônimo e de grande sucesso de Aníbal Machado

011.
Samba de enredo: Festa Do Círio De Nazaré
Escola: São Carlos (Estácio De Sá)
Ano: 1975
Autor: Dario Marciano, Aderbal Moreira e Nilo “Esmera” Mendes
Classificação: 10ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Samba que acabou tendo inesperado sucesso, mesmo sem uma letra de apelo popular; acabou regravado em 2004, pela Viradouro, com o nome de “Pediu Pra Pará, Parou! Com A Viradouro Eu Vou Pro Círio De Nazaré”

012.
Samba de enredo: Sonhar Com Rei Da Leão
Escola: Beija-Flor
Ano: 1976
Autor: Neguinho da Beija-Flor
Classificação: Campeã (Grupo 1/Especial)
Nota: Apenas três anos após subir ao Grupo 1 (Especial), a Beija-Flor, conhecida até aqui apenas por enredos chapa-branca, apoiadores da ditadura, mudou o foco, falou de um tema popular (o jogo do bicho), com uma letra engraçada e divertida, e acabou campeã pela primeira vez (e ganharia mais dois campeonatos na sequência, em 1977 e 1978); foi o primeiro samba interpretado na escola por Neguinho da Beija-Flor

013.
Samba de enredo: No Reino Da Mãe Do Ouro
Escola: Mangueira
Ano: 1976
Autor: Tolito e Rubem da Mangueira
Classificação: 2ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: “Oba bá, ola, oba bá / É a mãe do ouro / Que vem nos salvar” foi um refrão de grande sucesso no carnaval desse ano

014.
Samba de enredo: A Lenda Das Sereias, Rainhas Do Mar
Escola: Império Serrano
Ano: 1976
Autor: Dionel Sampaio, Vicente Matos e Arlindo Veloso
Classificação: 7ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: A música ultrapassou o carnaval e foi regravada por vozes da MPB, como Clara Nunes e Marisa Monte (que não cantou a parte que cita o Império, por ela ser portelense); o Floga-se falou da canção num artigo especial, clique aqui; o samba foi regravado em 2006, pela Inocente De Belfort, Roxo e em 2009, de novo pelo Império Serrano, mas com o nome de “A Lenda Das Sereias E Os Mistérios Do Mar”

015.
Samba de enredo: Domingo
Escola: União Da Ilha
Ano: 1977
Autor: Aurinho da Ilha, Ione do Nascimento, Ademar Vinhaes, Waldir da Vala
Classificação: 3ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Primeiro da série de sambas de enredo que a União Da Ilha viria incrustar no ideário popular na década seguinte: simplicidade, alegria, a cultura popular do Rio de Janeiro e o samba como protagonistas

016.
Samba de enredo: O Amanhã
Escola: União Da Ilha
Ano: 1978
Autor: João Sérgio e Baeta “Didi” Neves (não assinado)
Classificação: 4ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Um dos grandes sucessos da música popular brasileira em todos os tempos, principalmente depois que Simone regravou, em 1983 (no disco “Delírios, Delícias”); Elizeth Cardoso também gravou a música, ainda em 1978, no disco “A Cantadeira Do Amor” (numa versão bem diferente da original)

017.
Samba de enredo: O Que Será
Escola: União Da Ilha
Ano: 1979
Autor: Aroldo “Melodia” Forde e Baeta “Didi” Neves
Classificação: 5ª colocada (Grupo 1A/Especial)
Nota: Uma espécie de “Samba Do Crioulo Doido”, de Didi e Aroldo Melodia, satirizando as escolas que escolhem sempre os mesmos temas pra apresentar na avenida

018.
Samba de enredo: Hoje Tem Marmelada
Escola: Portela
Ano: 1980
Autor: David Correa, Norival Reis e Jorge Macedo
Classificação: Campeã (Grupo 1A/Especial)
Nota: Em 1980, a Portela foi campeã junto com a Beija-Flor (“O Sol Da Meia-Noite, Uma Viagem Ao País Das Maravilhas”) e a Imperatriz Leopoldinense (“O Que É Que A Bahia Tem”)

019.
Samba de enredo: O Teu Cabelo Não Nega
Escola: Imperatriz Leopoldinense
Ano: 1981
Autor: Gibi, Serjão e Zé Catimba
Classificação: Campeã (Grupo 1A/Especial)
Nota: O samba se refere à famosa marchinha assinada por Lamartine Babo, na virada de 1929 pra 1930 (“o teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor”), e que foi alvo de uma disputa na Justiça por parte dos irmãos Valença, João e Raul, de Pernambuco, que enviaram a partitura à gravadora Victor, no Rio de Janeiro; a gravadora havia pedido a Lamartine que alterasse a letra pra ficar mais acessível aos cariocas, mas não creditou os pernambucanos; os irmãos ganharam a disputa por direitos autorais e a versão famosa tem assinatura dos três; porém, Sérgio Cabral alega, em “Pixinguinha, Vida E Obra”, que foi Pixinguinha quem arranjou a versão modificada no Rio de Janeiro e não Lamartine; no samba da Imperatriz não faz menção nem aos autores pernambucanos, nem a Pernambuco e muito menos a Pixinguinha, só mesmo a Lamartine

020.
Samba de enredo: Bum-bum Paticumbum Prugurundum
Escola: Império Serrano
Ano: 1982
Autor: Beto Sem Braço e Aluísio Machado
Classificação: Campeã (Grupo 1A/Especial)
Nota: Última vez que o Império Serrano, tradicionalíssima escola, ganhou um título; a letra é de uma genialidade ímpar, colocando desde o título, uma onomatopeia do batuque, até o refrão, que apresenta um a um os instrumentos (“Com reco-reco, pandeiro e tamborim / E lindas baianas o samba ficou assim”), uma exaltação única ao samba e ao carnaval, ao mesmo tempo em que critica a crescente industrialização dos desfiles (que iria piorar muito, mal sabia o Império), com a famosa passagem “Super Escolas de Samba S/A / Super alegorias / Escondendo gente bamba / Que covardia!”

021.
Samba de enredo: É Hoje!
Escola: União Da Ilha
Ano: 1982
Autor: Baeta “Didi” Neves e Mestrinho
Classificação: 5ª colocada (Grupo 1A/Especial)
Nota: Mais um samba da União Da Ilha que ultrapassa as fronteiras do carnaval pra cair no ideário popular, com várias regravações, de Caetano Veloso a Fernanda Abreu; o enredo é baseado na obra do cartunista Lan; a própria União Da Ilha regravou em 2008, no desfile de acesso

022.
Samba de enredo: A Grande Constelação Das Estrelas Negras
Escola: Beija-Flor
Ano: 1983
Autor: Neguinho da Beija-Flor e Nêgo
Classificação: Campeã (Grupo 1A/Especial)
Nota: Foi o último desfile na antiga Rua Marquês de Sapucaí, no ano seguinte, nasceria o famoso Sambódromo, a “Passarela do Samba”, que abriga até hoje os desfiles

023.
Samba de enredo: Contos De Areia
Escola: Portela
Ano: 1984
Autor: Dedé da Portela e Norival Reis
Classificação: Campeã (Grupo 1A/Especial)
Nota: Último título da Portela (até o compartilhado de 2017, com a Mocidade), a maior vencedora do carnaval carioca; foi o primeiro desfile no formato atual, dividido em dois dias e no atual Sambódromo (a “Passarela do Samba”), mas como uma bizarra diferença: como arrumaram jurados diferentes pra cada dia, resolveu-se declarar uma campeã do domingo e uma campeã da segunda, usando o sábado seguinte, o “das campeãs”, pra disputa de um “supercampeonato”, título que acabou ficando com a Mangueira e seu “Yes, Nós Temos Braguinha”; a aberração do “supercampeonato” e das duas campeãs, uma pra domingo e uma pra segunda, nunca mais se repetiu; outra curiosidade foi que a Rede Globo não transmitiu os desfiles desse ano, cabendo a tarefa à recém-inaugurada TV Manchete, que bateu a Globo em audiência no domingo e na segunda – a Globo nunca mais, depois disso, deixou de transmitir os desfiles, não importando o custo financeiro

024.
Samba de enredo: E Por Falar Em Saudade…
Escola: Caprichosos De Pilares
Ano: 1985
Autor: Almir Araújo, Marquinhos Lessa, Hércules Corrêa, Balinha e Carlinhos de Pilares
Classificação: 5ª colocada (Grupo 1A/Especial)
Nota: Talvez seja o samba mais famoso da Caprichosos, que assumiu um discurso escrachado e bastante crítico sobre a crise profunda em que o país estava metido na “redemocratização” no fim da ditadura (“Diretamente, o povo escolhia o presidente / Se comia mais feijão / Vovó botava a poupança no colchão / Hoje está tudo mudado / Tem muita gente no lugar errado…”)

025.
Samba de enredo: Eu Quero
Escola: Império Serrano
Ano: 1986
Autor: Aluísio Machado, Luiz Carlos do Cavaco e Jorge Nóbrega
Classificação: 3ª colocada (Grupo 1A/Especial)
Nota: “Eu Quero” não disfarça o repúdio à ditadura, num refrão matador (“Me dá, me dá / Me dá o que é meu / Foram vinte anos que alguém comeu”… “Cessou a tempestade, é tempo de bonança / Dona Liberdade chegou junto com a esperança”) e passagens bem diretas sobre os desejos do povo (“Quero o nosso povo bem nutrido / O país desenvolvido / Quero paz e moradia / Chega de ganhar tão pouco / Chega de sufoco e de covardia”), incluindo o fim da censura (“Quero me formar bem informado / E meu filho bem letrado”)

026.
Samba de enredo: O Tititi Do Sapoti
Escola: Estácio De Sá
Ano: 1987
Autor: Darcy do Nascimento, Djalma Branco e Dominguinhos do Estácio
Classificação: 4ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: São Carlos virou Estácio De Sá em 1983 e esse samba se tornou seu maior ícone desde então, grande sucesso popular; a própria escola regravou o samba em 2007

027.
Samba de enredo: Kizomba, Festa Da Raça
Escola: Vila Isabel
Ano: 1988
Autor: Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila
Classificação: Campeã (Grupo 1/Especial)
Nota: O primeiro título da Vila Isabel veio com um samba com a assinatura de Luiz Carlos da Vila; é o samba mais famoso da escola até hoje

028.
Samba de enredo: 100 Anos De Liberdade, Realidade Ou Ilusão?
Escola: Mangueira
Ano: 1988
Autor: Hélio Turco, Jurandir e Alvinho
Classificação: 2ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Um dos sambas da Mangueira preferidos de Beth Carvalho, que já o gravou, bem como Dudu Nobre

029.
Samba de enredo: Aquarilha Do Brasil
Escola: União Da Ilha
Ano: 1988
Autor: Robertinho Devagar e Marcio André
Classificação: 6ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Em homenagem a Ary Barroso, tem o escracho ideal pra estreia de Quinho como intérprete da União da Ilha, no lugar do simbólico Aroldo Melodia

030.
Samba de enredo: Conta Outra Que Essa Foi Boa
Escola: Imperatriz
Ano: 1988
Autor: Robertinho Devagar e Marcio André
Classificação: 14ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Uma das letras mais irônicas sobre os governos, atirando contra os marajás (cujo “combate” elegeu no ano seguinte Fernando Collor – “Eu quero / É poder ser marajá / Gozar a vida / Pra vida não vir me gozar”), a Assembleia Constituinte daquele ano, a ferrovia Norte-Sul, obra faraônica do governo José Sarney, contra “o mito” das eleições, Pedro Álvares Cabral e até a abolição da escravatura, com um refrão curto e grosso: “Quá, quá, quá / Você caiu caiu / É brincadeira / É primeiro de abril”); a escola ficou em último lugar, mas nesse ano não teve rebaixamento, de modo que a Imperatriz pôde ser campeã no ano seguinte

031.
Samba de enredo: Liberdade, Liberdade, Abre As Asas sobre Nós
Escola: Imperatriz
Ano: 1989
Autor: Niltinho Tristeza, Preto Jóia, Vicentinho e Jurandir
Classificação: Campeã (Grupo 1/Especial)
Nota: Inaugurando o reinado da Imperatriz (foram seis título em treze anos), o samba contrasta com o esculacho do ano anterior (“Conta Outra Que Essa Foi Boa”), tratando com seriedade o tema da escravidão, embora sem questionamento algum sobre as consequências de como o ato aconteceu; o tema principal era a Proclamação da República

032.
Samba de enredo: Ratos E Urubus, Larguem Minha Fantasia
Escola: Beija-Flor
Ano: 1989
Autor: Betinho, Glyvaldo, Zé Maria e Osmar
Classificação: 2ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Um dos desfiles mais polêmicos da história, Joãosinho Trinta teve que cobrir seu Cristo com um plástico preto, já que estava proibido de aparecer, por conta de uma ação judicial pedida pela Igreja, e ofereceu uma antológica ala de mendigos puxada por ele numa roupa de gari e vassoura em mãos; o Cristo trazia a inscrição “mesmo proibido, olhai por nós”, e os mendigos eram convocados com uma enorme placa “mendigos, a Sapucaí é vossa”

033.
Samba de enredo: Festa Profana
Escola: União Da Ilha
Ano: 1989
Autor: J. Brito e Bujão
Classificação: 3ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: “Festa Profana” foi um enorme sucesso popular, mas também rendeu uma grande polêmica: a modelo Enoli Lara, então com 39 anos, desfilou completamente nua, só coberta com um véu (que não cobria obviamente nada), de modo que a LIESA, a Liga das Escolas de Samba, baixou uma norma que a partir do ano seguinte era proibido aquilo que chamou de “genitália desnuda”; isso era uma “festa profana” na essência

034.
Samba de enredo: Trinca De Reis
Escola: Mangueira
Ano: 1989
Autor: Fandinho, Ney e Adilson do Violão
Classificação: 11ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: Primoroso samba no ato de contar a história – dos reis da noite carioca – e ainda apresenta o bordão inicial “madeira de dar em doido é jequitibá / deixa a Mangueira passar”, de Beth Carvalho

035.
Samba de enredo: Rio, Samba, Amor e Tradição
Escola: Tradição
Ano: 1989
Autor: João Nogueira e Paulo César Pinheiro
Classificação: 16ª colocada (Grupo 1/Especial)
Nota: De autoria de João Nogueira, é um dos mais belos sambas de enredo da história, exaltando o Rio de Janeiro e o carnaval; a escola acabou rebaixada nesse ano (foram cinco escolas rebaixadas, incluindo o divertidíssimo “Vida Que Te Quero Viva”, da Unidos Da Ponte)

036.
Samba de enredo: Todo Mundo Nasceu Nu
Escola: Beija-Flor
Ano: 1990
Autor: Betinho, Jorginho, Bira e Aparecida
Classificação: 2ª colocada (Grupo Especial)
Nota: O samba foi inspirado na bizarra proibição da LIESA ao nu na avenida (por conta do episódio com Enoli Lara, em “Festa Profana”, da União Da Ilha, em 1989); então, Joãosinho Trinta provocou, colocando o ator Jorge Lafond todo nu, coberto só com purpurina, o que fez a LIESA mudar a regra de proibição da “genitália desnuda” pra “genitália desnuda, pintada ou decorada”; o samba também é provocação

037.
Samba de enredo: E O Samba Sambou…
Escola: São Clemente
Ano: 1990
Autor: Helinho 107, Mais Velho, Nino e Chocolate
Classificação: 6ª colocada (Grupo Especial)
Nota: A São Clemente sempre foi conhecida pela crítica ferina à própria indústria do samba, mas aqui ela atingiu seu ápice, metendo o dedo na ferida (“É fantástico / Virou Hollywood isso aqui / Luzes, câmeras e som / Mil artistas na Sapucaí / Mas o show tem que continuar / E muita gente ainda pode faturar / Hoje o samba é dirigido com sabor comercial / Carnavalescos e destaques vaidosos / Dirigentes poderosos criam tanta confusão / E o samba vai perdendo a tradição”)

038.
Samba de enredo: Me Masso Se Não Passo Pela Rua Do Ouvidor
Escola: Salgueiro
Ano: 1991
Autor: Sereno, Luiz Fernando e Diogo
Classificação: 2ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Este samba é conhecido como “um ensaio” pro grande “Peguei Um Ita No Norte”, campeão no ano seguinte: a estrutura bem parecida, mas sem um refrão matador

039.
Samba de enredo: De Bar Em Bar, Didi, Um Poeta
Escola: União Da Ilha
Ano: 1991
Autor: Franco
Classificação: 9ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Uma homenagem Gustavo Adolfo Carvalho Baêta Neves, o Didi, autor de sambas antológicos da União Da Ilha (como “É Hoje”, “O Amanhã”, “O Que Será”); Didi era jurista que largou a profissão pra viver no samba, sendo até hoje o autor de mais sambas que foram à avenida, vinte e quatro, sendo dezesseis pela União Da Ilha, quatro pelo Salgueiro e quatro pela Boi Da Ilha; “Hoje eu vou tomar um porre / Não me socorre / Eu tô feliz” são versos que os carnavalescos cantam até hoje (ou qualquer beberrão feliz por aí)

040.
Samba de enredo: Paulicéia Desvairada, 70 Anos De Modernismo No Brasil
Escola: Estácio De Sá
Ano: 1992
Autor: Djalma Branco, Déo, Maneco e Caruso
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: Único título da Estácio De Sá, curiosamente é um samba que exalta uma cidade que à época era zombeteiramente chamada de “túmulo do samba”, São Paulo

041.
Samba de enredo: Sonhar Não Custa Nada! Ou Quase Nada
Escola: Mocidade
Ano: 1992
Autor: Paulinho Mocidade, Dico da Viola e Moleque Silveira
Classificação: 2ª colocada (Grupo Especial)
Nota: São poucos os sambas que criam bordões, como esse criou o “sonhar não custa nada”; foi um samba também gravado por muita gente, de Emílio Santiago a Dudu Nobre

042.
Samba de enredo: Peguei Um Ita No Norte
Escola: Salgueiro
Ano: 1993
Autor: Demá Chagas, Arizão, Celso Trindade, Bala, Guaracy, Quinho
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: Ainda hoje se ouve nos estádios de futebol as torcidas cantando “Explode coração / Na maior felicidade / É lindo meu (insere aqui o nome do time) / Contagiando e sacudindo esta cidade”; o Salgueiro foi campeão depois de amargar dezoito anos de penúria e demoraria mais vinte e seis pra ganhar outro carnaval

043.
Samba de enredo: Atrás Da Verde E Rosa Só Não Vai Quem Já Morreu
Escola: Mangueira
Ano: 1994
Autor: Fernando de Lima, David Corrêa, Carlos Sena e Paulinho de Carvalho
Classificação: 11ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Um dos últimos sambas de enredo a fazer sucesso na rádio comercial, a música exalta os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa

044.
Samba de enredo: Gosto Que Me Enrosco
Escola: Portela
Ano: 1995
Autor: Noca da Portela, Colombo e Gelson
Classificação: 2ª colocada (Grupo Especial)
Nota: “É carnaval / O Rio abre as portas pra folia / É tempo de sambar / Mostrar ao mundo a nossa alegria” surgiu como convite e o é até hoje pra alegria momesca, com a Portela quase sendo campeã exaltando o carnaval

045.
Samba de enredo: Todo Dia É Dia De Índio
Escola: União Da Ilha
Ano: 1995
Autor: Almir da Ilha e Franco
Classificação: 11ª colocada (Grupo Especial)
Nota: A despeito do tema ser o índio, o samba marcou uma leveza dos sambas de salão, a inocência da fantasia “mais inocente”, como disse um crítico à época; foi o retorno do intérprete Aroldo Melodia à União Da Ilha

046.
Samba de enredo: Criador E Criatura
Escola: Mocidade
Ano: 1996
Autor: Beto Corrêa, Dico da Viola, Jefinho e Joãozinho
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: O último título da Mocidade (até o compartilhado com a Portela em 2017) veio com um samba que exalta a criação do universo e os inventores de modo geral; apesar do refrão meio inocente/infantil (“A mão que faz a bomba, faz o samba / Deus faz gente bamba / A bomba que explode o nesse carnaval / É a Mocidade levantando o seu astral”), ele ainda é lembrado por conta do efeito especial (de bomba) na gravação

047.
Samba de enredo: Verás Que Um Filho Teu Não Foge à Luta
Escola: Império Serrano
Ano: 1996
Autor: Aluísio Machado, Lula, Beto Pernarda, Arlindo Cruz e Índio do Império
Classificação: 6ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Arlindo Cruz é um dos que assinam esse samba, que tem mais cara de pagode (no ótimo sentido) do que de samba de enredo, em homenagem ao sociólogo Betinho na luta contra a fome, com uma letra tão perfurante (“Quem é pobre tá com fome / Quem é rico tá com medo”) quanto poética (“Junte um sorriso meu, um abraço teu / Vamos temperar / Uma porção de fé, sei que vai dar pé / Não vai desandar / Amasse o que é ruim, e a massa enfim / Vai se libertar / Sirva um prato cheio de amor / Pro Brasil se alimentar”), que ainda cabe no Brasil de 2017

048.
Samba de enredo: Trevas! Luz! A Explosão Do Universo
Escola: Viradouro
Ano: 1997
Autor: Dominguinhos do Estácio, Mocotó, Flavinho Machado e Heraldo Faria
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: O único título da Viradouro, que é de Niterói, veio com uma inovação surpreendente nesse samba sobre a criação do universo: a batida funk que a bateria apresenta na segunda passagem do refrão antológico “Vou cair na gandaia, com a minha bateria! / No balanço da mulata, a explosão de alegria”; outras escolas imitaram a batida nos anos seguintes; foi o último título do carnavalesco Joãosinho Trinta

049.
Samba de enredo: Orfeu, O Negro Do Carnaval
Escola: Viradouro
Ano: 1998
Autor: Gilberto Gomes, Mocotó, Gustavo, P.C. Portugal, Dadinho
Classificação: 5ª colocada (Grupo Especial)
Nota: O mito de Orfeu foi considerado um samba e um carnaval melhor do que o anterior que deu o título à Viradouro

050.
Samba de enredo: Brilha No Céu A Estrela Que Me Faz Sonhar
Escola: Mocidade
Ano: 1998
Autor: Joãozinho, Guinna, Muca e J. Brito
Classificação: 6ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Esse samba tem uma das melhores introduções de todos os tempos, com a bateria da Mocidade mostrando toda a sua potência e ritmo

051.
Samba de enredo: O Século Do Samba
Escola: Mangueira
Ano: 1999
Autor: Adalberto, Jocelino e Jerônimo
Classificação: 7ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Esse samba é curioso porque a Mangueira tenta enaltecer a virada do século pra depois se dar conta de que cientificamente, o século (e o milênio) só se encerrava em 31 de dezembro de 2000, ou seja, faltava ainda um ano; mesmo assim, a escola homenageou o “século do samba”, listando seus grandes compositores

052.
Samba de enredo: Quem Descobriu O Brasil, Foi Seu Cabral, No Dia 22 De Abril, Dois Meses Depois Do Carnaval
Escola: Imperatriz
Ano: 2000
Autor: Marquinhos Lessa, Guga, Tuninho Professor, Amaurizão e Chopinho
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: O ano de 2000 teve um acordo informal de que todas as escolas deveriam trazer enredos que falassem dos quinhentos anos do descobrimento do Brasil; nem todas foram por esse caminho, mas a maioria, sim, incluindo a campeã Imperatriz; o consenso é que é raro encontrar um samba inspirado nesse ano

053.
Samba de enredo: A Seiva Da Vida
Escola: Mangueira
Ano: 2001
Autor: Marcelo D’Aguiã, Bizuca, Gilson Bernini e Clóvis Pê
Classificação: 3ª colocada (Grupo Especial)
Nota: A Mangueira inicia o século se enveredando totalmente ao passado, com boas doses de poesia (em cada um dos sambas é possível destacar frases poeticamente impressionantes), e esse samba é um exemplo: “É prometida esta terra! / Abençoado nosso chão / Onde a semente da paz é verde e rosa / E brota no meu coração”

054.
Samba de enredo: Brazil Com Z É Pra Cabra Da Peste, Brasil Com S É Nação Do Nordeste
Escola: Mangueira
Ano: 2002
Autor: Lequinho e Amendoim
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: Sempre que alguém fala sobre a futilidade ou o vazio dos sambas de enredo, cabe mostrar esses versos deste samba da Mangueira: “Padim, padre Ciço faça chover alegria / Pra que cada gota seja o pão de cada dia”

055.
Samba de enredo: Os Papagaios Amarelos Nas Terras Encantadas Do Maranhão
Escola: Grande Rio
Ano: 2002
Autor: Alailson Cruz e Agenor Neto
Classificação: 7ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Quinho empresta sua voz à Grande Rio pela primeira vez, num samba com letra divertidíssima (“Merci Beaucoup, au revoir / O índio nada entendeu / De ‘papagaios amarelos’ foi chamar”) e bateria arrasadora

056.
Samba de enredo: O Povo Conta A Sua História: Saco Vazio Não Para Em Pé, A Mão Que Faz A Guerra, Faz A Paz
Escola: Beija-Flor
Ano: 2003
Autor: Betinho, JC Coelho, Ribeirinho, Glyvaldo, Luis, Manoel, Serginho e Vinicius
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: Com a criação da Comissão De Carnaval, a Beija-Flor inaugurou sua fase mais vitoriosa, sendo o primeiro título dos sete que ganharia nos próximos treze anos vindo com esse samba poeticamente belíssimo e redentor; a música surgiu com a empolgação pela vitória de Lula pro seu primeiro mandato como presidente da República (Neguinho da Beija-Flor até usa o bordão da campanha “a esperança venceu o medo”), e a letra mostra vários exemplos de como o povo toma o poder e faz sua revolução (“Eu quero: liberdade, dignidade e união / Fui lata, hoje sou prata / Lixo, ouro da região / Chega de ganhar tão pouco / Tô no sufoco, vou desabafar / Pare com essa ganância, pois a tolerância / Pode se acabar…”)

057.
Samba de enredo: Nem Todo Pirata Tem Perna De Pau, O Olho De Vidro E A Cara De Mau
Escola: Imperatriz
Ano: 2003
Autor: Darcy do Nascimento, Brandãozinho, Rubens Napoleão e Jorge Rita
Classificação: 4ª colocada (Grupo Especial)
Nota: A letra desse samba e o ritmo remetem ao carnaval inocente e divertido dos salões (e matinês), os piratas e a pirataria como protagonistas (“Mas hoje quero ser / Pirata do prazer / Dançando um baile com você”); mas ainda sobra espaço pra uma leve (e inocente) crítica social (“Hoje a coisa ficou preta / Muito preta e com razão / Pirata se queixando de pirata / De terno e gravata na televisão”)

058.
Samba de enredo: Salgueiro, Minha Paixão, Minha Raiz – 50 Anos De Glória
Escola: Salgueiro
Ano: 2003
Autor: Leonel, Luizinho Professor, Serginho 20, Sidney Sã e Claudinho
Classificação: 7ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Cinquenta anos do Salgueiro cantados num samba que até hoje embala a quadra da escola

059.
Samba de enredo: Aquarela Brasileira
Escola: Império Serrano
Ano: 2004
Autor: Silas De Oliveira
Classificação: 9ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Com o regulamento da LIESA passando a permitir regravações de sambas anteriores, o Império Serrano resgatou aquele que é conhecido com o mais bonito e popular samba de enredo da história, “Aquarela Brasileira”, de Silas de Oliveira, originalmente pro carnaval de 1964, quando terminou em quarto lugar

060.
Samba de enredo: Singrando Em Mares Bravios… E Construindo O Futuro
Escola: Vila Isabel
Ano: 2005
Autor: André Diniz, Prof. Newtão, Sidney Sã e Miguel Bedê
Classificação: 10ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Foi o último carnaval de Joãosinho Trinta, que teve dois AVCs em 2006 e ficou impossibilitado de criar até sua morte, em 17 de dezembro de 2011; esse samba é um dos sambas mais inspirados da Vila Isabel nesse novo milênio

061.
Samba de enredo: Das Águas Do São Francisco, Nasce Um Rio De Esperança
Escola: Mangueira
Ano: 2006
Autor: Henrique Gomes, Gilson Bernini e Cosminho
Classificação: 4ª colocada (Grupo Especial)
Nota: O último samba de enredo interpretado e defendido por José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão, que morreria 14 de junho de 2008, aos 95 anos, cinquenta e sete deles dedicados à Mangueira

062.
Samba de enredo: Microcosmos: O Que Os Olhos Não Vêem, O Coração Sente
Escola: Salgueiro
Ano: 2006
Autor: Moisés, Waltinho, Fernando, Paulo, Tiãozinho, ABS, Leonel, Luizinho e Quinho
Classificação: 11ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Falando sobre a insignificância do homem diante do universo, o Salgueiro trouxe uma bossa interessante nessa samba: a bateria, ao invés de oferecer uma paradinha padrão, pulsa como a batida de um coração

063.
Samba de enredo: Bendita És Tu Entre As Mulheres Do Brasil
Escola: Porto Da Pedra
Ano: 2006
Autor: Vadinho, Bento e Fernando Macaco
Classificação: 12ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Por algum motivo desconhecido, de 2004 em diante, num movimento que por sorte está arrefecendo, os sambas de enredo se enfiaram nos mais variados temas “politicamente corretos”; a Porto Da Pedra veio na onda falando sobre a mulher, mas numa conjunção boa de música e letra

064.
Samba de enredo: Candaces
Escola: Salgueiro
Ano: 2007
Autor: Dudu Botelho, Marcelo Motta, Zé Paulo e Luiz Pião
Classificação: 7ª colocada (Grupo Especial)
Nota: “Odoyá Iemanjá; Saluba Nanã! / Eparrei Oyá / Orayê Yê o, Oxum! / Oba Xi Oba”: incrível, mas a música pegou, com as pessoas cantando o que quisessem cantar; “Candaces” é uma dinastia de rainhas da África Oriental

065.
Samba de enredo: Teresinhaaa, Uhuhuuu! Vocês Querem Bacalhau?
Escola: Imperatriz
Ano: 2007
Autor: Merrenga, Xande, Sobrinho, Lula Inspiração, Bill Amizade e Aliomar
Classificação: 9ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Uma exceção nos temas “politicamente corretos” do período, este samba da Imperatriz é diversão pura

066.
Samba de enredo: É De Arrepiar
Escola: Viradouro
Ano: 2008
Autor: Fandinho, Ney e Adilson do Violão
Classificação: 7ª colocada (Grupo Especial)
Nota: A música fala de “arrepios”, do que faz a gente se arrepiar, a angústia do fim do Carnaval, “Bate outra vez o meu coração / Pois já vai terminando o verão”, um sentimento deprê que bate em quase todo mundo que gosta de Carnaval, o que é bem curioso pra um enredo de samba

067.
Samba de enredo: Tambor
Escola: Salgueiro
Ano: 2009
Autor: Moisés Santiago, Paulo Shell, Leandro Costa e Tatiana Leite
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: Curto e grosso: o tema é o coração do samba, de uma escola, do carnaval – o tambor, os instrumentos de batuque; embora o samba não seja eficaz em transformar a bela ideia em inovações e criatividade, como aconteceu com “Bum-bum Paticumbum Prugurundum”, do Império Serrano 1982

068.
Samba de enredo: É Segredo
Escola: Unidos Da Tijuca
Ano: 2010
Autor: Julio Alves, Marcelo e Totonho
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: Apesar dos versos não encaixarem muito bem na melodia (repare que a parte “não conto a ninguém”, em “É segredo, não conto a ninguém”, é um tanto corrida), o samba empolgou, muito por conta das estripulias que Paulo Barros, o carnavalesco sensação e surpreendente, aprontava ao vivo na avenida

069.
Samba de enredo: Noël: A Presença Do “Poeta Da Vila”
Escola: Vila Isabel
Ano: 2010
Autor: Martinho da Vila
Classificação: 4ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Um samba de Martinho da Vila que é mais história do que poesia

070.
Samba de enredo: A Simplicidade De Um Rei
Escola: Beija-Flor
Ano: 2011
Autor: Samir Trindade, Serginho Aguiar, JR. Beija-Flor, Sidney de Pilares, Jorginho Moreira, Théo M. Netto, Mourão e Cleber
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: Apesar dos protestos de que a escola só foi campeã por conta de uma suposta ajuda da Rede Globo (a lógica dos detratores é que Roberto Carlos, o homenageado, é contratado da emissora), o samba é grudento, bonito, simples e direto (“Meu Beija-Flor chegou a hora / De botar pra fora a felicidade / Da alegria de falar do Rei / E mostrar pro mundo essa simplicidade”), uma aula de samba-exaltação

071.
Samba de enredo: Salgueiro Apresenta: O Rio No Cinema
Escola: Salgueiro
Ano: 2011
Autor: Dudu Botelho, Miudinho, Anderson Benson e Luiz Pião
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: A exemplo da exaltação a Roberto Carlos, feita pela Beija-Flor, a exaltação do Salgueiro ao cinema carioca também é divertidíssima – o King Kong no relógio da Central é o ponto alto, bem como a Furiosa (apelido da bateira) mandando o “bebop”

072.
Samba de enredo: São Luís – O Poema Encantado Do Maranhão
Escola: Beijo-Flor
Ano: 2012
Autor: Comissão de carnaval
Classificação: 4ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Normalmente, sambas que exaltam uma cidade ou um estado não são muito atraente ou poéticos, mas aqui a Beija-Flor conseguiu proezas com versos como “Hoje a minha lágrima transborda todo mar / Fonte que a saudade não secou”, e solução simples como “Meu São Luís do Maranhão / Poema encantado de amor / Onde canta o sabiá / Hoje canta a Beija-flor!”

073.
Samba de enredo: Uma Aventura Musical Na Sapucaí
Escola: São Clemente
Ano: 2012
Autor: Ricardo Góes, Serginho Machado, Marcos Antunes, FM, Guguinha, Vânia e Flavinho Segal
Classificação: 11ª colocada (Grupo Especial)
Nota: “Tem bububu no bobobó / Sem sassarico é o “ó” / Bumbum de fora, pernas pro ar / Bravo, a São Clemente vai passar!” é uma forma da escola de afrouxar a tensão dos temas politicamente corretos dos carnavais do novo milênio; não pegou, porque os carnavais dificilmente pegam nos novos tempos, com ou sem a ajuda (cada vez menor) das rádios

074.
Samba de enredo: Madureira… Onde O Meu Coração Se Deixou Levar
Escola: Portela
Ano: 2013
Autor: Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento e André do Posto 7
Classificação: 7ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Exemplo de como os sambas de enredo são acelerados nos tempos modernos – muitos componentes na escola pra passar pelo mesmo tempo na avenida -, mesmo assim os autores tentaram encaixar um refrão que fosse fácil de pegar (“O batuque ginga ioiô / Ginga Iaiá”)

075.
Samba de enredo: É Brinquedo, É Brincadeira: A Ilha Vai Levantar Poeira!
Escola: União Da Ilha
Ano: 2014
Autor: Paulinho Poeta, Régis, Gabriel Fraga, Carlinhos Fuzil, Canindé e Flávio Pires
Classificação: 4ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Uma das melhores letras dos últimos tempos – do século pra União Da Ilha, certamente – por conta das sacadas poéticas simples (“Vem no reino da ilusão, me dê a sua mão / E pegue na estante, um livro fascinante / Personagens da imaginação”); levantou a Sapucaí como há muito não se via

076.
Samba de enredo: Favela
Escola: São Clemente
Ano: 2014
Autor: Ricardo Góes, Serginho Machado, Grey, Anderson, FM e Flavinho Segal
Classificação: 11ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Um samba otimista, embora escape das tradições da São Clemente, de ser crítico com o Carnaval

077.
Samba de enredo: Se O Mundo Fosse Acabar, Me Diz O Que Você Faria Se Só Lhe Restasse Um Dia?
Escola: Mocidade
Ano: 2015
Autor: Ricardo Mendonça, Tio Bira, Anderson Viana e Lúcio Naval
Classificação: 7ª colocada (Grupo Especial)
Nota: O tema originalíssimo não encontrou um desfile à altura (apesar de estar nas mãos de Paulo Barros), tampouco um samba que abraçasse a originalidade, mesmo assim é divertido, com um refrão bastante carnavalesco “Invade… Se joga… Na felicidade /
Fazendo a vontade do seu coração / Hoje é o dia.. vem se acabar / Deixa a Mocidade te levar!”

078.
Samba de enredo: Beleza Pura?
Escola: União Da Ilha
Ano: 2015
Autor: Djalma Falcão, Carlos Caetano, Gugu das Candongas, Beto Mascarenhas, Roger Linhares e Marco Moreno
Classificação: 9ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Um exemplo do politicamente correto desse milênio, mas a União Da Ilha sempre dá suas debochadas, e aqui o refrão se encarregou disso: “Lá vem ela toda prosa, gostosa fiu, fiu / A beleza tá no seu interior, nos olhos de quem vê / No verdadeiro amor”

079.
Samba de enredo: Maria Bethânia, A Menina Dos Olhos De Oyá
Escola: Mangueira
Ano: 2016
Autor: Alemão do Cavaco, Almyr, Cadu, Lacyr D Mangueira, Paulinho Bandolim e Renan Brandão
Classificação: Campeã (Grupo Especial)
Nota: “Quem me chamou… Mangueira / Chegou a hora, não dá mais pra segurar / Quem me chamou… Chamou pra sambar / Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá / Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá” foi o grande refrão do ano

080.
Samba de enredo: Iracema, A Virgem Dos Lábios De Mel
Escola: Beija-Flor
Ano: 2017
Autor: Claudemir, Maurição, Ronaldo Barcellos, Bruno Ribas, Fábio Alemão, Wilson Tatá, Alan Vinicius, Betinho Santos
Classificação: 6ª colocada (Grupo Especial)
Nota: Há muito não havia um samba tão “redondo” quanto esse: paradinhas (na segunda passagem), viradas, um refrão pegajoso, mesmo com muitos termos em tupi e mesmo com a extensa duração

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  1. […] OS ÚLTIMOS 50 ANOS DE CARNAVAL EM 80 SAMBAS DE ENREDO | FLOGA-SE. O samba de enredo não encontra mais apoio nem mesmo entre a crítica especializada: virou um carro de F1 acelerado, em alta velocidade, sempre prestes a se esborrachar na lógica. Mas nem sempre foi assim. Os sambas de enredo do carnaval do Rio de Janeiro já produziram muita coisa boa, importante, memorável, irretocável, divertida e inesquecível. […]

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