PENSE OU DANCE: SERIA O BANDCAMP A MELHOR PLATAFORMA PRO ARTISTA?

– Atualização em maio de 2016 –

O Bandcamp divulgou e seu blogue oficial os números atualizados da empreitada. Segundo a nota, o serviço cresceu 35% em 2015. “Os fãs pagam US$ 4,3 milhões por mês aos artistas usando o site, e ele compram algo em torno de vinte e cinco mil discos por dia, o que dá um disco a cada quatro segundos. Perto de seis milhões de usuários compraram música pelo Bandcamp (metade deles tem menos de trinta anos), e centenas de milhares de artistas venderam música no Bandcamp. As vendas digitais no site aumentaram 14% em 2015, enquanto caíram 3% na indústria; a venda de faixas subiu 11%, enquanto caíram 13% na indústria; vinil cresceu 40%; cassetes, 49%… Mais importante que tudo, Bandcamp tem sido rentável desde 2012”.

A nota ainda dá um puxão de orelhas nos “concorrentes” (de fato, não há concorrentes diretos ainda pro Bandcamp): “os serviços de streaming baseados em assinaturas, por outro lado, ainda precisam provar que são um modelo viável, mesmo depois de milhões de dólares investidos”.

Essa é uma nota oficial, divulgada pra comunidade e pra investidores. É auditável entre eles, de modo que deve ser verdade (não devem ser números “inflados”). O Bandcamp tem como crédito, tem a seu favor, o fato de ser um modelo justo ao usuário e ao artista, gerando renda também à empresa, como ferramente de tecnologia e não se vendendo na “falácia dos milhões” de músicas.

Vai dar certo pra sempre? Não dá pra saber. Sem dar grandes voos, sem nenhum concorrente incomodando, a plataforma tende a perdurar. Ou como eles mesmos dizem: “estamos aqui desde 2008 e pretendemos estar aqui em 2028”. É provável.

O grande problema enfrentado pelos músicos é como fazer de sua arte algo rentável. Já era difícil pros independentes na era da indústria forte, do vinil ao CD, continua difícil depois que esses intermediários foram substituídos por intermediários de tecnologia.

Mas há, à margem do alarde que as grandes corporações fazem com os serviços de streaming (bom pra velha indústria, bom pro usuário, quase sempre nulo pro artista), uma alternativa já solidificada, mas ainda pouco discutida, voltada a artistas independentes ou até mesmo a quem leva a música apenas como hobby, o Bandcamp.

A plataforma divulgou em 6 de março de 2015 uma pequena nota que mostra sua força como alternativa de utilização pelos independentes. Mas antes de falar disso, vamos voltar a 14 de julho de 2010.

Cinco anos atrás, a companhia anunciava que nos primeiros seis meses do ano, os usuários-músicos haviam usado a plataforma pra vender mais de um milhão de dólares em música diretamente aos usuários-fãs. Um bom exemplo de impacto notável dessa nova via é que a violoncelista Zoë Keating acabou entrando em sétimo lugar na lista dos mais vendidos da Billboard em música clássica só com vendas do Bandcamp: “sem iTunes, sem gravadora”. Ok, é uma exceção.

Até agosto de 2010, a empresa estadunidense, que havia sido fundada em 2007 por Ethan Diamond e Shawn Grunberger e pelos programadores Joe Holt e Neal Tucker, e que havia lançado a plataforma online em 2008, não ficava com porcentagem nenhuma das vendas. A partir de então, fica com 15% de tudo o que é vendido no site, e diminui essa taxa a 10% se as vendas chegarem a cinco mil dólares.

Comparando com o iTunes, que dá aos artistas em média menos que 10% das vendas (ou seja, o iTunes fica com mais de 90% de toda transação); e com as plataformas de streaming, que pagam menos de dez centavos de dólar por execução de música (a serem divididos com os donos dos direitos da obra), dá pra imaginar o quão interessante soa o Bandcamp a um artista independente.

Pois no anúncio de março de 2015, a empresa avisava que os fãs já “dão aos artistas três milhões e meio de dólares por mês, com a compra de dezesseis mil discos por dia, o que quer dizer algo em torno de um disco a cada cinco segundos, durante as vinte e quatro horas do dia, os trezentos e sessenta e cinco dias do ano”. Isso dá, em um ano, quarenta e dois milhões de dólares – da parte que cabe aos artistas.

Duvida que venda tudo isso? Clique nesse endereço e veja em tempo real o que está sendo vendido no Bandcamp, por quanto e em qual país.

Enquanto as vendas da indústria oscilam (leia esse artigo), o Bandcamp apresentou um crescimento em 2014 de 30% em vendas.

Não há caridade aqui. É negócio. Se ficam quarenta e dois milhões de dólares num ano pros artistas, ficam quatro milhões e meio pra companhia gerenciar (basicamente manter estável) um site que não tem propaganda e não cobra nada pra que o artista suba suas músicas.

Parece o melhor dos mundos, mas a gente sabe que não é. Mesmo aqui, ficar rico ou viver de música é bem difícil, beirando o impossível. Isso porque a empresa só dá a plataforma e não faz praticamente mais nada. A divulgação e o gerenciamento de cada página depende dos próprios artistas ou selos. O Bandcamp é só um intermediário mais justo e uma boa alternativa pra quem não tinha nada. É uma via direta de diálogo comercial entre artista e fã. É mais uma alternativa de monetização – não pode ser vista como a única.

E, afinal de contas, matematicamente, receber essa quantia milionária de dólares por mês, na hora do rateio, ainda sobra muito pouco ao músico. O Bandcamp não oferece um average de quanto recebem os artistas, o que seria uma informação bem valiosa.

Entretanto é um dinheiro limpo, direto pro bolso do artista, algo bem difícil no comércio musical. É como colocar sua banquinha de CDs na Internet. Cada caraminguá vale.

A má notícia aos brasileiros é que esses números não servem pro Brasil. Embora existam músicos brasileiros que vendam sua obra pelo Bandcamp, ainda não há por aqui a cultura de pagar por obras de artistas independentes. Se o download não estiver de graça no Bandcamp, o brasileiro vai buscar outra forma de conseguir a obra, ou ficar só no streaming oferecido pela plataforma. Mas aí é um problema cultural.

A alternativa aparentemente justa está aí, ela existe.

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