STEPHEN MALKMUS & THE JICKS NO BECO 203 – COMO FOI

O produtor não há de concordar comigo. Longe disso. Mas o show do Stephen Malkmus dessa segunda-feira, dia 29 de abril de 2013, é o tipo de show ideal pra qualquer pagante, principalmente pros fãs.

Havia na plateia do Beco 203 pouco mais de cem pessoas. Quando Malkmus e sua turma subiram ao diminuto palco, aquela apresentação virou algo tão íntimo quanto possível a um artista dessa envergadura, com bate-papo tête-à-tête com quem se prestasse a fazer piadinhas, pedir músicas ou trocar comentários com a banda.

O próprio Malkmus alertou a todos sobre o caráter de exclusividade do show, logo no início: “esse é que é o show bacana; amanhã não deverá ser tão legal, então bom pra vocês por terem vindo hoje”.

Sim. O show da terça seria com aquele esquema open bar, onde o bar, as bebidas e o bate-papo são mais importantes do que a música. Nada contra, mas em termos de comparação, Malkmus tem razão.

Ótimo pros fãs, que ficaram perto o suficiente do ídolo, cujo Pavement entregou ao mundo uma ninhada de bandas lo-fi, inspiradas no despojamento e intenções pouco detalhistas das canções.

Um desses filhotes estava ali, abrindo o show pros Jicks. Era a John Candy, carioca com um excelente álbum de 2012, “Dreamscape”. Antes dela, a The Concept, quarteto paulistano cheio de melodias embebidas em noise (prejudicada pelo som que não demarcava justamente os ruídos).


O show da Concept, curto como seria o da John Candy, foi digno: seis músicas, incluindo uma versão pra sensacional “Rollercoaster”, do 13th Floor Elevators (que o Spacemen 3 um dia tratou de torná-la clássica), e uma música poucas vezes mostrada antes, “A Smile At The End”, que você pode ouvir abaixo.

Mas havia pouquíssimas pessoas ainda pra ver os paulistanos. Mais do que isso, um comportamento estranho que se vê em shows de abertura: as pessoas repelem o palco, se afastam da banda, ficam a uma “distância segura”, sabe-se lá o motivo.

Quem chegou depois ou ficou de bate-papo, deixou de curtir uma boa apresentação.

01. All These Words
02. Truth Telegram
03. A Smile At The End
04. Your Way
05. Rollercoaster (13th Floor Elevators cover)
06. Wrong Way

“A Smile At The End”:

A John Candy é uma banda com influências certas e bastante perceptíveis, uma mistura bem dosada de Teenage Fanclub e Pavement. Se em disco, isso pende mais ao Teenage Fanclub, ao vivo, as guitarras destacam “uma distorção” a mais que os aproxima da banda principal do protagonista da noite.

Apesar disso, o quarteto apresentou a cover de “Tugboat”, do Galaxie 500 – que tem tudo a ver, claro.


O público já era aquele que veria os Jicks logo mais, só que disperso. Quem prestou atenção, ouviu uma boa amostra do “Dreamscape” ao vivo: guitarras acima dos vocais sussurrados e uma bateria intensa. “In A Bad Fix”, “Lie On Someone Song” e “Anyway, Anywhere, Anyhow”, as três melhores do disco, se fizeram presentes, e eu que, confesso, estava mais afim de ver a John Candy do que o próprio Stephen Malkmus, fiquei satisfeito.

01. In A Bad Fix
02. Lie On Someone Song
03. Heart In Black
04. Last Night I Lost Last Night
05. F(X) Luv
06. Anyway, Anywhere, Anyhow
07. Synesthesia
08. Tugboat (Galaxie 500 cover)

“In A Bad Fix”:

“Lie On Someone Song”:

Quando Malkmus subiu ao palco, sem alarde, se deparou com uma plateia sedenta, acumulada ali a sua frente, em detrimento dos grandes espaços vazios atrás da massa. Ele parece ter se empolgado com a situação: sabia que era segunda-feira e que aquele pessoal estava fazendo alguma espécie de esforço pra estar ali pra vê-lo. Alguns artistas reconhecem isso. Malkmus é um desses e tratou de levar o show como se todas aquelas pessoas estivessem no estúdio dele, vendo sua banda ensaiar.

Conversava, ria, tirava sarro (mais uma vez o Smashing Pumpkins foi alvo, lembrando a última passagem do Pavement por aqui, no Planeta Terra) e mostrava sua habilidade como guitarrista, bom no improviso, com a charmosa baixista Joanna Bolme, o guitarrista e tecladista Mike Clark (os dois da formação que esteve no Brasil em 2002) e com o atual baterista Jake Morris no suporte.

Metade das músicas apresentadas são do mais recente disco, “Mirror Traffic”, de 2011. Todas elas empolgaram os presentes; junto com as mais quentes “(Do Not Feed The) Oyster” e “Animal Midnight”, do segundo disco, “Pig Lib”, de 2003, cantadas por várias vozes; e duas inéditas, “Houston Ladies” e “Flower Children”.

No palco, Malkmus é um sujeito aparentemente tímido. Ele não fica ao centro. Joanna toma essa posição. Ele se mete no canto, mas sabe que os holofotes, olhos e suspiros são pra ele e suas (duas) guitarras. Mostra habilidade em solos nada circenses, insere pequenas passagens blueseiras, improvisa ao final das canções, com a banda olhando em reverência, tentando acompanhá-lo o mais discretamente possível, pra despertar e ser novamente o Malkmus que não inventa moda.



Com os Jicks, ele sabe que jamais terá o influência que teve com o Pavement e até presenteia a plateia no bis com “Speak, See, Remember”, mas parece que é com aqueles companheiros que ele mais se diverte.

No Beco, na noite de segunda-feira, mesmo pra desespero financeiro do produtor do show, aquelas poucas pessoas presentes se divertiram com ele, fizeram parte do rol de amigos de Malkmus.

Todo show podia ser assim.

01. Jojo’s Jacket
02. Forever 28
03. No One Is (As I Are Be)
04. Stick Figures In Love
05. Out Of Reaches
06. Tigers
07. Flower Children
08. (Do Not Feed The) Oyster
09. Spazz
10. Vanessa From Queens
11. Houston Ladies
12. Animal Midnight
13. Asking Price
14. Brain Gallop
15. Us

BIS
16. Speak, See, Remember (Pavement cover)
17. Senator

“Forever 28”:

“Spazz”:

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