4 DISCOS: TRANSPARENTE INTENSO, GARDENS & VILLA, CETICÊNCIAS, FANFARLO

TRANSPARENTE INTENSO – “MAR”

Wallace Costa é prolífico. Tem a mesma “doença” da profusão criativa que Lê Almeida, um dos seus comparsas musicais. Transparente Intenso é mais um dos seus codinomes artísticos – aqui, baseado apenas em voz e violão (e outros apetrechos). “Mar” é o segundo disco, sucedendo “Quase Cor”, de 2013. São dezessete músicas entre um e dois minutos, salvo uma ou outra exceção. É um disco leve, quase uníssono, que pode cansar ou passar desapercebido durante a execução, mesmo repetida.

Mas quem prestar atenção de fato, e o disco merece, pode se surpreender com as texturas sutis e psicodélicas de Costa em algumas passagens, como em “Já Sabemos”. Ao longo do disco, há apreços regionalistas interioranos (note a deliciosa trilha sonora pra fogueira que é “Tranquilidade”), base no folk (na mais longa faixa, “Oceano”, “Arranhão”, na linda “Em Comum” e muitas outras) e divertidos devaneios (“Ah Ah Ah”).

Wallace certamente faz música pra ele e só pra ele. Compõe, executa, grava e joga na Internet, sem a menor estratégia de divulgação. Espera que os bons ventos levem sua criação por entre as montanhas, onde ela deve ser apreciada. Infelizmente, não é suficiente e não será atendido. Os ouvidos da massa não estão atentos nessa direção. Mas ele não desiste, em breve vem mais por aí: há um oceano de boas canções a sair de sua mente.

NOTA: 7,0
Lançamento: 1º de fevereiro de 2014
Duração: 32 minutos e 58 segundos
Selo: Independente
Produção: Wallace Costa
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GARDENS & VILLA – “DUNES”

Lá se vão três anos desde o Gardens & Villa, de Santa Barbara, Esteites, abriu shows pro Foster The People e ganhou narizes retorcidos dos indies por isso. Em 2011, a banda lançou seu primeiro disco, homônimo, e depois embarcou em uma turnê com o Shins e o Fanfarlo, sempre como coadjuvante. Em 2014, finalmente chega com “Dunes”, seu novo trabalho, ainda sem se preocupar em ser protagonista de nada.

É um synthpop radiofônico sem inovações, mas agradável na medida que é desencanado e que o ouvinte não espere muito. Tem em “Domino” um bom tema candidato a sucesso, e em “Chrysanthemums” e “Purple Mesas”, baladinhas pra FMs. O quinteto assume sua vocação pop sem pudores, com elaboração oitentista, pra agradar os menos exigentes, porém (errrr…) sofisticados (vale ouvir “Echosassy”).

Se a MTV ainda existisse nos moldes em que nos acostumamos a gostar, “Dunes” flutuaria entre o Lado B de Massari e o Disk das Cucas da vida.

NOTA: 6,0
Lançamento: 4 de fevereiro de 2014
Duração: 39 minutos e 13 segundos
Selo: Secretly Canadian
Produção: Tim Goldsworthy
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CETICÊNCIAS – “BRANCO EP”

Electronic, experimental, IDM. Pra entender o Ceticências de Cadu Tenório e Sávio de Queiroz, é preciso estar familiarizado com algumas dessas etiquetas. Ou não (com o perdão do caetanismo). É que, por mais estranho que pareça, o Ceticências é bem acessível aos ouvidos acostumados a beats quaisquer – só são mais lentos, quebrados e soturnos; não são beats pra pistas de dança, nem pra carros turbinados, mas são beats apreciáceis.

O uso das batidas metálicas confere um gracejo industrial ao trabalho que soa informal, passeando por improvisos que certamente não são improvisos – o ouvinte é que precisa compreender do que se trata, essa forma circular e hipnótica de prender a atenção.

“Branco” é o EP que chega depois de um ano bem eficiente pro Ceticências, com os ótimos e elogiados “Issamu Minami” e “Lua”. Desde esse último, com uma diferença: Cadu não está mais sozinho na viagem, agora tem ao seu lado Sávio Queiroz. “Branco”, com apenas duas músicas, passa a limpo a parceria, tira a prova, e se mostra muito bom na proposta. A mente flutua, gira, entra no ritmo das batidas dos dois. É electronic music pra entrar em transe.

NOTA: 8,0
Lançamento: 4 de fevereiro de 2014
Duração: 12 minutos e 23 segundos
Selo: Independente
Produção: Cadu Tenório e Sávio de Queiroz
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FANFARLO – “LET’S GO EXTINCT”

A própria banda diz que mudou, apontando o nariz pros anos 1980. Mas até chegar lá, o fã do Fanfarlo terá uma grata surpresa: “Let’s Go Extinct” começa bem melhor do que todoo chatinho “Rooms Filled With Light”, de 2012. “Life In The Sky”, “Cell Song” e “Myth Of Myself (A Ruse To Exploit Our Weaknesses)” são três bons exemplos de que o lado sensível dos londrinos continua intocável. Belas paisagens folk-modernosas seguras com a voz festejante de Simon Balthazar. Já valem o disco.

A partir daí, foram inundados por um Duran Duran que nem o Duran Duran quer mais ser. “A Distance”, “We’re The Future”, “The Beginning And The End” e “Landlocked”, essa última com elementos de world music e passagens interessantes, não combinam com o DNA do Fanfarlo. Não parecem nem retrô, nem modernas, mas também não podem ser acusadas de intenções escusas radiofônicas.

“Let’s Go Extinct”, o terceiro disco do Fanfarlo, é bem intencionado, ao explorar novas sonoridades “e o apocalipse”, como diz a banda. A intenção é boa, nenhum artista pode ficar na mesma, nos dias de hoje, com o perigo de ser esquecido, ser extinto. Sóq ue fica nisso. O disco melhora com seguidas audições e apresenta um avanço na comparação com o anterior. Mas fica um ranço de “não colou”.

NOTA: 5,0
Lançamento: 11 de fevereiro de 2014
Duração: 47 minutos e 32 segundos
Selo: Blue Horizon
Produção: David Wrench e Fanfarlo
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